
Biga Pereira (*)
A urgência de abandonar a escala de trabalho 6×1 no Brasil e pensar a vida além do trabalho está diretamente ligada à necessidade de um modelo de desenvolvimento que valorize o trabalhador e ofereça condições de vida dignas. A escala 6×1 compromete o bem-estar de milhões de brasileiros. Definir jornadas mais humanas e alinhadas às melhores práticas internacionais não é apenas questão de justiça social, mas também um passo essencial para o crescimento sustentável da economia.
Esse modelo de trabalho afeta todos os trabalhadores, mas é particularmente prejudicial para as mulheres. No Brasil, onde ainda recaem sobre elas as principais responsabilidades domésticas e familiares, essa jornada de seis dias reduz drasticamente o tempo para conciliar o trabalho com a vida pessoal. Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que mulheres com jornadas intensas sofrem mais com estresse, burnout e problemas de saúde do que os homens. Além disso, a falta de flexibilidade laboral restringe as oportunidades de desenvolvimento profissional para as mulheres. Em países que reduziram a jornada de trabalho, a participação feminina no mercado aumentou, favorecendo uma economia mais inclusiva.
Em nível internacional, muitos países já constataram que jornadas mais curtas aumentam a produtividade e a qualidade de vida dos trabalhadores, sem prejudicar a lucratividade das empresas. No Reino Unido, experimentos com mais de cem empresas comprovaram que a redução de jornada pode melhorar o rendimento. Países como Alemanha, França e Suécia já seguem esse modelo, que mostra que economia e bem-estar podem prosperar lado a lado. Ao manter a escala 6×1, o Brasil se coloca em desvantagem competitiva global, perdendo a oportunidade de adotar um modelo econômico inclusivo e moderno.
Superar a escala 6×1 traz vantagens claras: mais tempo para estudo, convivência familiar, lazer e atividades culturais, além de uma rotina menos desgastante e mais saudável. Para as empresas, isso representa um incentivo à inovação e práticas de gestão que aumentam produtividade, criatividade e satisfação dos funcionários, além de combater a informalidade e criar um mercado de trabalho mais justo. Em termos de saúde, reduzir a jornada ajuda a diminuir os níveis de estresse e o risco de acidentes de trabalho, promovendo um ambiente mais seguro.
A abolição da escala 6×1 representa um avanço civilizatório, capaz de impulsionar o crescimento econômico e o consumo consciente, construindo uma sociedade mais justa, inclusiva e competitiva.
(*) Vereadora do PCdoB em Porto Alegre
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