Eleições 2024
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8 de outubro de 2024
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17:59

Mainardi: ‘Foi minha eleição mais difícil, pesada e perigosa’

Por
Luciano Velleda
lucianovelleda@sul21.com.br
Luiz Fernando Mainardi foi eleito prefeito de Bagé pela terceira vez | Foto: Luiza Castro/Sul21
Luiz Fernando Mainardi foi eleito prefeito de Bagé pela terceira vez | Foto: Luiza Castro/Sul21

Depois de oito anos, o PT voltará a governar a cidade de Bagé e, mais uma vez, sob o comando de Luiz Fernando Mainardi, eleito prefeito pela terceira vez da cidade da região da Campanha. O petista já governou o município por dois mandatos, entre 2001 e 2008. Atualmente deputado estadual, Mainardi foi vereador de Bagé entre 1983 e 1985 e entre 1989 e 1992, deputado federal entre 1995 e 2000, e secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio entre 2011 e 2014.

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Com 32.893 votos (51,71% dos votos válidos), Mainardi derrotou Roberta Mércio (PL), que fez 24.767 votos (38,93%) e Alvaro Meira (PDT), que recebeu 5.952 votos (9,36%). Roberta foi a candidata apoiada pelo atual prefeito Divaldo Lara (PTB), cujo mandato tem sido marcado por uma série de denúncias de irregularidades, inclusive alvo de operações policiais.  

Nessa eleição, a disputa em Bagé foi marcada por disparos de tiros feitos dia 15 de setembro, durante um comício do PT. Na ocasião, o suspeito fugiu. Cerca de 10 dias depois, uma operação das polícias Federal e Civil prendeu duas pessoas e cumpriu 17 mandatos de busca e apreensão. Segundo a investigação, um grupo criminoso apoiava uma candidata a vereadora e agiu para interferir na eleição.  

Nesta entrevista ao Sul21, Mainardi afirma que a eleição deste ano foi a “mais perigosa” da sua vida. Ainda assim, diz chegar ao final do pleito acreditando que se inaugura um novo momento na política brasileira, com mais importância em se discutir os problemas reais da população. 

Acredito que em algum momento, a racionalidade volta e acho que, aos poucos, está voltando as pessoas debaterem mais os assuntos da cidade e menos as acusações, como se viu nesses últimos tempos”, afirma.

Confira os principais pontos da entrevista:

Sul21:  Qual avaliação você faz da vitória e seu retorno à Prefeitura de Bagé?

Mainardi: Enfrentei, na minha sétima eleição para prefeito de Bagé, a eleição mais difícil, mais pesada, mais perigosa. No curso da campanha, descobrimos que estávamos enfrentando o crime organizado. Outros casos nacionais mostraram que o crime organizado se imiscuiu na política e a política dentro do crime organizado. Mas as polícias agiram muito fortemente. Eles investigaram com uma competência muito grande, prenderam duas pessoas e vão a fundo descobrir quem são os responsáveis e de onde veio o comando. Essa questão tem que ser esclarecida para que nunca mais ocorra.

Então, foi uma campanha difícil porque enfrentamos um governo que teve seis operações da Polícia Civil, só esse ano foram duas operações, 12 processos movidos pelo Ministério Público. Em algum momento, isso será julgado. Parecia assim que eles não podiam perder a eleição, então tudo de inimaginável eles fizeram nessa campanha. Uma campanha de baixarias do começo ao fim. Alguém para ser sucessora de um psicopata com ele, só pode ser do mesmo tipo. Ele conseguiu achar uma candidatura à altura dele, por isso foi uma eleição tão pesada e difícil.   

Sul21:  Como foi trabalhar a militância nesse cenário?

Mainardi: Imagina quando os caras descarregam um revólver num comício, não foi fácil recuperar a mobilização, mas recuperamos e aí o povo veio. Fizemos uma caminhada no sábado com milhares de pessoas. No dia da vitória, duvido que em algum lugar do Estado tivesse mais gente do que em Bagé. Era o grito da liberdade. O que ele fez com os servidores públicos, a opressão, a perseguição, um negócio muito pesado. 

Sul21:  Com essa situação, será preciso iniciar o mandato, em janeiro do ano que vem, com cuidados diferentes em relação à sua segurança? 

Mainardi: Com certeza. Na verdade, cuidados que eu não tinha antes. O que vou fazer é um programa de governo de segurança pública, com muita qualidade, inteligência e articulação institucional, instalar de novo um gabinete de gestão integrada de segurança pública. Quero fazer um grande programa de videomonitoramento, integrando as câmeras privadas ao sistema. Vamos conceber uma ideia de uma cidade segura, vigiada, é verdade, mas segura. Fortalecer a Guarda Municipal, profissionalizar, integrar com a Brigada Militar, para diminuir os índices de violência. Quero conversar com o governador sobre isso, porque a melhor resposta que posso dar diante de tudo isso é melhorar o sistema de segurança. Mas acredito que a tendência é de não acontecer mais, as forças policiais inibiram, a polícia não vai dar mole e vai ficar em cima até pegar os caras e levar à Justiça. 

Sul21:  Como você avalia o desempenho do PT no Rio Grande do Sul, depois de ter perdido muitas prefeituras pelo Brasil nas últimas eleições e agora voltar a vencer com o senhor em Bagé, também em Rio Grande e estando no segundo turno em cidades importantes do Estado?

Mainardi: A política é realizada sempre em períodos históricos, em ciclos, e nenhum ciclo dura para sempre. É bom para a democracia que haja alternância. Vivemos um período muito atípico em função do papel das mídias no processo eleitoral. Isso é muito ruim porque a gente disputa uma cidade e não consegue debater os problemas e a busca por soluções, mais vale o cancelamento, essas coisas que despolitizam. E a tendência, quando vai nesse campo, é o rebaixamento da política. São Paulo foi a prova. 

Acredito que em algum momento, a racionalidade volta e acho que, aos poucos, as pessoas estão voltando a debaterem mais os assuntos da cidade e menos as acusações, como se viu nesses últimos tempos. Menos mentira, fake news e lacrações. Espero que esse novo ciclo que se abre seja um ciclo de debates politizados, programáticos, com soluções. Percebi que as pessoas queriam saber o que faríamos para resolver os problemas e não estavam muito afim de baixarias. Espero que isso aconteça também na próxima eleição para presidente da República.  


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