Venda do terreno da Fase compromete 17 espécies vegetais protegidas por lei
O jornalista Elmar Bones da Costa, em matéria exclusiva para o Sul 21, obteve o laudo de cobertura vegetal do Morro Santa Teresa, área que está sendo alvo de disputa na Assembleia Legislativa
O projeto de lei do governo estadual que propõe a venda de 74 hectares do Morro Santa Teresa deve ser votado no dia 8 de junho, em regime de urgência. No entanto, pela importância do tema, foi pedido mais tempo para o debate. O promotor Luciano Brasil, do Ministério Público Estadual, dirigiu ofício à presidência da Assembléia para que a votação fosse em regime normal. Ainda não há decisão sobre o tema, que alienaria o terreno em troca da construção de novos prédios para a Fase-Fundação de Atendimento Sócio-Educativo, antiga Febem, hoje instalada na área. O terreno é maior que muitos bairros de Porto Alegre, como o Bom Fim (38ha), Independência (40ha) e Santa Cecília (60ha)
Enquanto isso, trabalhadores da Fase e moradores da região estão mobilizados através do sindicato da categoria, o Semapi. Eles têm uma proposta alternativa para instalar novos equipamentos e assim reestruturar a Fundação, mas para tanto querem que a urgência seja retirada.
Pesquisadores estão proibidos de dar entrevista
Por Elmar Bones da Costa
Há 17 espécies vegetais protegidas por lei que estão em risco no terreno pertencente à Fundação de Atendimento Sócio Educativo (Fase). Uma delas consta da “Lista Oficial de Espécies Ameaçadas” como “provavelmente extinta”, três estão classificadas como “em perigo” e outras 13 são consideradas “ameaçadas de extinção”.
Essa é a principal conclusão do “laudo de cobertura vegetal” assinado por uma equipe seis biólogos, um engenheiro florestal, um geólogo e dois técnicos da Fundação de Zoobotânica. O levantamento, feito a pedido da Secretaria de Justiça, foi concluído em julho de 2009. Os pesquisadores estão proibidos de dar entrevistas sobre o assunto.
Segundo um biólogo que participou do trabalho, o levantamento pode ser considerado “preliminar”, pela pressa com que foi feito (teve que ser concluído em dois meses) e pelas dificuldades de sua realização. “Foi difícil até formar a equipe”, disse o biólogo. “O pessoal não queria participar por medo, tem muitas áreas perigosas lá”.
Durante todo o trabalho, os pesquisadores foram protegidos por uma escolta armada, com dois sargentos e quatro praças da Brigada Militar. Mesmo assim não puderam entrar em certas áreas.
Diz o relatório “Não se teve acesso às proximidades da Vila Gaúcha, devido ao alto risco. No dia anterior tinha havido tiroteio e intervenção da Brigada na Vila”. Também um trecho de mata entre as vilas Ecológica e Prisma não poder ser visitado, pelas mesmas razões.
O biólogo, que aceitou falar desde que seu nome fosse preservado, define como “bem detonadas” a maioria das áreas de preservação permanente no Morro Santa Teresa. Inclusive o topo do morro, onde estão as estações de tevê.
Ele diz também que não dá para calcular o tamanho total da área de preservação, porque com a ocupação desordenada de grande parte do terreno da Fase, elas formam um mosaico entre as construções, pedreiras, saibreiras e as ocupações. Segundo o presidente da Fase Irani Barbosa, os espaços invadidos representam cerca de 18% da área total pertencente à Fundação.
O Relatório
Espécies com status de conservação registradas na FASE/CASE-Padre Cacique. Instrumentos de proteção: RS – Lista de espécies da Flora do Rio Grande do Sul Ameaçadas de Extinção; imune ao corte no RS – Código Florestal Estadual; BR – Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção/2008; IUCN – Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza; CITES – Lista elaborada pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Plantas em Risco de Extinção. Categorias de ameaça: PE – provavelmente extinta; EN – em perigo; VU – vulnerável.
Família
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Nome científico |
Instrumentos de proteção | Nome popular
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Hábito
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Hábitat
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1 | Apocynaceae | Mandevilla coccinea | RS (VU) | jalapa-encarnada | erva | campo |
2 | Arecaceae | Butia capitata
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RS (EN) | butiá | palmeira | campo, jardim, remanescente em beira de estrada |
3 | Asteraceae | Eupatorium angusticeps | RS (PE) | – | bubarbusto | campo |
4 | Asteraceae | Gochnatia cordata | RS (VU) | – | erva | campo |
5 | Asteraceae | Schlechtendahlia luzulifolia | RS (EN) | bolão-de-ouro | erva | campo |
6 | Boraginaceae | Moritzia ciliata | RS (VU) | borragem-miúda | erva | campo |
7 | Bromeliaceae | Bilbergia zebrina
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RS (VU) | bromélia | epífita | mata, sobre árvore nativa em canteiro |
8 | Bromeliaceae | Dyckia choristaminea | RS (EN) | bromélia | erva | campo |
9 | Cactaceae | Cereus hildmannianus
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CITES | tuna | cacto-arborescente | mata |
10 | Cactaceae | Parodia ottonis | RS (VU) | cacto-bola | cacto-bola | campo |
11 | Caesalpinaceae | Apuleia leiopcarpa | RS (VU) | grápia | árvore | mata |
12 | Lauraceae | Nectandra grandiflora | RS (VU) | canela | árvore | mata |
13 | Lauraceae | Ocotea catharinensis | IUCN (VU)
BR RS (VU) |
canela preta | árvore | mata |
14 | Moraceae | Ficus luschnathiana | imune ao corte no RS | figueira | árvore | mata, canteiro canal |
15 | Moraceae | Ficus organensis | imune ao corte no RS | figueira | árvore | mata |
16 | Orchidadeae | Cattleya intermedia | RS (VU) | orquídea | epífita | mata |
17 | Sterculiaceae | Waltheria douradinha | RS (VU) | douradinha-do-campo | erva | campo |