
Dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) mostram que, nos últimos dois meses, as escolas têm sido o principal foco de surtos de covid-19 na Capital. Desde a semana epidemiológica 10 (de 6 a 12 de março) até a semana epidemiologia 19 (de 8 a 14 de maio), foram notificados 73 surtos à Vigilância em Saúde da Prefeitura, quase todos em escolas, entre privadas, estaduais e municipais.
A definição de surto é a ocorrência de duas ou mais pessoas de um estabelecimento diagnosticadas com covid-19 por exame de PCR ou antígeno, em período inferior a 14 dias.
Conforme o último boletim epidemiológico da SMS, é possível constatar que o crescimento dos surtos nas escolas tem acontecido desde o começo de abril, quando foram registrados 8 surtos na semana epidemiológica 14 (de 3 a 9 de abril). Nas semanas seguinte houve queda nos indicadores, mas logo depois foram registrados 12 surtos entre os dias 1º e 7 de maio, referente à semana epidemiológica 18.
O aumento de casos de covid-19 nas escolas de Porto Alegre coincide com o período de relaxamento das medidas não farmacológicas de prevenção. No dia 11 de março, o governo do prefeito Sebastião Melo (MDB) desobrigou o uso de máscaras ao ar livre – medida que, na prática, já vinha sendo adotada pela população. Uma semana depois, no dia 18 de março, Melo anunciou a desobrigação do uso de máscara também em ambientes fechados.

Professor de música na EMEF Lidovino Fanton e diretor da Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa), Ezequiel Viapiana conta serem frequentes os relatos de casos de covid-19 entre alunos, professores e funcionários de escola. Além do problema de saúde em si, os casos positivos afastam professores da sala de aula por vários dias, prejudicando o ensino por falta de profissionais.
Viapiana comenta que a mudança na política de enfrentamento da pandemia tem causado o aumento de casos nas escolas. O revezamento que havia entre as turmas para a aula presencial não há mais, fato acrescido do não uso de máscara e agravado pelas condições ruins de ventilação nas escolas do município. Para o professor, as mudanças recentes no protocolo de enfrentamento da crise sanitária criam um cenário que “deseduca” o cuidado individual que vinha sendo trabalhado ao longo da pandemia.
“Todo esse trabalho cai e causa agora o adoecimento da comunidade escolar”, lamenta o diretor da Atempa.
Segundo ele, não há, até o momento, qualquer orientação da Secretaria Municipal de Educação (Smed) com relação ao aumento de casos de covid-19 nas escolas do município. “Não tem nenhum movimento da Prefeitura.” O professor também reclama do fim da verba própria para a compra de equipamentos de proteção individual (EPI), antes fornecidos pela Prefeitura. Agora, cabe a cada escola realizar a compra do material, como máscara e álcool em gel, com o orçamento da instituição. “A Prefeitura está se desresponsabilizando”, critica.
A diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), Cecilia Farias, confirma que, desde a semana passada, tem havido muitos casos de covid-19 nas escolas. Para ela, o entendimento equivocado de que a pandemia está controlada tem sido responsável pelo aumento da contaminação.
“Consideramos que a liberação de máscaras nas salas de aula é um dos fatores que explicam essa situação. A falsa sensação de que a covid já estava controlada é outro fato que tem potencializado a contaminação”, afirma Cecilia.
Como os surtos afetam tanto escolas públicas quanto privadas, o Sul21 busca o posicionamento das secretarias de Educação de Porto Alegre e do governo estadual, bem como do Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe). As informações serão acrescidas assim que recebidas.