Marieta Pires (*)
Os candidatos gostaram. O diretor de jornalismo da TV Bandeirantes também. Fernando Mitre chegou a dizer que o debate entre os presidenciáveis deu o tom da campanha: discussões programáticas, sem ataques pessoais. Isso, afirmou o jornalista, é o que o eleitor quer. O eleitor – segundo Mitre – amadureceu, cansou de ouvir acusações e xingamentos. Deseja mesmo é saber o que os candidatos pretendem fazer se chegarem ao poder. Se o primeiro debate entre os que postulam a presidência da República marcou as estratégias de campanha, saberemos com o passar o tempo. O certo é que este foi um encontro civilizado, educado, sem perdedores. Ninguém levantou a voz, colocou o dedo no nariz do(a) adversário(a) ou jogou uma casca de banana para que ele (ela) se estatelasse. As regras inibem o verdadeiro debate, provocam sono no telespectador e dão saudades do tempo em que o ex-governador Leonel Brizola tentava chegar ao Planalto.
Mas, se ninguém foi rebaixado para a segunda divisão, quem acumulou pontos para vencer o campeonato? A candidata petista Dilma Rousseff? O tucano José Serra? A ex-petista e agora verde Marina Silva? Ou Plínio de Arruda Sampaio, do PSol?
Em quase duas horas e meia de perguntas e respostas, Dilma e Serra tiveram a oportunidade de expor suas posições 24 vezes. A polarização PT-PSDB já era esperada, com os candidatos posicionados na defesa e no ataque. Parecia não haver brecha para os outros dois candidatos. Tanto que Plínio resolveu alertar: “Também quero ser perguntado”. Marina Silva fez-lhe a vontade, no início do terceiro bloco dos cinco em que o programa foi dividido.
Dilma começou demonstrando nervosismo e insegurança. Não conseguia concluir o pensamento no tempo determinado pela produção. Uma chatice para o telespectador, que ficava espichando o ouvido, sem saber o que a candidata tentava dizer. Inexperiência pura. Mas, como uma mulher aplicada que é, já no terceiro bloco se mostrava segura, a ponto de se valer, com sucesso, da ironia – uma arma perigosa – contra Serra e Plínio. Seu adversário tucano – tarimbado em debates – se fez de desentendido quando Dilma lhe perguntou sobre o Programa Luz para Todos e fez questão de esclarecer que é um programa de eletrificação rural. O tucano começou e concluiu a discussão no mesmo tom, sempre buscando levar o debate para a área da saúde, o seu xodó. A insistência com o tema, levou o candidato do PSol a afirmar que Serra só fala de saúde porque é “hipocondríaco”.
Plínio, um homem de 80 anos, com sonhos e expectativas de um jovem de 20, recorreu ao humor para marcar presença. Não tinha nada a perder. Só a ganhar. Além de reivindicar ser perguntado, denunciou a falta de igualdade com que os candidatos são tratados e acusou os adversários de “bom-mocismo”, alertando que só com luta é possível derrubar o muro, existente “entre as aspirações (dos brasileiros) e a realidade do País”. Acabou sendo um dos nomes mais tuítados durante o debate.
A voz fraca de Marina não a prejudicou em qualquer momento. Disputou com o Serra o título de carrancudo(a). Não relaxou nunca. Mas também não se mostrou irritada. Soube passar o seu recado. Defendeu a possibilidade de o Brasil crescer economicamente, sem agredir a natureza, algo em que Plínio não acredita.
Nos ataques de Dilma ao governo Fernando Henrique e de Serra ao de Lula, a candidata petista mostrou ter feito bem a lição de casa. Não só estava municiada de dados, como soube manejá-los bem. Aproveitou o espaço para mostrar o que o governo Lula fez em oito anos. Não perdeu qualquer chance de exaltar os números conquistados, como os 14 milhões de novos empregos. E não caiu na proposta de Serra de não fazer “uma campanha com o olho no retrovisor”.
No final, Dilma – entre os quatro –, apesar da insegurança inicial e do palavreado técnico, acumulou alguns pontos para o final do campeonato. Foi ela a surpresa do debate. Pela primeira vez se apresentou, ao mesmo tempo, para milhões de brasileiros como candidata à presidência. E pela primeira vez enfrentou os adversários de frente. E não se saiu mal.
(*) Profissional liberal