Meio Ambiente
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11 de setembro de 2024
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16:47

Apenas uma estação no RS mede poluente da fumaça que mais afeta a saúde da população

Por
Luciano Velleda
lucianovelleda@sul21.com.br
Céu de Porto Alegre encoberto recentemente pela fumaça tóxica das queimadas 
| Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Céu de Porto Alegre encoberto recentemente pela fumaça tóxica das queimadas | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Que a fumaça proveniente das queimadas que assolam o Brasil está sobre a cabeça de quem mora no Rio Grande do Sul, não há qualquer dúvida. Que o ar está ruim para respirar também já se sabe, se percebe, se sente. Agora, o quanto essa fumaça afeta a saúde da população, já é uma resposta mais difícil de ter.

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Isso porque a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), órgão responsável pelo monitoramento da qualidade do ar no RS, só tem cinco estações de monitoramento da qualidade do ar em todo o estado. Todas as estações são em cidades da região metropolitana, o que deixa sem informação a população que vive no interior. E apenas uma estação, a de Triunfo, mede o material particulado MP2,5, um dos principais poluentes relacionados ao fogo das queimadas.

Os incêndios que têm ocorrido, prioritariamente, nos estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso, além de Bolívia e Paraguai, emitem material particulado subdivididos em relação ao seu tamanho. O MP10, com partículas inaláveis menores que 10 micrômetros (referente ao diâmetro do tamanho da partícula), é um dos poluentes monitorados nas estações de Canoas, Esteio, Gravataí, Guaíba e Triunfo. Porém, apenas a estação do polo petroquímico de Triunfo, sob responsabilidade da Braskem, efetua a medição do material particulado fino MP2,5.

“Quanto menor for esse número, mais ele vai entrar no nosso organismo, podendo chegar até a corrente sanguínea, dependendo do tamanho. Essa é a importância de monitorar esse poluente, porque quanto mais fino, mais perigoso ele é pra saúde”, explica Helen Sousa, pesquisadora do Instituto Energia e Meio Ambiente. “O MP2,5 é um poluente extremamente preocupante para a saúde.”

Maior cidade do RS, Porto Alegre não tem estação de monitoramento da qualidade do ar. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

O monitoramento do MP2,5 é recomendado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) desde 2018.

A pesquisadora cita o caso de São Paulo, onde a maioria das estações de monitoramento é guiada pela concentração do MP2,5. Na prática, isso significa que, em algumas estações, o MP10 pode estar “moderado” ou “ruim”, mas a qualidade do ar naquela estação é classificada como “muito ruim” porque o MP2,5 está muito alto.

“É o MP2,5 que vai guiar, por isso é importante termos essa informação, principalmente considerando as características desses fogos relacionados a emissão de material particulado mais fino. Então a gente fica um pouco perdido sem ter essa informação específica do poluente”, analisa a pesquisadora do Instituto Energia e Meio Ambiente.

Ao refletir sobre as quatro estações de qualidade do ar no RS que não medem o MP2,5, Helen diz ser preciso avaliar quais são os objetivos das estações para saber porque não controlam esse poluente.

“Como a gente pode monitorar a que a população está cronicamente exposta?”, questiona a pesquisadora. “A gente consegue sentir que a qualidade do ar está ruim porque estamos num episódio muito crítico, mas se a gente monitorar a qualidade do ar durante o ano todo, vamos ver que estamos bem longe do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda como qualidade segura”, afirma.

Por isso, ela destaca a importância de haver avaliações da qualidade do ar não apenas em momentos críticos, mas sim ao longo do tempo, de modo a permitir a melhor análise do ar ao qual a população está diariamente exposta. “Falta informação para a gente discutir sobre a qualidade do ar, avaliar os planos, fazer relatórios anuais e saber o quão longe estamos das recomendações da Organização Mundial da Saúde que definem o que seriam condições seguras para a população.”

No Rio Grande do Sul, até as 18h desta quarta-feira (11), os dados do monitoramento da estação de Triunfo, a única que mede MP2,5, ainda não estavam disponíveis no site da Fepam. Isso mesmo o boletim sendo referente ao dia anterior, terça-feira (10). Ao contrário de São Paulo, nenhuma estação de monitoramento da qualidade do ar no RS fornece dados em tempo real.

Tabela dos Índices de Qualidade do Ar e seu efeito na saúde humana. Tabela: Fepam/RS

Segundo o boletim da Fepam desta terça-feira (10), apenas o Índices da Qualidade do Ar (IQAr) medido na estação de Esteio estava classificado como “bom”. Nas estações de Canoas, Gravataí e Guaíba, a qualidade do ar está “moderada”. E na estação de Triunfo, a única que mede o material particulado MP,25, a informação ainda não está disponível.

É considerada com qualidade do ar “boa” o índice abaixo de 40 IQAr, ou seja, dentro da faixa entre 0 e 40 IQAr. Acima desse limite, entre 41 e 80 IQAr, a qualidade do ar é classificada como “moderada”. E entre 81 e 120 IQAr, o ar é classificado como “ruim”.

Em Porto Alegre, cidade que concentra a maior população do Rio Grande do Sul, não há qualquer monitoramento da qualidade do ar.


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