
Débora Fogliatto
O candidato ao governo do Rio Grande do Sul pela coligação Frente de Esquerda, Roberto Robaina (PSOL) respondeu aos questionamentos da diretoria do Cpers/Sindicato nesta quinta-feira (11). Por uma hora, ele ouviu as perguntas e apresentou suas propostas ligadas à educação, as quais afirmou estarem intimamente ligadas ao problema da dívida do estado. O Cpers está ouvindo todos os candidatos ao Palácio Piratini e já foram ouvidos Ana Amélia Lemos (PP), José Ivo Sartori (PMDB) e Vieira da Cunha (PDT).
Em sua apresentação inicial, Robaina destacou as jornadas de junho, as quais considerou “não ser um acontecimento qualquer” e lembrou que a maior parte das demandas da educação estão vinculadas à necessidade de se obter recursos. Por isso, defendeu a necessidade de suspender o pagamento da dívida, o que “obrigaria a reorganização das finanças públicas”. “O primeiro passo para valorizar a educação é pagar salários minimamente decentes, sem isso não sei como”, afirmou. Ele aproveitou para criticar os outros candidatos, afirmando que “atacam problema da dívida ou falam de negociação, que não afeta nada”.
A primeira pergunta feita pela presidente do Cpers, Helenir Oliveira, foi relativa ao pagamento do piso, apontando que segundo a Constituição gaúcha 35% da receita do estado seria dedicada à educação. “Essa é uma luta fundamental. Quero lembrar que no estado há R$ 30 bilhões de isenções fiscais nos últimos três anos, recursos que poderiam servir à educação”, apontou Robaina, dizendo que “duvida muito” que grandes empresas deixem de investir no RS se não tiverem isenção fiscal. Ele também reconheceu que a destinação de recursos têm crescido mas que, em 2014, chegou a pouco menos de 30%.
Ele concordou com a proposta do Cpers de se “carimbar” os recursos dos royalties para educação, colocados em um fundo específico, para que sejam direcionados ao pagamento do piso inicialmente. “Acho ótima essa proposta, concordo”, afirmou.
Plano de carreira e meritocracia

Em clima de conversa e tranquilidade, Robaina se apresentou como um candidato que está ao lado dos professores, concordando com as reivindicações feitas pela categoria. A presidente do Cpers apontou que “alguns estados cumprem o piso, mas diminuindo o número de professores ou mexendo no plano de carreira”. O candidato do PSOL criticou que governantes têm tradição de “prometer o que não pode ser entregue” no quesito da educação.
Ele apontou que a ideia de pagar um completivo, proposta pelo atual governador Tarso Genro (PT) “não deixa de ser um desmanche indireto do plano de carreira” e sugeriu mexer no plano, o que, diante de murmúrios de reclamações das pessoas presentes, esclareceu que não dizia isso como uma possível piora. “O problema é mesmo esse, que sempre que se fala em mexer é para piorar”, observou.
Mostrando-se afinado com as demandas dos professores, Robaina lembrou que há reivindicações da categoria desde o governo Alceu Collares, no início dos anos 1990, como o plano de carreira, e que o Cpers não deixou de pautar suas demandas com o passar dos anos. “Sabemos que estamos nadando contra uma maré, mas essa insistência pode permitir que a maré vire em favor dos professores”, colocou.
Para o candidato, a meritocracia baseada em índices de “melhores” escolas e professores representa também um desmanche do plano de carreira. “Não pode haver concorrência de uma escola contra a outra, isso só vai gerar distorção e mais desigualdade. O mérito de um não pode arrebentar a possibilidade de o outro ter o mesmo mérito”, afirmou, defendendo que haja maior valorização de quem faz mestrado, doutorado e pós-doutorado. “Chega a um ponto em que o esforço de estudar não gera mais promoção em termos financeiros”, criticou.
Contrato emergencial, terceirizações e vale-alimentação
“Não entendemos emergência que dura 15 anos, isso representa precarização”, afirmou Helenir, com o que Robaina concordou. “Somos contra a terceirização, contra os contratos emergenciais, achamos que isso é sucateamento”, disse o candidato. Ele também criticou o governador por propor a privatização de presídios e disse que, por isso “não é muito otimista” de que a educação não será privatizada.
Sobre o vale-alimentação de R$ 166 mensais, ele sugeriu que se faça uma campanha popular pedindo apoio, porque “dá vergonha de dizer”. Robaina ainda cutucou Tarso Genro sobre as promessas de pagar o piso, afirmando que “se ele pedisse desculpas, talvez tivesse mais votos”.

Relação com as polícias
A última pergunta do Cpers foi sobre a relação da Brigada Militar com os movimentos sociais, à qual Robaina respondeu mencionando que o PSOL “também teve problemas com a BM” e que um militante está sendo perseguido, acusado de ações que não cometeu, como depredações. “Precisamos de alteração na Brigada e na Polícia Civil, porque há bons profissionais”, disse, defendendo uma mudança no plano de carreira da BM para que seja carreira única. “Temos que enfrentar tudo que tem de reacionarismo na polícia militar”, afirmou.
Compromisso
Ele assinou a carta de compromissos entregue pelo sindicato e, em suas considerações finais, colocou-se como um parceiro, dizendo que gostaria de “escutar mais” o Cpers e que acredita ter muito a aprender com os professores. “Claramente vocês conhecem muito a educação. As pautas da educação sempre estiveram politicamente presentes, independente de quem estivesse na direção do sindicato”, parabenizou, colocando que espera que o encontro seja “o primeiro de muitos”.