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4 de novembro de 2016
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18:11

Pezão reassume governo com pacote amargo para reverter crise no Rio

Por
Sul 21
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Pezão reassume governo com pacote amargo para reverter crise no Rio
Pezão reassume governo com pacote amargo para reverter crise no Rio
Primeiro aceno nesse sentido está sendo organizado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão | Foto: Tomaz Silva/ABR/Fotos Públicas
Foto: Tomaz Silva/ABR/Fotos Públicas

Maurício Thuswohl

Da RBA

Após sete meses e meio licenciado do cargo, período em que fez tratamento contra um câncer no sistema linfático, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), reassumiu na quinta-feira (3) a rotina de trabalho no Palácio Guanabara sem tempo para comemorar. Obrigado a enfrentar uma crise orçamentária que colocou o Estado em situação de semifalência, afetando o pagamento a servidores e fornecedores, interrompendo programas sociais e comprometendo seriamente o andamento das principais políticas públicas do governo, Pezão anunciou nesta sexta (4) um pacote de austeridade que, segundo ele mesmo, tem o objetivo de evitar que, ao final de seu mandato, em dezembro de 2018, o rombo nas contas fluminenses o faça ser lembrado nos livros de história como o governador que faliu o Rio.

Mas, mesmo que consiga fugir desta sina, Pezão propõe medidas amargas e impopulares, algumas com efeito imediato e outras que ainda dependem da aprovação dos deputados estaduais e só entrariam em vigor no ano que vem. Entre as medidas que mexem diretamente no bolso do trabalhador, a mais urgente, segundo o governo, é o aumento de 11% para 14% da alíquota de desconto previdenciário dos servidores da ativa e dos inativos que ganham acima de R$ 5.189,82.

Estes pagariam ainda uma alíquota complementar de 16% a título de “redução do déficit previdenciário”, o que eleva o aumento do desconto pretendido pelo governo a 30% dos salários. Se aprovada, a medida atingirá também aposentados e pensionistas que ganham menos do que R$ 5.189,82 e atualmente estão isentos de contribuição previdenciária. A contribuição deste último grupo seria temporária, segundo a proposta, com duração de 16 meses.

Outras medidas previstas que impactarão diretamente o salário dos servidores entrarão em vigor por meio de decretos do governador, como o estabelecimento de um teto para reajustes – que não mais poderão exceder o patamar de 70% do crescimento da receita corrente líquida do ano anterior – e a redução de 30% no valor das gratificações recebidas pelos cargos comissionados. Para dar o exemplo, segundo o governo, os salários de Pezão, do vice-governador Francisco Dornelles e de todos os secretários também sofrerão corte de 30% a partir de 1º de janeiro de 2017.

Pezão ainda não sabe como o Estado fará para pagar em dia o salário de dezembro e o 13º salário dos servidores, aposentados e pensionistas. “Cada dia será um dia de sacrifício e luta para honrarmos os compromissos do governo. Não adianta eu ir à Brasília para pedir dinheiro. O que eu preciso é resolver o problema orçamentário estrutural do estado do Rio”, disse o governador.

Neste início de novembro, a dificuldade para o pagamento de salários atingiu pela primeira vez os servidores do Judiciário que, até agora, eram os únicos ainda poupados dos atrasos. A categoria está em greve desde a semana passada.

O pacote de Pezão também prevê que Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas do Estado (TCE), Ministério Público Estadual (MPE), Assembleia Legislativa (Alerj) e Defensoria Pública usem até 50% da receita de seus fundos para cobrir o pagamento de salários dos servidores que atuam nesses órgãos.

Esta medida, que também duraria por 16 meses, precisa ser aprovada na Alerj e já conta com a oposição das associações de classe. Outra medida que promete gerar resistência é o cancelamento dos reajustes aprovados desde 2014, que atingirá categorias sensíveis como policiais militares e auditores fiscais, entre outras.

Fim do social

As medidas impopulares do pacote atingirão também os programas sociais. O maior impacto acontecerá para os cerca de cinco milhões de usuários do Bilhete Único que, a partir do primeiro dia de 2017, por decreto governamental, só poderão utilizar o benefício até o limite de R$ 150 por mês. Acima deste valor, o usuário terá que arcar com a diferença. Além disso, o valor da tarifa diária paga pelos usuários passará de R$ 6,50 para R$ 7,50.

Alguns programas sociais simplesmente serão extintos. É o caso dos oito restaurantes populares, já parcialmente paralisados pela crise, que nos bons tempos serviram diariamente até 35 mil refeições e 22 mil cafés da manhã por apenas dois reais ou cinquenta centavos, respectivamente. Pezão pretende discutir com o prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), a possibilidade de a prefeitura assumir pelo menos parte dos restaurantes.

Outro programa já semiparalisado que será definitivamente extinto em junho do ano que vem é o Aluguel Social, que beneficia pessoas atingidas por enchentes e outros desastres naturais com R$ 500 mensais. Criado após a tragédia de Nova Friburgo, este benefício atualmente atende a 9.640 famílias em 15 municípios fluminenses.

Também será extinto o programa estadual Renda Melhor, que funciona como complemento ao programa federal Bolsa-Família e faz parte do Plano de Erradicação da Pobreza Extrema no Rio de Janeiro. Este programa, que também já sofre com atrasos, atende a 154 mil famílias de baixa renda.

UPPs e UPAs

O objetivo do pacote é também tentar salvar as duas políticas de vitrine da gestão do PMDB à frente do governo do Rio: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs).

A política de instalação de UPPs em áreas tradicionalmente controladas pelo tráfico de drogas sofre sua maior crise, com falta de verbas e aumento de incidentes violentos. Após o pedido de demissão do ex-secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame, considerado o “pai” das UPPs, o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani, que também preside o PMDB no Rio, sugeriu a Pezão a redução à metade do número de UPPs. Atualmente, são 38 em funcionamento, e a proposta de Picciani ainda será analisada pelo governador.

A crise de atendimento nas UPAs, por sua vez, faz com que a possibilidade de municipalização das unidades também faça parte da pauta de discussões programada entre Pezão e Crivella. Segundo o Conselho Regional de Medicina (Cremerj), o déficit acumulado do setor de saúde no Rio já alcança os R$ 2,5 bilhões. Além das UPAs, segundo o Cremerj, também já estão seriamente afetados os atendimentos nos hospitais estaduais e o estoque do Instituto Estadual de Hematologia (Hemorio).

Ainda sem considerar todas as medidas do pacote a ser anunciado por Pezão, a proposta de Orçamento para 2017, enviada pelo governo à Assembleia com a assinatura do governador em exercício Dornelles, prevê um déficit de R$ 15,3 bilhões. Esta é a primeira vez que o governo do Rio de Janeiro envia aos deputados uma previsão de orçamento em déficit. A proposta tem de ser aprovada até o fim de dezembro.


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