
Débora Fogliatto
A candidata à presidência pela coligação Unidos Pelo Brasil, Marina Silva (PSB), visitou a Expointer 2014 nesta quinta-feira (04), quando participou de uma reunião com o presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, e com produtores rurais, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Assediada pelo público e pela imprensa, a candidata veio acompanhada de seu vice, Beto Albuquerque (PSB), de José Ivo Sartori (PMDB), candidato ao governo do Estado, seu vice José Cairoli (PSD) e o candidato ao Senado Pedro Simon (PMDB).
Após a reunião, que durou cerca de uma hora e meia, Marina recebeu a imprensa para entrevista coletiva, na qual respondeu sobre sua relação com os ruralistas, além de falar de transgênicos, Bolsa Família e educação em turno integral. Em diversos momentos, ela alfinetou os outros candidatos, especialmente por ainda não terem concluído seus planos de governo, e afirmou que o dela foi feito “com a participação de milhares de pessoas”.
Ela demonstrou cautela ao falar sobre as pesquisas de intenção de voto, nas quais têm aparecido na liderança, afirmando que “ainda há muito chão pela frente”. “Mas se a Dilma ganhar, vai ser graças aos partidos com quem fez coligação e aos seus 11 minutos de TV. E se nós ganharmos, vamos creditar ao cidadão brasileiro, que teve uma nova postura e soube que é preciso corrigir erros e enfrentar desafios”, afirmou, acrescentando que a sociedade “evoluiu muito mais do que a política”.
A ex-ministra afirmou que conversou com o presidente da Farsul sobre propostas de maiores investimentos em ciência e tecnologia e que também pautaram a conversa “incentivos que continuaremos a dar para agricultura; aumento de recursos do Pronaf para a agricultura familiar; acesso à educação de qualidade no campo e busca de mercado para produtos rurais”.
Questionada sobre sua relação com o setor do agronegócio, com o qual seus concorrentes afirmam que ela tem resistência, Marina disse que “não existe história de quebrar resistência”. “Trabalhamos ideia de construir convergências para aquilo que interessa para o Brasil. Devemos buscar melhores meios para o diálogo”, defendeu. Após a coletiva, realizada em uma pequena sala no estande da Fetag, Marina seguiu para o Pavilhão da Agricultura Familiar. De Esteio, ela foi para Caxias do Sul.

Bolsa Família
Durante a entrevista, Marina se referiu a “algumas mentiras” que estariam sendo ditas sobre ela, entre elas a afirmação de que seria contra o Bolsa Família. Mencionando sua própria trajetória como mulher que nasceu na floresta e enfrentou a pobreza, só tendo sido alfabetizada aos 16 anos, a candidata disse que não iria “ser contra medidas para pessoas com as mesmas origens”. “O que eu defendo é que se invista em educação para que as filhas do Bolsa Família não se tornem mães do Bolsa Família. Queremos dar condições para jovens terem inclusão produtiva”, explicou.
Conflito agrário
Ela também foi questionada sobre possíveis soluções para o conflito entre agricultores e indígenas, momento em que defendeu o “diálogo”, com tem sido costume em suas falas. “Temos disposição para o diálogo e para seguir a legislação. Não existe isso de que para defender os interesses dos agricultores teria que prejudicar os indígenas. Os indígenas têm que ter direitos assegurados”, disse, mencionando o genocídio do povo indígena e sua perda de terras desde a colonização do Brasil.
Transgênicos
Marina esclareceu sua posição enquanto ministra do Meio Ambiente em relação aos alimentos transgênicos. Ela contou que defendia um modelo de coexistência, com áreas divididas entre as que utilizam transgênicos e as que não. “Encaminhamos o projeto assim para a Casa Civil, que o encaminhou para o Congresso, onde foi modificado”, lembrou, criticando que tenha aparecido na imprensa que ela era contra os transgênicos. A candidata ainda disse que conversou sobre isso com os ruralistas, os quais gostaram de ouvi-la “por suas próprias palavras”.
Investimentos
“Estamos vivendo um ambiente de baixos investimentos”, segundo Marina, devido à “falta de confiança” por parte dos investidores. Ela criticou a presidente Dilma Rousseff (PT) por não ter diminuído a taxa de juros, conforme o prometido. “Não temos eficiência nos gastos públicos. Queremos fazer o país voltar a crescer com investimentos, inclusive não descartando parcerias público-privadas”, afirmou. Ela defendeu que o dinheiro do BNDES precisa ser utilizado com transparência, sem ser direcionado para “meia dúzia de escolhidos”.

Sobre críticas de que não seria possível realizar todos os investimentos defendidos em seu programa pela falta de verbas, Marina disse que “é possível investir em educação em tempo integral” e que esses recursos serão conseguidos “através do Brasil, que vai voltar a crescer”. Para isso, a ex-ministra falou que fará um esforço para recuperar a inflação e baixar a taxa de juros.
Aécio Neves
Enquanto há especulações de que o candidato do PSDB, Aécio Neves, poderia vir a apoiar Marina caso ela vá para o segundo turno contra Dilma, a candidata disse ter “respeito por todas as candidaturas”, mas repetiu algo que dizia em 2010, quando a questionavam sobre apoio no segundo turno: “sobre o segundo turno, se fala no segundo turno”.
“Eu não tenho a pretensão de desconstituir nenhuma candidatura. Temos direito de ter o nosso projeto e colocá-lo para que os brasileiros avaliem, assim como todos os outros”, afirmou. Ela disse que não pretende fazer “ataques pessoais e nem desvalorizar outros candidaturas”.
Lei da Anistia
Questionada sobre um artigo em que defendia punição para torturadores da ditadura, Marina disse que “há uma lei que foi feita e pressupõe que ambos os lados estão anistiados”. Sem usar as palavras “ditadura” ou “tortura”, a candidata disse que acredita que a verdade “precisa vir à tona” e, por isso, defende o trabalho feito pela Comissão da Verdade. “A verdade é a melhor base para se fazer a História, de buscar formas de passar o trauma sem jogá-lo para baixo do tapete”, colocou.