Empate com Dilma nas pesquisas provocou mudança
Rachel Duarte
rachelduarte@sul21.com.br
Na primeira sabatina depois da pesquisa eleitoral do Datafolha, que deu empate entre Dilma Rousseff e José Serra, secundando assim a Vox Populi e a Sensus, o pré-candidato tucano adotou uma linha mais ofensiva. Segundo a falar na sabatina promovida pela Confederação Nacional da Indústria, nesta terça-feira (25), ele rebateu pragmaticamente todos os pontos argumentados pela antecessora Dilma Rousseff (PT).
A sabatina foi direcionada aos principais pré-candidatos ao Planalto e ocorreu de forma individual, com base na agenda proposta pela entidade em 12 áreas de atuação: segurança jurídica, macroeconomia do alto crescimento (investimentos), tributação e gasto público, financiamento, relações do trabalho, infraestrutura, educação, inovação, comércio exterior, meio ambiente, burocracia e micro e pequena empresa.
Durante todo o seu tempo, Serra fez referência à fala anterior de sua adversária Dilma Rousseff e ao governo que integrou até pouco tempo. Considerou por mais de uma vez a gestão como inexperiente, sem planejamento e desqualificada. Ao mesmo tempo, argumentou com base em dados sem citar as fontes dos mesmos, criticando o que chamou de falta de investimentos para o desenvolvimento econômico do Brasil nos últimos tempos.
Dilma chegou descontraída, cumprimentando os demais candidatos. Serra começou sério, pedindo um debate entre os candidatos já no começo da sua fala. “Eu teria realmente preferido que os candidatos pudessem ter feito um mínimo de debate”, afirmou, contrariado com o formato de sabatina com o público. “Os debates estão se orientando para o isolamento. Há um grande esforço para que não se possam comparar os candidatos, as ideias, o domínio dos assuntos”, considerou.
Em seu discurso, o ex-governador de São Paulo atacou o governo federal e disse que “a desindustrialização está acontecendo no Brasil”, exemplificando com a queda da participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) nacional. “Não é uma queda como em outros países subdesenvolvidos. Há distorções na política macroeconômica do país. Ainda somos adolescentes nessa área”, disparou.
Já Dilma, ao fazer uso do seu tempo, falou com dados da economia brasileira. Ela sustentou que há uma robustez fiscal do Brasil, como não se tinha desde a crise de 1929 e reforçou a maturidade do País diante da recente crise econômica de 2008. “Os países emergentes são hoje as grandes âncoras mundiais. No caso do Brasil, o centro da política industrial está na capacidade sustentável de distribuição de rendas e da clareza das metas”, disse.
A erradicação da extrema miséria no país foi o eixo fundamental apontado por ela como medida prioritária e pontual, que pode ser aliada a grandes ações, como a reforma tributária. “Temos de tentá-la de forma ampla e geral. Mas isso não impede que medidas pontuais sejam tomadas mais rapidamente. Senão a gente gasta uma energia política excessiva e não consegue nem uma coisa nem outra”, disse.
Nova classe média x campeão da taxa tributária
Dilma afirmou que a política industrial do governo Lula aumentou a formalização do trabalho e criou uma “nova classe média”. O fortalecimento do mercado interno e a redução da taxa de juros, que antes variava de 15 a 20% e hoje está entre 5 a 6%, foram argumentos para contextualizar o momento que Dilma considerou de crescimento econômico no país.
No contraponto, José Serra falou que o custo do capital, a taxa de juros e a elevada carga tributária são os grandes problemas do Brasil. “Entra governo, sai governo e continuamos campeões mundiais em maior carga tributária e nos juros altos, numa lista de 135 países”, disse o pré-candidato.
Serra também citou as deficiências em logística e em infra-estrutura, apontando um déficit no investimento nos portos e aeroportos. Além disso, acusou um “loteamento político” no governo federal. “A Infraero está loteada. Hoje, as agências reguladoras estão divididas entre partidos. Tudo está loteado”, afirmou.
Educação
Dilma defendeu uma “descentralização” do ensino profissionalizante no país, e também buscou aproximar os empresários da Universidade. “Aqui no Brasil o ensino superior brasileiro é essencial para que empresas associem-se a projetos e criem tecnologias que possam ser usadas nos processos industriais do país”, disse.
Priorizar a educação foi considerado estratégico por Dilma, que batizou a área como a “economia do conhecimento”. “É impossível pensarmos em inovação e não pensarmos em formar qualificados engenheiros, matemáticos e químicos”, exemplificou.
Nesta área, Serra insistiu em atacar. Ele comparou sua gestão no governo de São Paulo a do governo federal. “Temos 30% a mais de alunos no ensino técnico em São Paulo do que no governo federal”, disse.
Desoneração
A petista defendeu que a cadeia produtiva de bens de capital precisa de desoneração. “Nós devemos completar a desoneração de bens de capital, permitindo que haja o aproveitamento imediato dos créditos de PIS/Pasep, Cofins, IPI. Hoje eles vazam e não são considerados. Que haja desoneração de bens de capital e de todos os elementos que participam dos investimentos e das exportações”, afirmou Dilma.
Já Serra reclamou da alta tributação sobre os financiamentos de obras de saneamento e disse que tomará como primeira medida, caso seja eleito, acabar com a cobrança do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre esses investimentos. “É uma medida tão simples. Eu prometo, se for eleito, no dia 2 de janeiro, ter um projeto eliminando PIS e Confins do financiamento de obras de saneamento”, garantiu.
Promessas
Serra assumiu o compromisso de lutar pelo setor industrial ao contar histórias de sua infância. O pré-candidato tucano disse que está “nas suas origens” a proximidade com o meio industrial, já que morou numa vila operária.
Ele disse que vai trabalhar para manter erguida a “mesa” da economia. “Eu ajudei a erguer a mesa da economia do Brasil. Nunca vou ajudar a derrubar essa mesa”, disse.
Já Dilma firmou três compromissos que considerou simples, em razão da construção feita até agora pelo governo federal: situar a economia brasileira entre as melhores do mundo, distribuir renda de forma definitiva e crescer de forma sustentável. Ela disse que irá criar um Ministério para Micro, Pequena e Média Empresa, para atender a necessidade do setor em ter um arranjo deste setor.
Ao longo do evento, Dilma e os outros dois principais presidenciáveis, José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), sentaram-se lado a lado para ouvir reivindicações de empresários e falar sobre suas propostas para a política industrial do país.