
A construção do Porto Meridional de Arroio do Sal foi duramente criticada pelo professor de Geografia Polar da UFRGS Jefferson Cardia Simões nesta segunda-feira (3), durante a coletiva de imprensa sobre a circum-navegação da Antártica liderada por ele. “É um absurdo. Quem ganha com isso?”, questionou. Além de pioneiro da Glaciologia no Brasil, Simões é membro da Academia Brasileira de Ciências.
Leia mais:
Entre o lobby econômico e a proteção ambiental, projeto do porto de Arroio do Sal avança
Demanda de empresários da região serrana do Rio Grande do Sul, o projeto teve contrato para a execução assinado no último dia 18 de outubro pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. A medida autoriza a exploração de instalação portuária na modalidade de Terminal de Uso Privado (TUP). A construção prevê investimentos de quase R$ 1,3 bilhão, destinados à movimentação de granel sólido, granel líquido e gasoso, carga geral e conteinerizada, e a criação de mais de 2 mil empregos diretos e quase 5 mil indiretos.
Simões, no entanto, alerta para o impacto ambiental da construção do porto. “Todo o transporte de sedimentos será alterado. Os sedimentos do norte serão levados para o sul de Arroio do Sal”, explica.
Outro ponto levantado pelo professor é a poluição: “todas as praias ao sul vão ser afetadas por mais óleo na praia”, diz. Além disso, o porto vai demandar a construção de pontes sobre lagoas, promovendo a ligação com a Rota do Sol. “É a maior maluquice que eu já vi: fazer pontes num dos lugares ainda totalmente preservados no Rio Grande do Sul”, afirma Simões
Também participante da expedição à Antártica, a professora Venisse Schossler pontua que a deriva litorânea vai ser interrompida. “Teremos prejuízo ambiental muito forte na questão biológica, na dinâmica sedimentar e na questão urbana. As praias ao sul da obra serão totalmente prejudicadas. Quem vive do turismo em Capão da Canoa, Tramandaí, Atlântida, vai sofrer com isso. A longo prazo, as pessoas não vão mais querer ir para lá”, diz.
Haverá, ainda, impacto socioeconômico no porto de Rio Grande. “Os riograndinos estão apavorados com a ideia. Temos um super porto e tudo será desviado de lá. Por que não se faz uma estrada de ferro, ou até mesmo se recupera o porto de Porto Alegre? É uma série de absurdos, uma coisa que foi pouquíssimo tentada, que é um porto em litoral aberto, sem haver uma enseada”, diz o professor.
A professora Schossler acrescenta que a cidade de Rio Grande precisa de crescimento econômico. “É uma cidade que, após a finalização dos últimos projetos sobre o porto, ficou abandonada economicamente”.