
Desenvolvido a partir de um estudo do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp, no campus de Sorocaba, o Índice de Racismo Ambiental (IRA) é uma ferramenta que busca quantificar e evidenciar como o racismo estrutural se manifesta de maneira ambiental nas regiões metropolitanas do Brasil – especialmente entre as populações negras, pardas e indígenas. O estudo, ainda, tem como objetivo guiar a formulação de políticas públicas que enfrentem essas desigualdades.
A produção do IRA utilizou um modelo matemático baseado na “Lógica Fuzzy”, um método amplamente reconhecido por sua eficácia em várias áreas do conhecimento. A metodologia do índice é composta por quatro etapas principais: fuzzificação, inferência fuzzy, base de regras e defuzzificação. Quanto maior a racialização e menor a oferta de habitação e saneamento em uma área, maior será o valor do IRA, indicando um cenário mais desigual.
O estudo, até o momento, abrangeu cinco regiões metropolitanas distribuídas pelas macrorregiões do Brasil: Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Manaus (AM), São Luís (MA) e Sorocaba (SP). Dentre os municípios avaliados, Autazes (AM) se destacou com o maior IRA, enquanto Curitiba (PR) registrou o menor.

Vidal Mota Junior, um dos criadores do IRA e cientista social, explica que pesquisas anteriores já apontavam que 70% da população das favelas brasileiras é composta por pessoas negras, que habitam áreas onde faltam infraestrutura básica, como água, esgoto e moradia digna. Neste contexto, o IRA vem para revelar essas desigualdades de maneira estruturada, se tornando um importante instrumento na criação de projetos antirracistas.
Segundo Junior, “o índice tem como proposta ajudar gestores a enxergarem melhor a desigualdade e o racismo dentro da dimensão ambiental, permitindo que percebam como o racismo também se manifesta na oferta — ou, muitas vezes, na ausência — de acesso a políticas como habitação e saneamento, como destacamos neste estudo, que ainda precisa ser ampliado”.
O cientista também reforça que essa forma de analisar a “racialização” das populações com menor acesso às políticas públicas pode ser progressivamente expandida para abranger outras áreas. “Estamos apenas começando, mas já percebemos que essa metodologia é promissora e poderá ser usada no combate à desigualdade racial no Brasil”, disse.