Opinião
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14 de outubro de 2010
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13:17

Todas as cores querem ser verde

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Heverton Lacerda*

Após um primeiro turno desbotado, onde o Partido Verde desempenhou um importante e inédito papel no pleito eleitoral aqui no Brasil, estamos convivendo com propagandas e debates políticos anacrônicos nesse início de segundo turno. Ao invés de projetos, mentiras e acusações.

No tocante aos temas de interesse dos ambientalistas, Serra tenta, de forma atrapalhada, inserir o discurso verde em suas propostas capitalistas da direita conservadora; Dilma, vermelha, cala. Até a linguagem visual do programa de televisão dos tucanos aderiu ao verde na tentativa de agradar os eleitores de Marina Silva. A tarjeta que fica sob o nome do candidato ficou verde; no plano de fundo do logotipo SERRA 43 o já tradicional azul (que representa o capitalismo no campo político-ideológico) cede lugar à cor verde; até o cenário,onde o candidato faz de conta que está trabalhando e pensando, ficou mais iluminado e com leves referências à natureza. Tudo isso é muito sutil para o eleitor padrão, que muitas vezes não percebe de imediato a estratégia. Essas técnicas, muito exploradas nas propagandas, fazem parte da semiótica. Nesse caso, o marqueteiro de Serra tenta mudar a embalagem ultrapassada para vender mais, mas o fato é que o conteúdo continua sendo o mesmo produto industrializado cheio de conservantes, corantes e tantos outros artificialismos antinaturais que fazem mal à saúde.
A propaganda de Serra, por coerência, deveria usar a cor do céu de São Paulo: cinza. Há muitos anos os tucanos governam aquele estado e são, sem dúvida, os maiores responsáveis pela poluição daquele lugar, junto com um grande número de eleitores iludidos pela propaganda azul brilhante, que ofusca a visão e induz ao erro.
Outro elemento que não pode passar despercebido na estratégia tucana nesse segundo turno é a tentativa de apropriar-se do discurso ambientalista de Marina. Ela ainda não definiu a quem vai apoiar, embora já tenha afirmado que o País está pronto para ter uma mulher na presidência. No entanto, a não oficialização do apoio de Marina para qualquer um dos candidatos abre espaço para Serra, oportunamente, remeter-se a um pseudo-apoio do PV, na tentativa de iludir o eleitor.

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente do Governo Lula, que hoje ocupa destacado papel frente aos partidários e simpatizantes do Partido Verde, foi a escolhida para encabeçar a chapa do PV na corrida à Presidência da República. Ela não conseguiu ir para o segundo turno, mesmo com a expressiva votação que teve. No entanto, desempenhou um papel fundamental ampliando definitivamente o discurso ambientalista no Brasil. Seu apoio pode ser decisivo agora.

“Lamento que os candidatos não tenham percebido o que quase 20 milhões de brasileiros sinalizaram sobre como se deve decidir o futuro do país”. Marina Silva, via twitter (#silva_marina)  durante o debate entre Dilma e Serra, na tv Bandeirantes, no dia 10 de outrubro.

* jornalista e presidente da ONG Instituto de Comunicação Social e Cidadania


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