Eleições 2024
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23 de outubro de 2024
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14:21

Eleição do ‘voto contra’: rejeição a um candidato guia escolhas do eleitorado em Porto Alegre

Por
Bettina Gehm
bettinagehm@sul21.com.br
Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Foto: Isabelle Rieger/Sul21

As últimas pesquisas eleitorais para o segundo turno em Porto Alegre apontam uma provável reeleição de Sebastião Melo (MDB), com 55% dos votos, enquanto Maria do Rosário (PT) aparece com 42%. Os resultados, divulgados pela AtlasIntel nesta terça-feira (22) e pela pelo Real Time Big Data na segunda-feira (21), são muito parecidos entre si e indicam que a campanha de ambos os candidatos não resultou em grandes reviravoltas nesta reta final.

O Sul21 foi às ruas do Centro Histórico ouvir os eleitores porto-alegrenses para saber o que pesa na hora de escolher um candidato. Parece ser a rejeição a um dos lados, mais do que o apoio ao outro, um fator decisivo. Esse cenário já se desenhava no primeiro turno: a pesquisa Quaest demonstrava rejeição de 40% para Melo, somente atrás de Rosário, com 48%.

Nenhum dos entrevistados “virou o voto” entre o primeiro e o segundo turno, mas ainda há indecisos – para estes, falta ouvir mais propostas e menos ataques entre Melo e Rosário. É o caso da recepcionista Irma da Silva, que ainda está na dúvida sobre em quem votar.

A candidata em que Irma votou no primeiro turno — Juliana Brizola (PDT) —  não passou para o segundo, e agora a eleitora acompanha os debates para tomar uma decisão. “Tem muita crítica, eu não gosto quando um ataca o outro”, pontua. “Para mim, o candidato tem que ser uma pessoa mais coerente com o que fala. Na campanha, infelizmente, um ataca o outro ao invés de colocar seus projetos para a gente saber”.

Entre os 341 mil eleitores que se abstiveram de votar no primeiro turno, está o repositor Ruan de Oliveira. Ele pretende ir às urnas no próximo domingo (27), mas também ainda não escolheu um candidato. “As campanhas não têm me influenciado muito, não tenho acompanhado. Sinceramente, eu vou votar porque é obrigatório, acho mais fácil votar do que desperdiçar o voto”, pondera. “Mas ando meio desiludido com essa questão de eleição. Normalmente só muda a pessoa [no cargo de prefeito(a)]”.

A fala de Ruan vai ao encontro de muitas outras, além das análises sobre o primeiro turno em Porto Alegre. Uma reportagem do Lab J, da Famecos/PUCRS, mostra que o principal motivo para a abstenção dos eleitores é a desilusão com a política. Entrevistado pelo veículo, o cientista político Alison Centeno resumiu: “Foi uma eleição muito rígida, que levou os polos políticos ao extremo, ocasionando um cansaço à população”.

A aposentada Vera Jurandira Machado votou em Rosário no primeiro turno e vai repetir o voto no segundo. O motivo é a insatisfação com a gestão do prefeito Melo, que Vera ajudou a eleger em 2020. “Pode ser que ela [Rosário] não faça tudo o que diz que vai fazer. Mas, pelo menos, [não vamos] ver o Mercado cheio d’água, a água invadindo a cidade. Eu sei que é uma catástrofe, mas foi uma tragédia anunciada”, alega. Além disso, segundo a aposentada, “as coisas não estão como ele [Melo] prometeu. A fila da saúde não andou”, diz, após relatar que espera desde abril um exame pelo SUS.

Mesmo não sendo “muito favorável” à administração do atual prefeito, o autônomo Luis Itaboraí vota em Melo. “É uma coisa bem particular. Fui eleitor do PT por muitos anos, mas o partido me desempregou, infelizmente, em 2005. Eu trabalhava em um segmento e votei no Lula, aquela coisa de trabalhador, e ele me desempregou numa hora bem difícil. É mais por um ressentimento”, afirma.

A empresária Andrea Fabrício também é eleitora de Melo, mas considera que ele seja um bom prefeito. “Voto sempre no MDB, eu sou da direita. Em primeiro lugar, Maria do Rosário jamais. Eu votaria em qualquer outro que não fosse nela”, acrescenta.

Já no eleitorado de Rosário, incluem-se pessoas que não consideram que a petista seja a candidata ideal, mas se recusam a reeleger Melo. O empresário Igor Centeno Valentin, por exemplo, diz que está apostando na mudança. “Acho que a Maria do Rosário não tem fama de uma boa política, mas eu votaria nela por uma Prefeitura melhor para Porto Alegre. Seria uma aposta, na verdade”.

Já o desenvolvedor Eduardo André Soares se considera um eleitor de esquerda. Ele não conseguiu votar no primeiro turno por questões de logística, mas quer incorporar seu voto aos de Rosário no próximo domingo. “Queria que outro candidato de esquerda estivesse no lugar dela, mas, para fazer um voto de diferença, vou votar nela”.

A assistente administrativa Roselane Gomes Pontes, por outro lado, não teve dúvidas. “Sou de partido de esquerda desde os 16 anos, quando comecei a votar. Por mais que algumas pessoas não gostem da postura da Maria, ela vem se aperfeiçoando e já fez muitas coisas por Porto Alegre, sim”.


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