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2 de janeiro de 2014
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11:58

Mesmo com a Copa, economia brasileira e gaúcha devem manter crescimento lento

Por
Sul 21
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Mesmo com a Copa, economia brasileira e gaúcha devem manter crescimento lento
Mesmo com a Copa, economia brasileira e gaúcha devem manter crescimento lento
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Segundo especialista, Copa tem reflexos no PIB, mas não há indícios de grandes saltos na economia em 2014| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Lorena Paim

As perspectivas para a economia tanto do Brasil quanto do Rio Grande do Sul são positivas, mas sem indícios de que haverá grandes saltos em 2014. Devagar e sempre, pode-se concluir com base nos cenários traçados no início deste novo ano. Com um crescimento pequeno, o Brasil poderá capitalizar os efeitos benéficos da Copa do Mundo, quando todos os holofotes estarão voltados para o país do futebol.

Para o economista André Scherer, técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor da PUC/RS, é preciso observar que, no cenário mundial, os países desenvolvidos continuam “patinando” desde a crise mundial de 2008. Nesse sentido, Estados Unidos e Japão já tiveram desempenho melhor do que o esperado no ano passado. As empresas da Ásia acabam fazendo pressão sobre a fabricação de produtos em todo o mundo, de modo que fica difícil competir com países como a China, Coreia, Hong Kong e outros integrantes de um complexo altamente eficiente. Nem o Brasil poderia fazer frente a essa competição, observa.

Diante desse contexto, surge a pergunta: a economia brasileira está em crise? Para o economista, a resposta é não. “A taxa de crescimento do PIB- Produto Interno Bruto, que deve fechar em 2,5% em 2013, deve ter uma continuidade positiva, mesmo que em ritmo lento”. Ele cita fatores animadores, como a taxa de emprego, “que é excelente, crescendo mês a mês”, estando em redor de 5% nas regiões metropolitanas. Também destaca os pequenos acréscimos na renda do trabalhador, se refletindo no aumento do comércio e na expansão dos serviços. Além disso, acrescenta, não existe descontrole nos gastos do governo.

Dentre os países emergentes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os brasileiros não se destacam em números do PIB, mas Scherer diz que essa comparação fica prejudicada diante do ótimo desempenho que vêm apresentando China e da Índia. “Mas estamos numa situação boa; aqui não tem crise, como, por exemplo, a existente na Grécia e na Espanha, que apresentam desemprego alto”. Para ele, muito do que foi veiculado, há poucos meses, a respeito da “decepção” com o Brasil tem a ver com as interpretações do ponto de vista político e econômico a partir de mudanças realizadas pelo governo. “Tudo mudou diante da política de juros do Banco Central. A presidente Dilma era vista internacionalmente como a gerente, a técnica que adotava medidas acertadas. Quando ela começou a baixar os juros e, portanto, diminuir a remuneração dos grandes investidores, começou a ser encarada como alguém não confiável, que não estava conduzindo bem a economia”, analisa o técnico da FEE.

Mas o governo não conseguiu segurar a taxa de juros baixa, acrescenta Scherer, lembrando que a Selic chegou a 7,25% em 2013, mas fechou o ano em 10%, e não há sinais de que números menores voltem a prevalecer. Embora tenha perdido esta batalha, ele considera que o Brasil teve uma vitória no caso das concessões, em que os leilões para a gestão de estradas e aeroportos dão o sinal para melhorar o setor de infra-estrutura como um todo. “Uma iniciativa muito positiva, pois o governo não teria condições de fazer isso sozinho. Conseguiu achar parceiros e fazer novos contratos. Com isso, é possível reduzir custos para a população, como no caso dos pedágios”. É um dos gargalos que conseguiu ser desatado, conclui, e a tendência é de que essas proveitosas parcerias continuem.

Um fator extra que poderá melhorar a economia é a realização da Copa do Mundo no Brasil. Esse tipo de evento de alcance mundial, segundo Scherer, ajuda a movimentar as cidades, com aumento do comércio, serviços, turismo e, no futuro, tendo reflexos no PIB.

O economista prevê que o dólar fique nos patamares entre R$ 2,30 e R$ 2,50 este ano. Nada de moeda barata à vista. Dentro desse contexto, considera que é acertada a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nos cartões de débito usados em viagens ao exterior. “O governo quer tornar mais caro o gasto lá fora, de modo que o brasileiro viaje mais aqui e contribua para melhorar o mercado interno. E faz isso sem mexer na taxa de câmbio. É como se estivesse cobrando um segundo câmbio, ao aumentar a taxação nos cartões”.

RS no mesmo ritmo

André Scherer considera que a situação do Rio Grande do Sul segue a tendência nacional, de crescimento lento, com o mesmo cenário: “aqui não tem crise”. “Dizer que estamos perdendo espaço dentro da economia brasileira é mais um enfoque ideológico do que algo concreto”, ressalta. O Estado mantém uma boa posição, segundo o economista, mesmo estando fora das áreas que mais crescem no país, ou seja, o agronegócio em área nova, o minério de ferro e o petróleo.

Aqui destacam-se, a seu ver, as áreas de serviços e comércio, as quais continuarão se desenvolvendo mais do que a média brasileira. Isso graças à taxa de desemprego baixa e à renda crescente dos gaúchos. Scherer ainda prevê a continuidade do bom desempenho do agronegócio, especialmente a soja, embora os preços dos grãos possam ter alguma queda.

Também o polo naval, na região de Rio Grande e Pelotas, e os parques eólicos continuarão contribuindo para o crescimento, assim como a expansão da zona industrial para o noroeste gaúcho, incluindo a região de Passo Fundo. Para o economista, os números da indústria gaúcha no final de 2013 “podem dar um embalo bom para 2014, principalmente nos setores metalmecânico, refino de petróleo e alimentício, o qual deve melhorar”.

Se a safra agrícola for boa no ano que se inicia, sem imprevistos climáticos, de seca ou muita chuva, o técnico da FEE arrisca uma previsão bem otimista: “a média de crescimento dos quatro anos do governo Tarso Genro tende a ser superior à da economia brasileira”.


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