
Leonardo da Costa (*)
Utilizo o título “ambientalista”, pelo caráter pejorativo que foi atribuído a ele nos últimos anos, mais especificamente nos anos de retrocesso ambiental do governo Bolsonaro (que ainda não foi restabelecido por Lula), onde os “ambientalistas”, eram vistos como aqueles que só incomodavam.
Vamos aos fatos, nos últimos dois anos, acrescentamos algumas palavras ao nosso vocabulário, como “abrigo, Defesa Civil e enchente”, essas palavras vem do novo normal, a era dos eventos extremos.
O verão de 2023 registrou seca recorde e 54% dos municípios do Estado decretaram estado de emergência, o município de Hulha Negra foi o mais afetado, no inverno de 2023 a enchente atingiu 107 cidades e matou 57 pessoas, destruindo cidades do Vale do Taquari, como Muçum e Roca Sales.
Em janeiro de 2024, um temporal causou estragos em 49 municípios, uma pessoa morreu, mais de 1 milhão ficaram sem luz, cerca 100 desabrigados, milhares de árvores e centenas de postes caíram, as pessoas saiam nas ruas com facão, machado e motosserras para desobstruir as ruas. Em maio de 2024 a enchente, 478 municípios foram atingidos, 442 mil pessoas tiveram que deixar suas casas, 183 pessoas morreram e 27 nunca foram encontradas. Esse foi o maior desastre que já vivemos, até agora.
Tínhamos candidatos ambientalistas ou ligados à pauta climática?
Com toda certeza, menos do que deveríamos ter, mesmo sabendo que as mudanças climáticas acentuam as desigualdades, que vivemos em um país desigual onde o clima causa prejuízos econômicos e materiais a quem tem menos e a desigualdade só aumenta, nem os ditos “progressistas” dão o olhar sério que deveria.
O site Vote pelo clima nos apresenta 72 candidaturas supostamente compromissadas com a pauta climática, eu acrescentaria mais algumas pessoas que não se inscreveram no site como Tiago Dominguez por Capão da Canoa. Dentre essas, 15 foram eleitas, contudo, em um mundo onde qualquer pessoa levanta bandeiras para autopromoção, e talvez o que vou dizer agora surpreenda muitas pessoas: na política nem tudo que parece, de fato é.
Por conta da dissonância entre discurso e prática, proponho aqui 3 variáveis para categorizamos alguém como “ambientalista”. A historiadora ambiental Elenita Malta Pereira nos apresenta duas, primeiro realizar atividade em prol da defesa ambiental em determinado local ou região, segundo, fazer parte de um grupo, entidade ou coletividade liga ao tema, eu acrescentaria uma terceira categoria, ser xingado de “ambientalista”. A primeira categoria é intrínseca à solidariedade do ativismo, podendo sim ser de forma individual, contudo, as outras duas são relações coletivas, tanto de fazer parte de um grupo e ser identificado, reconhecido e validado pelo seus, como ser reconhecido de forma “pejorativa” por aqueles que ainda são contrários a pauta.
A falta de ambientalistas não se dá apenas nos municípios, mas no Estado também, dos 55 deputados estaduais não temos nenhum ambientalista, mas temos alguns compromissados com tema ambiental, como Jeferson Fernandes, Miguel Rossetto, Matheus Gomes, Stela Farias, Sofia Cavedon, entre outros, em um Estado afetado como o nosso, todos deveriam ser.
Mas qual é o diferencial da cidade que elegeu um ambientalista?
Cachoeirinha discutiu e discute o tema ambiental de forma impositiva, por “culpa” de um grupo ambientalista que pressiona diariamente a discussão desde fevereiro de 2020 e mesmo quem não quer ou não gosta, fala e pensa sobre, o meio ambiente, a natureza, os animais, as mudanças climáticas e a última floresta da cidade chamada Mato do Júlio. De 2020 até hoje, a pauta ambiental foi tema na cidade.
Essa cidade elegeu um ambientalista com 3.117 votos, ou 4,54% dos votos, mas não apenas isso, ele (eu) foi o mais votado da cidade, a pessoa mais jovem eleita (26 anos) e o segundo mais votado da história da cidade, então, isso quer dizer algo, ainda não sabemos o que, mas se fosse chutar, diria que é o trabalho comunitário aliado ao diálogo sobre o tema, algo raro nos dias de hoje.
Sabemos que as nossas cidades precisam se preparar para enfrentar esses eventos cada vez mais frequentes e a mudança começa pelo voto, pois os políticos definem os rumos das nossas cidades, mas infelizmente elegemos menos pessoas interessadas no tema do que deveríamos e até onde sei, só um ambientalista, por isso, proponho aqui uma união para criarmos mais ambientalistas e da mesma forma que existe a bancada do boi, criarmos a bancada ambiental.
(*) Ambientalista, historiador e professor.
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