
Moradores dos bairros Rio Branco e Bom Fim, em Porto Alegre, apontam supostos excessos na poda de árvores realizada pela CEEE Equatorial na Região. As podas estariam “mutilando” as árvores, comprometendo sua capacidade de regeneração.
“As podas foram feitas pelo menos nos dois últimos finais de semana, aos domingos pela manhã, evitando inclusive mobilização da comunidade”, afirma a médica Niva Martinez, moradora do bairro Rio Branco. “Ocorreu pelo menos nas ruas Dona Laura, Mostardeiro e adjacências. Também já vi na João Telles, no Bom Fim. As podas são grotescas”, diz.
A CEEE Equatorial informou que as podas se tratam de manejo preventivo das árvores em contato com a rede de distribuição. “Esta ação é essencial para evitar interrupções no fornecimento de energia e garantir a continuidade do sistema elétrico, em conformidade com a norma NBR 16246”, alega a empresa em nota.
Professor do Departamento de Botânica da UFRGS e coordenador-geral do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), Paulo Brack afirma que a concessionária de energia não obedece às normas da ABNT referentes às podas, que deveriam não ultrapassar o corte de 25% da copa. “Além disso, a empresa corta e leva mais de três semanas para recolher a galharia”, diz.
Em dezembro passado, o professor registrou a galharia de uma árvore que havia sido podada e estava há um mês sem ser recolhida. “Principalmente na primavera, a poda deixa as árvores mais vulneráveis a doenças, elas ficam mais sujeitas a cair ao longo do tempo”, afirma Brack em um vídeo que publicou no Facebook.
Ainda em novembro de 2024, a Assembleia Legislativa aprovou, em regime de urgência, o PL 301/24, que altera as regras para podas e cortes de árvores no âmbito estadual. O texto “estabelece diretrizes e critérios para o manejo de vegetação, nativa e exótica, sob redes de distribuição e linhas de transmissão de energia elétrica”. Entidades ambientais, como o Instituto InGá e a Agapan, no entanto, criticam o projeto por priorizar a segurança das concessionárias, sem garantir a preservação adequada das árvores.
Em entrevista ao Sul21, Brack explicou que, ao facilitar o manejo de árvores em áreas urbanas sem uma avaliação adequada por órgãos ambientais, o projeto dá mais liberdade para as empresas realizarem cortes e podas sem supervisão, o que pode desconfigurar a paisagem, prejudicar a arborização e aumentar a incidência de ilhas de calor nas cidades.
Em nota, a CEEE Equatorial afirmou que as podas são executadas por uma empresa parceira, que conta com um responsável técnico e com o acompanhamento de um técnico agrícola em campo. “Ao longo do último ano, a companhia intensificou a realização de capacitações teóricas e práticas em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre (SMAMUS), visando assegurar a qualidade técnica das podas e minimizar impactos ambientais”, salienta a empresa.
A concessionária reforçou ainda que a poda preventiva e o manejo da vegetação em áreas públicas são responsabilidade da Prefeitura. Em terrenos particulares, o proprietário é responsável pela poda. “A Distribuidora atua em parceria com os órgãos competentes e segue a determinação da licença de manejo vegetal concedida pela Fundação Estadual de Meio Ambiente”, finalizou a CEEE Equatorial.