Opinião
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19 de abril de 2022
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10:33

Enfermagem: trabalhadores em busca de valorização (por Estêvão Finger)

Foto: Giulian Serafim/PMPA
Foto: Giulian Serafim/PMPA

Estevão Finger (*)

As lutas são variadas, e de muito tempo. Não é de hoje que os trabalhadores e entidades representativas travam árduas batalhas pela valorização de nossa profissão. A enfermagem, tão presente na vivência de todos nós, faz parte da vida da sociedade. Em minha experiência profissional, sempre quando perguntava a um paciente se ele já esteve sob os cuidados da enfermagem ou então conhece alguém que já precisou estar nessa condição, a resposta sempre era unânime e firme: sim. Não obstante à falta de vontade política de grande parte dos gestores em nosso país, essa minha categoria profissional é exemplar e incansável naquilo que temos de mais precioso: cuidar da vida de cada cidadão.

Não há vitórias sem grandes lutas. A vida é assim. A luta das 30 horas semanais como carga horária máxima de trabalho, embora começou a tramitar no Congresso Nacional nos idos dos anos 2000, desde 1955 encontra diversas barreiras e justificativas para a sua não implementação. Certamente, a redução de carga horária traria benefícios à sociedade também. Quando nós, trabalhadores da enfermagem, laboramos mais descansados, temos condições de oferecer um cuidado ainda mais qualificado à cidadania. Outra luta, e não menos relevante é a do piso salarial para a Enfermagem, onde foi reeditado recentemente na Câmara dos Deputados (Projeto de Lei 2.564/2020), a qual estabelece um piso salarial para a categoria. Muito importante, igualmente, o projeto sobre o Ensino Presencial da Enfermagem. Ainda, há outras lutas como os Projetos de Lei do Senado sobre o Descanso Digno, Aposentadoria Especial, Dimensionamento Adequado para toda a enfermagem.

A pandemia da Covid-19 trouxe à reflexão da sociedade e de nossos gestores quanto à complexidade da enfermagem, muitas vezes invisibilizada no submundo da área da saúde. Estar no front, é lidar com diversos sentimentos: incertezas, angústias, medos. A alegria de ajudar a salvar uma vida; mas a tristeza de perder outra. Afinal, somos seres humanos cuidando de outros seres humanos. Temos família, amigos, preocupações diversas. A primeira valorização seria ter equipamentos individuais e coletivos de proteção adequados. Nem todos os serviços de saúde oferecem isso, o básico, de modo adequado e seguro. Profissionais afastados, se recuperando da doença, e sem reposição de um colega, ou seja, nos sobrecarregando. Houve muitas mortes entre nós, e cada morte era uma ceifada no peito. E os colegas que ficaram com sequelas diversas e podem se tornar incapacitados para a profissão? Ah, os aplausos …? São importantes, sim, mas a sociedade e os gestores têm uma dívida histórica conosco, trabalhadores da enfermagem. É hora de avançar, com o apoio da população, na aprovação desses importantes Projetos de Lei.

Tive a oportunidade, enquanto conselheiro do Conselho Regional de Enfermagem do RS e também como presidente do Sindicato dos Enfermeiros do RS, de participar de diversas lutas, seja estadual ou nacional. Foram anos de aprendizado, enfileirado lado a lado com colegas da enfermagem, de todo nosso país. Como principal desafio, mas importante, é sempre se ter em mente a importância da unidade na luta, envolvendo as mais diversas representações de nossa categoria, seja sindicatos, federações, conselhos, associações, etc. A certeza de que a nossa profissão é essencial à saúde da população, estando presente em todo o funcionamento do serviço de saúde, inclusive nas 24 horas do dia, é o que motiva a continuar na luta árdua luta. Logo, mais uma Semana da Enfermagem se aproxima, será entre 12 a 20 de maio. A pergunta que deixo para reflexão: o que a sociedade fará por nós, para além de aplausos?

(*) Enfermeiro Especialista em Saúde da Família e Comunidade, ex-presidente do Sindicato dos Enfermeiros no RS, ex-conselheiro do Conselho Regional de Enfermagem do RS

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