
Dez dos 13 candidatos à Prefeitura de Porto Alegre participaram na noite desta quinta-feira (1º) na Bandeirantes do primeiro debate transmitido em TV aberta da campanha eleitoral. Como não poderia deixar de ser, o debate foi centrado em críticas à gestão do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) pela maior parte dos adversários e, de outro lado, pela defesa feita pelo tucano de seu governo.
Durante os três blocos de perguntas e respostas diretas entre os candidatos, também ocorreram debates ríspidos e ataques pessoais entre os debatedores, o que motivou uma série de pedidos de direito de resposta — todos negados pela assessoria jurídica da Bandeirantes.
Os ataques pessoais foram iniciados por Rodrigo Maroni (PROS), que optou por usar o debate para desferir uma série de ataques aleatórios aos adversários e à política em si, mas centrou a maior parte de sua munição contra Manuela D’Ávila (PCdoB), com quem dividiu partido quando era do PCdoB. Sem apresentar qualquer proposta que não fosse falar de forma vazia da pauta dos direitos animais, Maroni deixou claro logo em sua primeira interjeição que seu objetivo era virar “meme”, quando, em vez de perguntar a João Derly (Republicanos), disse que ele poderia “falar o que quiser”.
A nível político, uma série de candidatos acusaram o atual prefeito Marchezan de conduzir sua gestão de forma autoritária e sem diálogo. Gustavo Paim (Progressistas), que é o atual vice-prefeito e compôs chapa com Marchezan, foi um dos candidatos que tentou pregar o diálogo para se desassociar da marca da atual da gestão. João Derly foi mais enfático ao dizer que o prefeito era conhecido por ter “pavio curto” e perguntou se ele continuaria dessa forma caso fosse reeleito. Aproveitando esta pergunta, o prefeito defendeu-se dizendo que comprou todas as brigas por “valores e princípios” e que vai continuar comprando brigas que, segundo ele, são de interesse da população de Porto Alegre, “principalmente dos mais pobres”.
Mas o momento mais acalorado envolvendo o prefeito ocorreu quando houve uma reedição da disputa do segundo turno passado. Sebastião Melo (MDB) lembrou que Marchezan prometera não aumentar impostos e que ele aumentou a arrecadação de multas quando havia prometido enfrentar a “indústria da multa”. O prefeito se defendeu das críticas acusando a gestão anterior, da qual Melo foi vice-prefeito, de estar envolvido em uma série de escândalos de corrupção.
Marchezan disse que o ex-prefeito José Fortunati (PTB) era como um “marido traído, o último a saber”, porque “todo mundo saberia” da corrupção no Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), à época conduzido pelo PP — partido que não só teve o vice na chapa vitoriosa de 2016, como também coordenou a campanha de Marchezan. Também disse que Melo teria dito a ele pessoalmente que era a favor do aumento do IPTU, aprovado em 2019 com apoio do MDB. Melo retrucou dizendo que Marchezan “comprou as páginas policiais” por ter diversas acusações contra o seu governo e destacou uma série de valores de financiamentos federais e externos perdidos durante a gestão. Na tréplica, Marchezan disse que Melo iria “perder de novo”, que já começou a campanha derrotado e que iria responder o que considerou ser mentiras em sua propaganda eleitoral.
Outro embate político acalorado ocorreu em duas oportunidades entre Fernanda Melchionna (PSOL) e Valter Nagelstein (PSD), ex-colegas de Câmara de Vereadores, onde travaram uma série de embates ao longo da década passada. Na primeira rodada, Nagelstein pontuou que a disputa tinha quatro candidatos que foram prefeitos e ex-prefeitos e perguntou para Melchionna se ela achava que Porto Alegre precisava de uma cara nova. Na resposta, Melchionna destacou que o vereador participou de todos os governos desde José Fogaça. “Se tem governo, tu tá dentro. Aí depois o governo não dá certo, tu sai e te apresenta como uma novidade. Pega na mão e assume, Valter”, disse. Na réplica, Nagelstein defendeu a sua participação em governos passados como experiência.
O embate se repetiu no terceiro bloco, quando Nagelstein questionou Melchionna se era possível fazer segurança pública “pregando a descriminalização das drogas”. A candidata do PSOL disse que o vereador tinha ficado “mordido” com o primeiro embate e que ele gostava de “falar grosso com mulheres”. Além disso, acusou Nagelstein de ser demagogo ao promover um debate que alimenta a “guerra aos pobres” em vez de discutir problemas da gestão Marchezan. “Se eu fosse bandido, eu teria sido dos teus partidos”, disse a deputada federal, referindo-se ao fato de que o PSD é o partido da deputada Flordelis, acusada de mandar matar o marido e que não foi expulsa da legenda. Na réplica, Nagelstein disse que tinha “vida limpa” e apresentou propostas para a segurança e para área social. “Eu não vim atacar a vereadora, eu não vim aqui para ser atacado, eu vim aqui para discutir essas ideias para Porto Alegre, porque Porto Alegre cansou exatamente disso”, afirmou. Na tréplica, Melchionna pontuou que, como deputada, defendeu um projeto para indenizar profissionais da saúde afetados pelo covid-19 enquanto o vereador “estava fazendo dancinha, debochando de 50 mil mortos”.
