Opinião
|
8 de janeiro de 2025
|
09:35

Não à privatização da gestão dos resíduos em Porto Alegre (por Alex Cardoso)

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Alex Cardoso (*)

Sou Alexandro Cardoso, catador integrante do Movimento dos Catadores – MNCR e doutorando em antropologia social na UFRGS. Tentarei ser muito breve nas importantes palavras.

Senhoras e senhores, Porto Alegre está às vésperas de implantar uma concessão dos serviços de gestão de resíduos, ou seja, todos os serviços que hoje são feitos por várias empresas e até por cooperativas passarão as mãos de uma única grande empresa, num total de 35 anos de privatização, através da modalidade de PPP.

Leia mais: 
‘Os catadores estão ferrados, mas a população também’: PPP de Melo para o lixo é alvo de críticas

A situação dos catadores de rua é a exclusão total, pois a ideia é logo proibir o seu trabalho. Serão milhares de pessoas excluídas e, com certeza, criminalizadas, pois, na continuidade da realização de seu trabalho de coleta e reciclagem, serão possivelmente perseguidos, violentados e consequentemente presos.

Aqueles catadores que estão organizados nos galpões de reciclagem no regime de associações e cooperativas, além de estarem à disponibilidade da empresa — pois na concessão a prefeitura não tem mais nenhuma obrigação com os catadores –, terão que lidar com o sistema capitalista. Ou seja, os galpões terão “gestores” da empresa, e estes tratarão do andamento do trabalho. Logo, esta intervenção servirá para excluir e desempregar os catadores históricos, que atuam a muitos anos dentro do regime solidário, ou seja, de inclusão e não de super produção.

O regime de super produção é o do mercado, que gera emprego apenas para a faixa etária entre 24 e 35 anos, o caso contrário da faixa de idade de quem trabalha nos galpões, ou seja, pessoas mais jovens e mais velhos em relação à “faixa”.

Além do mais, a empresa terá em sua gestão duas pegas centrais, plantas altamente tecnológicas – ou seja, não geram postos de trabalho – que separam milhares de toneladas de resíduos. Logo, o mercado dos recicláveis será completamente modificado, pois será inserido um produto “mais barato”, ficando caro e “obsoleto” o produto da reciclagem popular dos catadores.

Uma grande injustiça que custará milhares de vidas.

Compartilhem essa informação, denunciem, participem desta luta.

Não à PPP.

Não à privatização.

(*) Alexandro Cardoso (@alexcatador), Catador e Cientista Social

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também