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9 de junho de 2010
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20:37

Experiências em interrogatórios são fachada para tortura

Por
Sul 21
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Denúncia é de associação de médicos norte-americanos

Clarissa Pont

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O grupo Physicians for Human Rights (PHR-Médicos em Defesa dos Direitos Humanos) denunciou nesta segunda-feira que médicos americanos realizaram experiências com prisioneiros suspeitos de terrorismo após os atentados de 11 de setembro de 2001. O objetivo seria refinar técnicas de interrogatório. Em relatório, o grupo diz que a denúncia se baseou em documentos públicos e que as experiências teriam sido realizadas com a supervisão da Agência Central de Inteligência americana (CIA), durante guerra contra terrorismo lançada durante o governo do ex-presidente George W. Bush.

A organização de médicos em defesa dos direitos humanos afirma que profissionais da saúde empregados pela CIA não se contentavam em “acompanhar” os interrogatórios de “detidos de maior importância”. Também “extraíam conhecimentos gerais com o objetivo de aperfeiçoar os métodos de obter informação dos suspeitos. Há provas de que os médicos avaliavam a dor causada pelas técnicas de interrogatórios e buscavam melhorar seus conhecimentos a respeito”, explicou Nathaniel Raymond, dirigente da PHR, em entrevista à Agência France Presse.

Os médicos da CIA serviam também como testemunhas, caso fosse necessário atestar que os interrogadores agiam de boa fé, sob instruções e na presença de um profissional de saúde. Segundo a AFP, pelo menos 14 detidos desapareceram das prisões secretas da CIA entre o final de 2001 e setembro de 2006 e reapareceram no centro de detenção da base naval de Guantánamo, em Cuba. Entre eles, pelo menos dois foram submetidos a simulações de afogamento e todos foram submetidos a programas de privação de sono, nudez forçada e exposição a temperaturas extremas, segundo os documentos publicados em agosto de 2007 e nos quais a PHR se apóia.

Ainda que a utilização de tratamentos cruéis e subumanos tenha sido documentada anteriormente, o PHR afirma que os novos dados evidenciam uma participação ativa dos médicos em investigação e experimentação efetuadas com detidos sob custódia americana. Como exemplo, em seu relatório, a ONG explica que os médicos observaram que a simulação de afogamento, se repetida muitas vezes com água simples poderia causar pneumonia. Eles recomendaram, a partir daí, que fosse utilizada uma solução salina.

Em editorial intitulado “Os médicos que ajudam a tortura”, o New York Times desta segunda-feira (7) analisa o fato. Segundo o texto, novas e perturbadoras questões têm sido levantadas sobre o papel de médicos e outros profissionais de saúde no auxílio à CIA, ao sujeitar suspeitos de terrorismo a tratamentos rudes, abusos e tortura.

O editorial diz que o relatório do grupo médico não prova definitivamente as alegações, mas se pergunta: como poderia, quando muito ainda está oculto? Sugere que a Casa Branca e o Congresso investiguem a experimentação humana ilegal e aqueles que, autorizando ou realizando, devem ser punidos. “Essas são apenas duas das muitas questões pendentes da administração Bush que o presidente Obama e líderes do Congresso têm varrido para debaixo do tapete”, diz o editorial.

Segundo o relatório, os Estados Unidos elaboraram, após os atentados de 11 de setembro de 2001 contra Washington e Nova York, uma lista de “técnicas de interrogatório aprimoradas”, que depois foram amparadas legalmente pelo departamento de Justiça, algumas delas até o final da gestão de George W. Bush, em janeiro de 2009. Nathaniel Raymond, porta-voz do PHR, manifestou que as experiências e a investigação sobre seus efeitos “parecem ter sido realizadas com o objetivo de dar uma fachada legal à tortura”.

Com AFP e New York Times


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