Internacional
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18 de outubro de 2023
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18:09

Presidente da Federação Palestina no Brasil acusa Israel de fazer ‘limpeza étnica’

Por
Luciano Velleda
lucianovelleda@sul21.com.br
Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). Foto: Guilherme Santos/Sul21
Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). Foto: Guilherme Santos/Sul21

Um dia depois do ataque ao hospital Al Ahli Arab, localizado no norte da Faixa de Gaza e que matou centenas de pessoas, incluindo crianças e mulheres, Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), é direto: para ele, Israel executa uma “limpeza étnica” do povo palestino. E a Faixa de Gaza é o começo do plano.

Rabah acredita que o atual cerco a Gaza é parte desse processo de “limpeza étnica”. A região está sendo violentamente bombardeada pelo exército israelense há 12 dias, após uma ação do grupo Hamas que atacou e matou mais de mil pessoas em Israel no último dia 7 de outubro. A destruição atual, diz o presidente da Fepal, é parte do que chama de “destruição permanente” de Gaza, com o objetivo de impossibilitar a vida normal no território.

Ele lembra que o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2015, referente ao conflito do ano anterior na Faixa de Gaza que matou mais de 2 mil palestinos, sendo um terço crianças, já apontava que o território estava se tornando impróprio para viver. Na ocasião, o relatório destacou que 90% da água em Gaza é imprópria para consumo e que quase todo o território não tinha acesso a esgoto e saneamento básico.

“O índice de desemprego é de 56% da população de Gaza, entre os jovens, o desemprego chega a 80%. Crianças e jovens nunca saíram do território, que sofre bloqueio de Israel há 17 anos. Há quatro horas de eletricidade por dia. A entrada de remédios é controlada, a comida também. Isso tudo faz parte de um projeto genocida continuado. Gaza é a aplicação da estratégia de inviabilizar a vida palestina na Palestina”, afirma Rabah, que, em dezembro do ano passado, recebeu a Comenda Porto do Sol, concedida pela Câmara de Porto Alegre, em nome da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

O presidente da Fepal faz uma análise sombria do futuro dos palestinos. Para ele, as novas e constantes colônias judaicas na Cisjordânia fazem parte do plano israelense de ocupar cada vez mais os territórios palestinos, até chegar ao ponto em que a Cisjordânia será “pequenas ilhas de Gaza” ou uma “ mini Gaza”.

Em setembro, Netanyahu exibiu na ONU o mapa do Oriente Médio sem os territórios palestinos. Foto: Reprodução

Ualid Rabah reforça seu ponto de vista usando a própria imagem do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante discurso na ONU em setembro deste ano. Netanyahu, ou Bibi, como é conhecido, subiu no palco da ONU para falar dos acordos de  paz entre Israel e países árabes, como a Arábia Saudita, e apresentou um mapa do “novo Oriente Médio”. O detalhe, enfatizado pelo presidente da Fepal, é que o tal mapa apagou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, mostrando todo o território como sendo Israel.

“Isso não é pouca coisa. A Israel que ele diz, é a que ele mostrou na ONU, onde não há espaço para não judeus”, critica Rabah, denunciando o que define como “processo continuado de limpeza étnica” ou uma “Palestina sem palestinos”.

O presidente da Fepal acredita que a iminente ocupação do norte da Faixa de Gaza pelo exército israelense visa impedir que os palestinos que estão sendo obrigados a fugir para o sul da região possam um dia voltar ao seu território.

Ao projetar o futuro da guerra, Rabah afirma que tudo está nas mãos dos Estados Unidos, maior aliado de Israel na geopolítica mundial e principal financiador das forças armadas israelenses, incluindo o fornecimento de armas e bombas. “Os Estados Unidos garantem o processo e é preciso parar os Estados Unidos.”

Sobre a atuação do Hamas que desencadeou a guerra atual, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) diz que os palestinos não concordam em tudo e que gostaria que o povo palestino estivesse unido num governo nacional para enfrentar a ocupação israelense que perdura há mais de 70 anos.

Ele lembra que a partilha da Palestina com criação de dois estados independentes, Israel e Palestina, foi decidida pela ONU em 1947. De lá para cá, Israel se firmou como país, enquanto a Palestina ainda não.

“Qual Hamas havia em 1947? Qual Fatah? Qual Organização para a Libertação da Palestina?”, questiona Rabah, citando os diversos grupos políticos palestinos atuais e que nem existiam em 1947. “Israel sempre quer fazer de conta que a história começou ontem.”


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