
Frente Parlamentar em Defesa dos Povos de Matriz Africana (*)
Na semana passada novamente recebemos a notícia de uma iniciativa de Projeto de Lei para nomear o Mercado Público de Porto Alegre. Nós, da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos de Matriz Africana, entendemos que essa é uma discussão que precisa ser feita com a população da cidade. E que deve ser feita especialmente com os membros do batuque, umbanda e quimbanda que têm no Mercado Público parte fundamental de sua tradição enquanto povos.
Sabemos que o Mercado Público, enquanto um patrimônio histórico, cultural e imaterial dos porto-alegrenses, vêm sendo assediado por diversas iniciativas privadas que violam seu caráter público. Recentemente, o Tribunal de Contas e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul votaram contrários a viabilidade técnica da concessão, por 20 anos, do Mercado Público de Porto Alegre a um ente privado. Por isso o combate aos anseios privatistas contra o mercado deve ser uma luta constante. O Mercado pertence a todas e todos que constroem diariamente sua história.
Os mercados centrais possuem relevância social e cultural para diferentes sociedades mundo afora, caso que não é diferente em Porto Alegre com o Mercado Público. Por isso, somos guardiões deste lugar de pertencimento e é nosso dever fazer a manutenção dos valores e tradições ali presentes, oriundos de uma diáspora Africana.
O Mercado Público possui uma história de mais de 152 anos, sendo patrimônio histórico e cultural da cidade e do estado. Construído por escravizados, por ser um território de muito movimento e estar cercado de um Rio o assentamento do orixá Bará, ou Ẹ̀ṣù foi realizado em nome de sua ancestralidade, e essa Divindade, que para os povos de matriz africana aqui do RS reina sobre os caminhos, a comunicação, a política realizada quando exercemos a troca do dinheiro pela mercadoria e insumos que usamos para os nossos preceitos.
Todos esses reinos que Bará comanda estão vivos em nossa resistência de nosso território que é o Mercado Público, por isso é comum ver o Povo de matriz africana comprando no mercado ou saudando no centro do mercado, quando realizam o conhecido “Passeio”. O legado ali presente não é algo material restrito ao prédio, mas sim um PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL e IMATERIAL. Sendo parte da filosofia de vida, da tradição e da ancestralidade de um povo e que é profundamente desrespeitada quando se quer privatizar, conceder ou denominar algo que é de caráter público e popular.
Nesse sentido, nós da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana somos contrários a qualquer iniciativa que venha denominar o Mercado
Público de Porto Alegre.
(*) Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana
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