
Ainda sem muitos detalhes, o governador Eduardo Leite (PSDB) indicou que o Estado planeja investir na análise meteorológica capaz de antecipar, com maior precisão, fenômenos climáticos extremos que atinjam o Rio Grande do Sul. A novidade surge quase dois meses após a enchente histórica que afetou o Vale do Taquari, no começo de setembro, destruindo cidades da região e causando a morte de mais de 50 pessoas.
Na ocasião, Leite chegou a discutir com o jornalista da GloboNews André Trigueiro, alegando que os sistemas meteorológicos disponíveis não haviam alertado para o volume recorde de chuvas que impactaram o Vale do Taquari. A reclamação do governador, no entanto, foi rebatida no dia seguinte pela MetSul. A empresa de meteorologia afirmou que os modelos matemáticos anteciparam sim os volumes de chuva e a “gravidade do que avizinhava já era conhecida muitos dias antes”.
A disposição do governo em investir no setor foi divulgada, nesta segunda-feira (23), durante assinatura de contrato de parceria com o Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI, na sigla em inglês) para consultoria na governança, análise de risco e vulnerabilidade climática do RS diante dos desafios das mudanças climáticas.
“É preciso conseguir ter uma estrutura que melhor nos dê condição de fazer os alertas com a maior precisão possível, porque a estratégia para poder proteger a vida das pessoas é que a previsão oferecida seja objetiva e confiável. Se constantemente você emite alertas que não se confirmam, depois o sistema perde a credibilidade. Então a gente precisa ter a maior assertividade e credibilidade num sistema que quando faz o alerta, as pessoas identificam que é real, que a água realmente vai atingir ou que outro fenômeno vai acontecer, porque se elas não confiarem no sistema, a gente vai ficar emitindo alertas que não vão ser atendidos. Perde a credibilidade e as pessoas acabam não atendendo aos nossos apelos”, explicou Leite, durante evento na Fábrica do Futuro, em Porto Alegre
O governador ponderou que o governo emite alertas a partir das informações e dados de que dispõe, mas afirmou que muitas vezes os alertas não se confirmam ou são genéricos.
“É um alerta válido, mas ele não dá precisão, de forma que faça com que a pessoa saiba que vai chover 300 mm nesse ponto e a gente precisa saber quais são os efeitos dessa chuva, nessa localidade, nesse rio, nos seus mananciais e conseguir dar os alertas para dizer às pessoas: ‘Olha, em três horas essa localidade vai estar debaixo da água, então evacue essa área imediatamente’. A gente não tem essa capacidade. A gente quer caminhar para isso, para poder ter um sistema com credibilidade que faça com que as pessoas tomem as medidas necessárias quando, objetivamente, a gente observar que vai acontecer um desastre”, explicou.
Segundo o governador, o investimento no novo sistema de meteorologia está tramitando pela Defesa Civil, com acompanhamento das secretarias de Planejamento e do Meio Ambiente e Infraestrutura. O governo planeja fazer a contratação via licitação, ao mesmo tempo em que avalia parceria com sistemas de previsão meteorológica já existente. Como exemplo, levantou a possibilidade de acordo com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
“Semana passada recebemos a informação de que a Universidade Federal de Pelotas tem um radar que, recentemente, teria recebido investimentos que qualificaram a estrutura do radar meteorológico, mas que precisa de algum reparo ou de alguma manutenção que não foi feita e que o Estado se propõe então a fazer uma parceria com a universidade para colocar aquele radar nas condições que atendam à necessidade de uma região substancial do Estado. Ele tem um alcance, ao que me foi reportado, numa conversa na semana passada, que poderá dar uma cobertura com maior precisão para uma parte do Estado”, afirmou.
O governador adiantou haver a intenção de que a contratação do serviço seja alinhada com outros estados do Sul e do Sudeste. A intenção, destacou Leite, é que os estados possam ter uma plataforma comum, com sistemas integrados que repassem as informações meteorológicas coletadas entre as unidades de Defesa Civil.
“Isso nos dará melhor segurança de que toda a informação que ali estiver sendo levantada, possa ser observada com a maior precisão para que a gente consiga dar a resposta”, avaliou Leite, enfatizando que a contratação do serviço está em estudo e ainda não tem prazo para ocorrer.