Por outro lado, Juliana Brizola (PDT), Manuela D’Ávila e José Fortunati tentaram adotar uma postura de evitar confrontos. Juliana focou as suas falas nas propostas para a educação, como a ampliação da escola de tempo integral. Mesmo quando teve a oportunidade de debater com o atual prefeito, Juliana optou por focar em propostas para segurança e o enfrentamento à covid-19. As principais críticas apresentadas por ela durante o programa apareceram quando perguntou a Manuela sobre o tema da pandemia, com ambas concordando que a Prefeitura pecou na sua política de testes.
Já Manuela, que começou o debate sendo alvo de ataques pessoais de Maroni, os quais ignorou, focou a maior parte de suas falas na defesa da adoção de políticas de emprego e renda para a recuperação de Porto Alegre. Ela também foi criticada por João Derly, ex-PCdoB, pelo “centralismo” do partido. Contudo, em uma segunda oportunidade, os dois tiveram uma troca cordial e concordaram em críticas à forma como a tarifa de transporte público tem sido calculada em Porto Alegre.
Na única oportunidade em que procurou o embate, Manuela criticou o prefeito Marchezan pelas demissões no Imesf, pelo não diálogo com a comunidade escolar para o retorno das aulas presenciais, pela frequente falta d’água em diversos pontos da cidade e por ter perdido R$ 120 milhões para obras de macrodrenagem. O prefeito defendeu-se dizendo que as demissões no Imesf não foram arbitrárias, mas motivadas por uma ação judicial promovida por sindicatos de trabalhadores e que a saúde teria melhorado após a contratualização de serviços que antes eram prestados pelo órgão. Também disse que não fazia como o governo anterior, começar obras sem recursos para acabar, e que está buscando investimentos para a área de macrodrenagem. Na réplica, Manuela afirmou que Marchezan governou somente por três meses e defendeu uma maior atuação do poder público no enfrentamento à falta d’água. Na tréplica, Marchezan defendeu-se dizendo que ela deveria “viajar menos” para ver o que foi feito por sua gestão ao longo dos últimos quatro anos.
Ex-adversários em 2012, Manuela e Fortunati tiveram uma troca cordial quando o ex-prefeito perguntou a ex-deputada sobre o Plano Diretor, pontuando que a atual gestão deveria fazer a revisão do principal instrumento de planejamento urbano da cidade e não fez. Ambos defenderam que este processo deve ocorrer com um amplo processo de discussão e colaboração. Logo em seguida, Fortunati também teve uma troca cordial com Melchionna, que foi opositora ao seu governo na Câmara sobre o tema da corrupção e o impeachment do Marchezan. O ex-prefeito defendeu as providências tomadas por seu governo para área, pontuando que nunca foi indiciado. Já a deputada federal defendeu que é favor de impeachment por considerar que o prefeito praticou crimes de tráfico de influência, corrupção passiva e improbidade administrativa.
Outro tema que apareceu em diversos momentos do debate foi o do empreendedorismo. Apesar de Marchezan ter sido eleito em 2016 tendo essa como sua principal bandeira de campanha, o tema e as críticas à atuação da gestão municipal na área foram assuntos centrais para diversos candidatos do campo da centro-direita no debate, como Nagelstein, Melo, Paim, João Derly e Fortunati. Nagelstein defendeu a digitalização dos trâmites burocráticos. Derly afirmou que iria disponibilizar todos os trâmites em um único aplicativo. Melo afirmou que iria deixar de exigir alvará para a abertura de empresas de baixo risco, proposta também defendida por Gustavo Paim. Já Fortunati pontuou que sua gestão promoveu uma parceria com a consultoria Endeavor para a redução dos prazos de abertura de novos negócios, o que foi interrompido pela atual gestão. Eles também criticaram Marchezan pelo fechamento de 60 mil empresas durante a pandemia.
Os candidatos Julio Flores (PSTU), Luiz Delvair (PCO) e Montserrat Martins (PV) não participaram do debate porque seus partidos não cumprem o requisito de representação mínima na Câmara dos Deputados.
Confira a íntegra do debate: