Meio Ambiente
|
12 de fevereiro de 2025
|
16:33

Estiagens ocorrem com mais frequência que inundações e RS também está despreparado, avalia pesquisador 

Estiagem é  fenômeno climático mais conhecido e mais recorrente no RS, segundo professor da FURG Foto: Corbari
Estiagem é fenômeno climático mais conhecido e mais recorrente no RS, segundo professor da FURG Foto: Corbari

O fenômeno La Niña tem provocado estiagem no Rio Grande do Sul e já há 115 municípios afetados no Estado, segundo a Defesa Civil. Meteorologistas projetam que o evento climático deve durar até abril. Ainda assim, o problema da estiagem não é passageiro no Estado. “Este é o nosso fenômeno climático mais conhecido e mais recorrente e para o qual nós também não estamos preparados”, avalia Marcelo Dutra da Silva, doutor em Ciências e professor de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). 

Para o pesquisador, uma série de mudanças precisam ser feitas para que o Rio Grande do Sul seja resiliente em períodos secos. “A gente continua despreparado na questão da reservação da água, a gente continua não dando atenção à necessidade de preservar a cobertura ciliar e as nascentes, a mudar nossas práticas de cultivo”, relata. 

O professor da FURG relembra que não só o governador Eduardo Leite como seus antecessores pediram em diversas ocasiões recursos ao governo Federal para combate à estiagem, e ressalta que o problema recorrente ainda deve piorar com o aprofundamento das mudanças climáticas. “Os períodos prolongados de estiagem retrocedem algumas décadas. Uma área cada vez maior do estado está sendo atingida e uma área, então, cada vez maior está sendo comprometida com perdas e prejuízos no campo. A gente já sabe que o padrão climático mudou, que está tudo muito mais intenso. Então, a gente tem que começar a olhar um pouco mais para o que que a gente pode fazer em razão disso, medidas de adaptação, medidas de cuidado, na nossa forma de fazer, de consumir, a gente precisa refazer o nosso modelo de sobrevivência” 

Nas cidades, Marcelo Dutra da Silva afirma que a iniciativa que melhor mitigaria os efeitos da estiagem seria barrar certas ações que vêm sendo feitas pelas prefeituras. “O que a gente mais tem notícia é de podas ou supressões de vegetação que continuam sendo feitas sem nenhuma atenção ao período adequado, à forma ideal. Quando a gente olha, por exemplo, em Paris estão substituindo grandes áreas de estacionamento por vegetação, na tentativa de aumentar o conforto urbano, porque com o aumento das temperaturas tudo que uma cidade pode ter de bom é uma vegetação extensa”.

Além da arborização, segundo o professor da FURG, é necessário cuidar dos mananciais hídricos. “Essa riqueza que cidades do litoral [do RS] têm em abundância, mas que a gente aos poucos está comprometendo a qualidade, fazendo um mau uso, um desperdício. Sempre isso tudo tem a ver com a ideia de planejamento, com a ideia dos instrumentos adequados de planejamento, para evitar que se saia fazendo por aí obras faraônicas, ideias que são muito mais políticas e não tão técnicas para tentar dar um alento à comunidade que está preocupada, ansiosa, mas que, no fundo, talvez até repercutam apenas em gastos, mas não necessariamente em algum resultado. Então, tem muito para ser feito, mas está devagar demais”. 

O fenômeno La Niña ocorre quando a temperatura média do Oceano Pacífico, na região equatorial, fica 0,5 grau abaixo da média por três meses consecutivos. A medição é feita pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), uma organização governamental dos Estados Unidos. Esta agência declarou no dia 9 de janeiro deste ano que estava ocorrendo La Niña. “O oceano determina padrões de chuva e temperatura em diversas regiões do planeta”, explica Danielle Ferreira, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). 

A La Niña costuma causar estiagem no Rio Grande do Sul, e mais especificamente nas regiões oeste e noroeste do Estado. “Em ano de La Niña as frentes [frias] passam mais rápido e são mais oceânicas, então causam mais chuvas na região litorânea, e o oeste e o noroeste são mais prejudicados com escassez de chuvas. Você vê uma redução tanto na frequência quanto na quantidade de chuvas. A gente espera que as chuvas voltem a se regularizar nessa parte oeste no final do mês de abril, início de maio”, projeta Danielle.

A meteorologista explica que o calor extremo que atingiu o Rio Grande do Sul nos últimos dias não tem relação direta com La Niña, já que a tendência do fenômeno é gerar resfriamento. No entanto, a relação pode ser indireta, uma vez que a estiagem pode ter contribuído para o aumento das temperaturas. “Essa falta de chuva inibiu a formação de nuvens, e aí você tem a radiação incidindo diretamente no continente e causando essas temperaturas mais elevadas. Tem o fator de mudanças climáticas que pode estar influenciando também”.


Leia também