
Ao tornar pública, nesta quinta-feira (19), a decisão que autorizou a Operação Contragolpe da Polícia Federal contra militares suspeitos de planejar um golpe de Estado, prender e matar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), cita no documento que os golpistas começaram a vigiar os alvos em novembro de 2022, antes da posse de Lula, em janeiro de 2023.
A decisão de Moraes (ele mesmo também alvo dos golpistas para ser assassinado) destaca que o plano criminoso começou a ser elaborado após a realização de uma reunião no dia 12 de novembro na casa do ex-ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, também candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro na eleição de 2022.
Segundo a apuração da PF, os investigados denominaram de “Copa 2022” a operação que visava consumar um golpe de Estado no Brasil. O dia 15 de dezembro de 2022 foi a data escolhida para se colocar em prática o plano de assassinar Lula e Alckmin. Neste dia, Lula estava em São Paulo participando de um evento com catadores de materiais recicláveis, enquanto Alckmin se reunia com governadores em um hotel em Brasília.
Três dias antes, em 12 de dezembro, diversos locais da Capital Federal foram alvos de atentados de um grupo que, por vários dias, ficou acampado em frente ao Quartel General do Exército pedindo apoio aos militares para um golpe de Estado, de forma a evitar o retorno de Lula à Presidência da República.
Duas semanas depois, no dia 24 de dezembro, integrantes deste mesmo grupo chegaram a colocar uma bomba em um caminhão de combustível estacionado nas proximidades do aeroporto de Brasília. Investigações sobre estes eventos apontaram, na época, indícios de que esses atos estavam conectados.
“As atividades anteriores ao evento do dia 15 de dezembro de 2022 indicam que esse monitoramento teve início, temporalmente, logo após a reunião realizada na residência de Walter Braga Netto, no dia 12 de novembro de 2022”, diz a Polícia Federal na decisão do ministro Moraes que autorizou a operação deste terça-feira (19).
Ainda conforme a PF, envenenar Alexandre de Moraes foi uma das ideias cogitadas pelo grupo. “Foram consideradas diversas condições de execução do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público. Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto”, afirma trecho do documento.
O envenenamento também foi a hipótese cogitada pelo grupo para assassinar Lula e Alckmin, segundo as investigações. “Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico”, diz a PF.
Ainda de acordo com os investigadores, a morte de Alckmin, chamado de “Joca” pelo grupo, seria necessária para impedi-lo de assumir a Presidência da República em caso da morte de Lula e, assim, consumir então o golpe de Estado.
“Já o codinome Joca, por sua vez, é uma referência ao citado vice-presidente Geraldo Alckmin. […] Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de Geraldo Alckmin que a chapa vencedora estaria extinta”, cita outro trecho da decisão de Moraes.
De acordo com a Polícia Federal, a investigação está relacionada com a atuação de organização criminosa com cinco eixos:
a) ataques virtuais a opositores;
b) ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
c) tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
d) ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia e;
e) uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, o qual se subdivide em:
e.1) uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais;
e.2) Inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina; e
e.3) Desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito”