
Depois de deixar o Parque Harmonia devido às inúmeras denúncias do impacto ambiental causado pelas obras da concessionária Gam3 Park, o Festival Turá será realizado neste final de semana, no Anfiteatro Pôr do Sol. A organização do festival e até mesmo os artistas, como Caetano Veloso, Emicida e Alceu Valença, receberam durante meses apelos de entidades ambientalistas para que o evento não ocorresse no Harmonia. A decisão da mudança de local foi anunciada dia 20 de outubro.
Na ocasião, a Time For Fun, produtora do festival, declarou que a mudança foi uma sugestão do Instituto Curicaca, ONG que atua na conservação da biodiversidade, salvaguarda cultural e promoção do ecodesenvolvimento. Desde que o Anfiteatro foi definido como o novo local dos shows, a entidade, num acordo com os realizadores, planejou medidas de mitigação dos impactos potenciais sobre as espécies de cágados e tartarugas que frequentam a área.
Construído em 2000, o Anfiteatro Pôr do Sol aterrou uma área úmida junto à Orla do Guaíba e, após o abandono do espaço pelo poder público nos últimos anos, passou a ser mais frequentado por cágados, tartarugas e quero-queros.
Agora, com a proximidade do evento, o Curicaca colocou em prática uma ação para proteger a fauna local. Entre os dias 20 de outubro e 10 de novembro, a equipe do instituto montou uma operação para localizar vestígios de ninhos na área onde a infraestrutura do festival seria instalada.

Assim, foram marcados e escavados 101 pontos e, destes, encontrados apenas seis desovas, que foram então realocadas para um lugar arenoso e seguro nas proximidades do Guaíba. Segundo o Curicaca, no período em que o trabalho foi efetuado, houve o registro de dois cágado-de-barbelas, duas tartaruga-tigre-d’água nativas e uma tartaruga-de-água-doce-americana, essa última uma espécie exótica e invasora, considerada uma ameaça às espécies nativas.
“O estudo nos fez entender que o aterro do Anfiteatro parece inadequado para a desova dos quelônios. Os vestígios de ninhos estavam num substrato formado por brita grossa associada à caliça compactada. Muito provavelmente a maioria dos animais começa a cavar, mas desiste sem realizar a postura, o que explica apenas 6% de desovas. Além disso, os ovos estavam enterrados sob 15 a 20 cm de uma camada dura, grosseira e compactada de brita e terra. Dificilmente uma tartaruguinha que descascasse ali alcançaria a superfície”, explica o Curicaca.
Após a identificação e transporte das desovas, a ação de proteção da fauna incluiu o fechamento de frestas inferiores nos tapumes colocados pela produção do festival, impedindo o acesso e circulação de quelônios, orientação dos trabalhadores, além do monitoramento diário pelos técnicos do Curicaca durante e após o evento. A proteção à fauna incluiu ainda o isolamento das áreas externas próximas ao Guaíba e o Arroio Dilúvio, e a proteção de um ninho de quero-quero.
De acordo com o instituto, são necessárias medidas definitivas de cuidado e proteção à fauna que frequenta o Anfiteatro Pôr do Sol. O Curicaca planeja entregar os resultados da ação realizada às autoridades do município para subsidiar os possíveis usos futuros do local. O trabalho, inclusive, deve ser publicado em artigo científico.
