
Darlene Pereira (PT) assumiu a candidatura à Prefeitura de Rio Grande no começo de setembro, quando faltava cerca de um mês para o primeiro turno da eleição. Ela substituiu Halley Lino de Souza, também do PT, que desistiu da disputa devido a problemas de saúde. Ex-pró-reitora de Extensão da Universidade Federal de Rio Grande (FURG), ela já havia disputado a eleição de 2020 e perdido para Fábio Branco (MDB), o atual prefeito. Antes disso, comandou o Gabinete de Programas e Projetos Especiais durante o governo do ex-prefeito Alexandre Lindenmeyer (PT), no mandato entre 2013 e 2016.
Dessa vez, Darlene venceu Fábio Branco com 49,13% dos votos válidos, contra 34,12% do atual prefeito. “Foi muito bonita essa caminhada”, afirma a prefeita eleita, em entrevista exclusiva ao Sul21.
Embora tenha assumido a chapa na reta final da campanha, Darlene explica não ter tido dificuldade com a missão devido ao fato de ter coordenado o programa de governo do partido para regressar à Prefeitura de Rio Grande. Uma diferença vantajosa em relação a 2020, ela explica, foi o sentimento vindo do eleitorado feminino. Se na campanha anterior sentia o desejo de “boa sorte” vindo de muitas mulheres, dessa vez percebeu a vontade de que elas vencessem juntas. “Isso ganhou força”, afirma.
Leia os principais trechos da entrevista:
Sul21: Como você avalia a vitória no último domingo depois de ter assumido a candidatura nos últimos 30 dias da eleição?
Darlene Pereira: Foi uma eleição bem bonita e que refletiu a nossa caminhada. A gente brinca que trocamos o pneu com o carro andando. A vantagem foi que eu não estava fora do processo, estava na campanha, tinha coordenado o programa de governo e estava na coordenação geral da campanha, então conhecia o processo por dentro. Foi fácil tocar, eu conhecia o projeto, o que nós queríamos. O que mudou foi o perfil, sou mulher e isso acabou fazendo diferença no diálogo com a comunidade que ansiava por mudança, referendou o que a gente já tinha como diagnóstico na elaboração do programa de governo, principalmente a ampliação na minha relação com as mulheres, esse sentimento de representação. Isso foi me dando força também e a importância de estar representando as mulheres. Foi muito bonita essa caminhada.
Sul21: A sua vitória ocorre num momento em que o PT tem perdido o número de prefeituras pelo Brasil nos últimos anos, mas no Rio Grande do Sul, dessa vez, além da sua vitória e do retorno ao governo de Rio Grande, o partido ganhou em Bagé e disputará o segundo turno em cidades importantes do Estado. Como você observa o momento do PT no RS e no País?
Darlene Pereira: Eu sempre falo sobre a importância da democracia e quando o povo percebe, às vezes, o que perdeu. Tem vezes que quem ganha não reflete essa vitória no povo e o pessoal sente essa mudança. Foi bem isso que aconteceu aqui e talvez a gente não tenha, em 2020, conseguido mostrar para a comunidade. Daí a importância das pessoas entenderem o processo, que as coisas têm a ver com a política pública, porque o que acontece é um desgaste, parece que a política é ‘bandida’ e na verdade não, a gente depende da política para fazer as mudanças. Isso refletiu aqui no alto índice de abstenção, na descrença das pessoas com a política e, às vezes, da forma como a gente faz, com briga e guerra.
Aqui a oposição e o próprio candidato majoritário, que é o atual prefeito, tentou nos colocar nessa polarização, de que o PT é o ‘bandido da história’, para o PT não ganhar. O PT ficou 8 anos no poder em Rio Grande e fez muito, e hoje a comunidade reconhece isso quando nos coloca de volta. Eu não caí nessa jogada da disputa polarizada, meu diálogo foi sempre com a comunidade, apresentando as propostas. Aconteceram, infelizmente, muitas coisas que desgastaram o PT, eu faço minhas críticas, acho que a gente tem que fazer a crítica que nos faz crescer sobre as falhas que tivemos ao longo do processo, mas é um processo de construção e o PT ainda é a melhor e a maior ferramenta para transformação social, mas precisamos mostrar isso de outro jeito para poder retornar.
Sou representante de uma grande frente, é assim que a gente vai conseguir superar os desafios que estão postos na política, respeitando cada partido, conversando e entendendo que a coisa é maior do que um único partido. E o governo Lula também vem mostrando à comunidade a falta que o PT fez quando saiu do governo. A gente precisa mostrar à comunidade, a cada ação, a importância do gesto político. Não basta colocar a política pública na mão das pessoas, a gente precisa fazer a reflexão de onde ela vem.

Sul21: Você sentiu falta dessa consciência dentro da universidade?
Darlene Pereira: Eu vivi a expansão universitária que o Lula fez nesse País, o aumento da assistência estudantil. Aqui na FURG, nós mais do que dobramos de tamanho, mas isso não refletia na consciência do estudante cotista, do estudante bolsista, que estava ali por uma política pública que acreditava que tinha que investir nele. Às vezes, a gente dá e não mostra de onde vem e porquê vem.
Sul21: Quais os principais desafios à frente da Prefeitura de Rio Grande, ao menos no primeiro ano?
Darlene Pereira: São muitos. Estou recebendo um orçamento para 2025 com mais de R$ 100 milhões de déficit. Então, isso é um grande desafio. A gente precisa correr para ampliar a arrecadação do município e pretendo também buscar recursos externos, mas temos três grandes desafios para o ano que vem. Um deles é na educação, que as aulas possam iniciar com professores em sala de aula. Essa é uma grande queixa da comunidade e dos professores nos últimos anos, que é iniciar as aulas sem professores. Esse vai ser meu primeiro desafio na educação, dar condição mínima das aulas iniciarem sem problema de falta de professores.
Com relação à cidade, uma das grandes queixas da comunidade é o descuido com a cidade, com a limpeza e com a infraestrutura. Rio Grande tem mais de 70 bairros e muitos não têm calçamento, não têm pavimentação e não têm drenagem. São bairros sem a mínima condição de dignidade das pessoas. Vamos começar janeiro fazendo um grande mutirão na cidade, cuidando, limpando, recolhendo lixo.
Outra área importante que tem demanda para resolver rápido é a questão da saúde, a reestruturação das equipes de estratégia de saúde da família e a retomada dos médicos nos postos de saúde. São três grandes ações imediatas. Fora isso, vamos trabalhar com projetos de captação para a contenção das cheias. Esse é um assunto que quero já tratar em Brasília semana que vem.