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3 de junho de 2010
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06:00

Natureza em risco

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Venda do terreno da Fase compromete 17 espécies vegetais protegidas por lei

O jornalista Elmar Bones da Costa, em matéria exclusiva para o Sul 21, obteve o laudo de cobertura vegetal do Morro Santa Teresa, área que está sendo alvo de disputa na Assembleia Legislativa

O projeto de lei do governo estadual que propõe a venda de 74 hectares do Morro Santa Teresa deve ser votado no dia 8 de junho, em regime de urgência. No entanto, pela importância do tema, foi pedido mais tempo para o debate. O promotor Luciano Brasil, do Ministério Público Estadual, dirigiu ofício à presidência da Assembléia para que a votação fosse em regime normal. Ainda não há decisão sobre o tema, que alienaria o terreno em troca da construção de novos prédios para a Fase-Fundação de Atendimento Sócio-Educativo, antiga Febem, hoje instalada na área. O terreno é maior que muitos bairros de Porto Alegre, como o Bom Fim (38ha), Independência (40ha) e Santa Cecília (60ha)

Enquanto isso, trabalhadores da Fase e moradores da região estão mobilizados através do sindicato da categoria, o Semapi. Eles têm uma proposta alternativa para instalar novos equipamentos e assim reestruturar a Fundação, mas para tanto querem que a urgência seja retirada.

Pesquisadores estão proibidos de dar entrevista

Por Elmar Bones da Costa

Há 17 espécies vegetais protegidas por lei que estão em risco  no terreno pertencente à Fundação de Atendimento Sócio Educativo (Fase). Uma delas consta da “Lista Oficial de Espécies Ameaçadas” como “provavelmente extinta”, três estão classificadas como “em perigo” e outras 13 são consideradas “ameaçadas de extinção”.

Essa é a principal conclusão do “laudo de cobertura vegetal” assinado por uma equipe seis biólogos, um engenheiro florestal, um geólogo e dois técnicos da Fundação de Zoobotânica. O levantamento, feito a pedido da Secretaria de Justiça, foi concluído em julho de 2009. Os pesquisadores estão proibidos de dar entrevistas sobre o assunto.

Segundo um biólogo que participou do trabalho, o levantamento pode ser considerado “preliminar”, pela pressa com que foi feito (teve que ser concluído em dois meses) e pelas dificuldades de sua realização. “Foi difícil até formar a equipe”, disse o biólogo. “O pessoal não queria participar por medo, tem muitas áreas perigosas lá”.

Durante todo o trabalho, os pesquisadores foram protegidos por uma escolta armada, com dois sargentos e quatro praças da Brigada Militar. Mesmo assim não puderam entrar em certas áreas.

Diz o relatório “Não se teve acesso às proximidades da Vila Gaúcha, devido ao alto risco. No dia anterior tinha havido tiroteio e intervenção da Brigada na Vila”.  Também um trecho de mata entre as vilas Ecológica e Prisma não poder ser visitado, pelas mesmas razões.

O biólogo, que aceitou falar desde que seu nome fosse preservado, define como “bem detonadas” a maioria das áreas de preservação permanente no Morro Santa Teresa. Inclusive o topo do morro, onde estão as estações de tevê.

Ele diz também que não dá para calcular o tamanho total da área de preservação, porque com a ocupação desordenada de grande parte do terreno da Fase, elas formam um mosaico entre as construções, pedreiras, saibreiras e as ocupações. Segundo o presidente da Fase Irani Barbosa, os espaços invadidos representam cerca de 18% da área total pertencente à Fundação.

O Relatório

Espécies com status de conservação registradas na FASE/CASE-Padre Cacique. Instrumentos de proteção: RS – Lista de espécies da Flora do Rio Grande do Sul Ameaçadas de Extinção; imune ao corte no RS – Código Florestal Estadual; BR – Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção/2008; IUCN – Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza; CITES – Lista elaborada pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Plantas em Risco de Extinção. Categorias de ameaça: PE – provavelmente extinta; EN – em perigo; VU – vulnerável.

Família

Nome científico

Instrumentos de proteção Nome popular

Hábito

Hábitat

1 Apocynaceae Mandevilla coccinea RS (VU) jalapa-encarnada erva campo
2 Arecaceae Butia capitata

RS (EN) butiá palmeira campo, jardim, remanescente em beira de estrada
3 Asteraceae Eupatorium angusticeps RS (PE) bubarbusto campo
4 Asteraceae Gochnatia cordata RS (VU) erva campo
5 Asteraceae Schlechtendahlia luzulifolia RS (EN) bolão-de-ouro erva campo
6 Boraginaceae Moritzia ciliata RS (VU) borragem-miúda erva campo
7 Bromeliaceae Bilbergia zebrina

RS (VU) bromélia epífita mata, sobre árvore nativa em canteiro
8 Bromeliaceae Dyckia choristaminea RS (EN) bromélia erva campo
9 Cactaceae Cereus hildmannianus

CITES tuna cacto-arborescente mata
10 Cactaceae Parodia ottonis RS (VU) cacto-bola cacto-bola campo
11 Caesalpinaceae Apuleia leiopcarpa RS (VU) grápia árvore mata
12 Lauraceae Nectandra grandiflora RS (VU) canela árvore mata
13 Lauraceae Ocotea catharinensis IUCN (VU)

BR

RS (VU)

canela preta árvore mata
14 Moraceae Ficus luschnathiana imune ao corte no RS figueira árvore mata, canteiro canal
15 Moraceae Ficus organensis imune ao corte no RS figueira árvore mata
16 Orchidadeae Cattleya intermedia RS (VU) orquídea epífita mata
17 Sterculiaceae Waltheria douradinha RS (VU) douradinha-do-campo erva campo

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