
Alex Cardoso (*)
Sou Alexandro Cardoso, catador integrante do Movimento dos Catadores – MNCR e doutorando em antropologia social na UFRGS. Tentarei ser muito breve nas importantes palavras.
Senhoras e senhores, Porto Alegre está às vésperas de implantar uma concessão dos serviços de gestão de resíduos, ou seja, todos os serviços que hoje são feitos por várias empresas e até por cooperativas passarão as mãos de uma única grande empresa, num total de 35 anos de privatização, através da modalidade de PPP.
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A situação dos catadores de rua é a exclusão total, pois a ideia é logo proibir o seu trabalho. Serão milhares de pessoas excluídas e, com certeza, criminalizadas, pois, na continuidade da realização de seu trabalho de coleta e reciclagem, serão possivelmente perseguidos, violentados e consequentemente presos.
Aqueles catadores que estão organizados nos galpões de reciclagem no regime de associações e cooperativas, além de estarem à disponibilidade da empresa — pois na concessão a prefeitura não tem mais nenhuma obrigação com os catadores –, terão que lidar com o sistema capitalista. Ou seja, os galpões terão “gestores” da empresa, e estes tratarão do andamento do trabalho. Logo, esta intervenção servirá para excluir e desempregar os catadores históricos, que atuam a muitos anos dentro do regime solidário, ou seja, de inclusão e não de super produção.
O regime de super produção é o do mercado, que gera emprego apenas para a faixa etária entre 24 e 35 anos, o caso contrário da faixa de idade de quem trabalha nos galpões, ou seja, pessoas mais jovens e mais velhos em relação à “faixa”.
Além do mais, a empresa terá em sua gestão duas pegas centrais, plantas altamente tecnológicas – ou seja, não geram postos de trabalho – que separam milhares de toneladas de resíduos. Logo, o mercado dos recicláveis será completamente modificado, pois será inserido um produto “mais barato”, ficando caro e “obsoleto” o produto da reciclagem popular dos catadores.
Uma grande injustiça que custará milhares de vidas.
Compartilhem essa informação, denunciem, participem desta luta.
Não à PPP.
Não à privatização.
(*) Alexandro Cardoso (@alexcatador), Catador e Cientista Social
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