Saúde
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13 de setembro de 2024
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17:16

Fumaça de queimadas contribui para superlotação de emergências em Porto Alegre

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
UPA Cruzeiro do Sul | Foto: Robson da Silveira/SMS PMPA
UPA Cruzeiro do Sul | Foto: Robson da Silveira/SMS PMPA

De acordo com dados do painel de monitoramento da Prefeitura de Porto Alegre, as emergências que atendem adultos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estavam operando em 223% de suas capacidades nesta sexta-feira (13), enquanto as emergências pediátricas estavam em 147%. A avaliação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é que a superlotação foi impactada pela fumaça das queimadas de outras regiões do País e da América Latina que pairou sobre a Capital nesta semana.

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O painel da SMS que monitora a situação das emergências indica que os leitos adultos em todos os hospitais que atendem pelo SUS em Porto Alegre estavam operando em 191% de lotação, com 388 pessoas internadas para um total de 203 leitos e outras 71 pessoas aguardando internação. A situação mais grave ocorre no Hospital São Lucas, que está com 380% de lotação.

As emergências das quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Capital também operam com superlotação, que chega a 514% na UPA da Bom Jesus e a 441% na UPA da Zona Norte — Moacyr Scliar. A UPA da Cruzeiro do Sul opera em 311% de lotação e a UPA da Lomba do Pinheiro em 237%.

“O que a gente notou com relação a pedidos de internação por doenças respiratórias nos últimos meses é que teve um aumento de 20% de pedidos em setembro quando comparados com agosto”, diz o coordenador de Urgências da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Paulo Ricardo Bobek.

 

Indicadores do painel da Situação das Emergências de Porto Alegre | Foto: Reprodução

Ele pontua que a média diária de pedidos de internação, adultos ou pediátricos, para o mês de setembro estava em 79 no mês de setembro, mas saltou para 90 na segunda-feira (9), oscilou para 88 na terça (10) e foi a 104 na quarta (11). O mesmo aconteceu com as internações por doenças cardíacas, que saltaram de uma média diária de 43 em setembro para 62 pedidos no dia 10.

“A gente vinha observando uma média diária de 52 pacientes internados em hospitais com problemas respiratórios, tanto população pediátrica como adulta, no mês de julho. Em agosto, foi de 50 e, em setembro, saltou para 56. Nesta semana, foi de 72 a 74 pacientes internados por dia. Portanto, um aumento considerável. A gente não pode fazer um nexo causal específico, teria que ver caso a caso a situação de cada pessoa, mas certamente a poluição atmosférica tem um impacto importante, sim, na saúde da população”, diz Bobek.

Ele salienta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 20% a 30% das doenças respiratórias podem ser relacionadas com a poluição atmosférica, que também tem incidência em mortes prematuras por doenças cardíacas, infartos, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, broncopneumonias e até mesmo de pacientes de câncer de pulmão.

Para enfrentar a situação, a SMS reforçou a Operação Inverno, que conta com 40 unidades de saúde com horário estendido para 12 horas de funcionamento, cinco unidades abertas em locais estratégicos durante o final de semana para dar suporte para emergenciais, 16 unidades e quatro farmácias distritais abertas até às 22h. Além disso, Bobek também salienta que, desde janeiro, já ocorreu uma expansão de 111 de leitos para enfermaria adulto, 68 leitos clínicos, 42 leitos de oncologia, 10 leitos de enfermaria pediátrica, 10 leitos de UTI pediátrica e 10 leitos de UTI, além da qualificação de 75 leitos em emergência para poder dar suporte ventilatório pulmonar e evitar que pacientes precisem de UTI. No entanto, ele afirma que a expansão da rede de saúde em Porto Alegre foi contrabalanceada pela queda da oferta de leitos da Região Metropolitana.

“A gente notou que, apesar de ter feito um esforço maior de internar pacientes e atender mais na atenção primária — a gente conseguiu internar e atender 5 mil pessoas a mais neste ano até agora, comparando com o mesmo período do ano passado –, quando a gente observa os dados de municípios próximos da Região Metropolitana, principalmente do Vale do Gravataí — Alvorada, Cachoeirinha, Viamão, Gravataí e Canoas –, teve uma redução mais ou menos da mesma monta. Então, foi um esforço para a gente se manter estável no processo. Precisamos melhorar a questão que chamamos de contrarreferência na regulação. Ou seja, devolver as pessoas para os seus municípios de origem para poder ter mais ofertas de atendimento aqui, ter mais leitos disponíveis”, diz.

Segundo a SMS, a UPA Zona Norte chega a ter entre 20% e 25% de pacientes de outras cidades, enquanto a média nas UPAs da Lomba do Pinheiro, Bom Jesus e Cruzeiro do Sul gira em torno de 10% a 15%. Outro fator que contribui para a superlotação das emergências, conforme Bobek, é o de que 75% dos casos que chegam a estes locais são classificados com os níveis de urgência azul e verde, o que não representa necessidade de atendimento em emergências e poderiam ser resolvidos em unidades de atenção primária, permitindo mais atendimentos para casos classificados com os níveis amarelo e vermelho.

Bobek ainda estima que o final do inverno e o início da primavera, quando há um aumento de doenças respiratórias causadas por alergias, deve manter o cenário de alerta pelas próximas semanas. “Tivemos toda a situação de estresse da enchente e pós-enchente que impacta na imunidade das pessoas. E, agora, com toda essa questão de poluição atmosférica que se somou, a gente entende que, provavelmente, esse cenário se estenda por mais dias ou até semanas”, afirma.


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