Opinião
|
13 de dezembro de 2023
|
14:56

Carta pública à esquerda porto-alegrense (por Daiana Santos)

Daiana Santos (PCdoB). Foto: Luiza Castro/Sul21
Daiana Santos (PCdoB). Foto: Luiza Castro/Sul21

Daiana Santos (*)

Observo atentamente o debate político entre os partidos para uma candidatura em Porto Alegre e a necessidade de uma formação de Frente Ampla democrática, de luta e com cara de povo. Entendo que este é um esforço fundamental para derrotar o atraso que desafia os valores que nossa cidade historicamente defende.

Após acompanhar vários posicionamentos, decidi que é momento de expressar-me publicamente por meio desta Carta Aberta, para esclarecer e reforçar alguns pontos para essa empreitada que precisa ser coletiva.

Em um momento crítico para Porto Alegre, nossa retórica política precisa refletir a urgência da luta contra as políticas de exclusão social impostas pela atual gestão municipal. Ataques pessoais e divisões internas nos afastam do objetivo maior de derrotar o retrocesso social que atualmente comanda nossa querida cidade.

Os dias atuais em POA são marcados por um silencioso grito de desespero que ecoa das ruas esburacadas da periferia, na ausência de atendimento nos postos de saúde, na falta de vagas em creches, entre outros problemas. A vida concreta de nosso povo está sendo negligenciada, sufocada pelas desigualdades e pela perda da capacidade de investimentos em educação, saúde, infraestrutura e segurança pública.

A cidade testemunha uma gestão municipal que privatizou a Carris, retirando linhas de ônibus das comunidades, demitindo trabalhadores e aumentando o sucateamento do transporte público. A pergunta que nos atormenta é: que Porto Alegre estamos construindo?

Esta não é apenas uma crise de serviços, é uma crise social, democrática, participativa e política. A distância de atuação do poder público e a realidade vivida pelas pessoas precisa ser diminuída. Pois, quando alguém não encontra atendimento nas unidades básicas de saúde, ou nos equipamentos da assistência social, uma vaga para seu filho na creche e/ou na escola, ou se sente inseguro nas ruas, no transporte público noturno, isso é o reflexo de uma política que falha cotidianamente com seu povo.

O Rio Grande do Sul enfrentou neste ano uma série de desastres naturais que afetaram diversas regiões do Estado, incluindo Porto Alegre e Região Metropolitana. Dezenas de famílias ficaram desabrigadas e, até hoje, enfrentam as consequências do descaso do poder público.

Este é o momento para uma resposta sincera e direta: o que faremos para mudar essa realidade? Não podemos nos permitir ficar estagnados no debate vazio de protagonismo político que não alcança as mesas das famílias que lutam diariamente pela sobrevivência.

Assim, quero dizer publicamente que a mudança que nós, do PCdoB, propomos vai além do político. É uma mudança que pulsa nas veias de nossa cidade, que pensa na periferia, nos vulneráveis, nos negros e negras, nas pessoas em situação de rua, nas pessoas com deficiência, nos idosos, nas crianças, nas mulheres e nos LGBTs. É uma mudança que se preocupa com o direito à cidade, à moradia digna, à educação, à saúde, à segurança alimentar.

Este é o projeto que defendo, um projeto que coloca a vida e a dignidade das pessoas acima de tudo. Precisamos de um novo modelo de candidatura para Porto Alegre, que surja de uma consulta participativa e que reconheça as conquistas políticas e ações dos últimos anos, especialmente a valiosa experiência da Bancada Negra.

Não buscamos uma candidatura exclusiva de qualquer partido, grupo ou bancada, mas sim uma que nasça do envolvimento ativo da população, desafiando o modelo neoliberal. O que nós não queremos mais são candidaturas formuladas em gabinetes fechados e círculos restritos da elite política porto-alegrense.

Por fim, é preciso dizer que na nossa luta política para derrotar o retrocesso de Porto Alegre, é necessário que mantenhamos a sororidade e a união entre nós como um princípio inviolável. Não podemos permitir que o fervor de nossa batalha se transforme em uma briga entre nós mesmos, em que nos voltamos uns contra os outros, esquecendo o verdadeiro adversário. Quero lembrar que o nosso inimigo reside nas ideologias que buscam desmantelar o tecido democrático e progressista de nossa sociedade, não dentro de nossas próprias fileiras.

Assim, renovo o meu compromisso diário: minhas energias estarão dedicadas a derrubar o governo do atraso em POA e tudo o que ele representa. Conclamo que precisamos unir forças e avançar com determinação para a vitória da justiça, da igualdade e da verdadeira representatividade política. Sigo na luta, pois nada poderá ser sobre o povo sem o povo.

(*) Militante do PCdoB, Deputada Federal

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também