
Em coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (10), autoridades da Polícia Civil e do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul confirmaram que Paulo Luiz dos Anjos foi morto por envenenamento. Morto em setembro, Paulo é sogro de Deise Moura dos Anjos, mulher presa acusada de envenenar seis pessoas durante uma celebração em Torres no dia 23 de dezembro, três das quais faleceram dias depois, incluindo a sogra e esposa de Paulo, Zeli Teresinha Silva dos Anjos, que preparou o bolo que resultou no envenenamento.
“Temos provas robustas de que ela matou 4 pessoas, por ora”, disse Marcos Vinicius Muniz Veloso, delegado titular da Delegacia de Polícia de Torres, acrescentando que há indícios de que ela participou de outras tentativas de homicídio.
Deise foi presa no último domingo (5) após a polícia e perícia concluírem que ela é a principal suspeita de ser responsável por contaminar com arsênio a farinha que Zeli usou para produzir o bolo servido na celebração em Torres. Após a confirmação de que as três pessoas que morreram após a celebração foram envenenadas, as autoridades determinaram que o corpo de Paulo fosse exumado.
Diretora-geral do IGP, Marguet Inês Hoffmann Mittmann informou que o corpo de Paulo foi exumado em 8 de janeiro e levado para o Instituto Médico Legal (IML) para exames de necropsia.
Marguet confirmou que foram encontradas altas concentrações de arsênio no fígado e no estômago de Paulo, o segundo maior nível entre as quatro mortes que estão sendo investigadas nesse caso.
“As provas periciais comprovam de forma robusta e inquestionável que é impossível se tratar de intoxicação alimentar, contaminação natural ou por conta da degradação de uma substância. A causa da morte foi envenenamento por arsênio ingerido por forma oral”, disse.
Marguet destacou que o arsênio é uma substância amorfo e inodora, usualmente manipulada na forma de um pó branco ou pouco acinzentado, o que permite que ele seja misturado a outras substâncias “de forma imperceptível a olhos nus”. No caso da morte de Paulo, os indícios apontam que tenham sido misturados ao leite em pó que o sogro consumia.
A diretora do IGP destacou ainda que o arsênio tem como característica a lenta degradação, podendo permanecer no corpo humano ou misturado a outras substâncias por vários anos, o que permitiu a identificação do envenenamento como causa da morte.
Delegada regional do Litoral Norte, Sabrina Deffente também destacou durante a coletiva que há fortes indícios de que Deise atuou no envenenamento de outras pessoas, além do sogro e das seis pessoas que ingeriram o bolo na celebração às vésperas do Natal. “Durante muito não foi descoberta e durante muito tempo tentou apagar as provas”, disse.
Segundo Sabrina, as investigações encontraram provas de que Deise pesquisou informações sobre o arsênio e sobre como comprar a substância antes e após a morte do sogro. Estes casos serão investigados em outros inquéritos. “Não temos dúvida nenhuma de que essa pessoa pesquisou o veneno, pesquisou uma receita de veneno sem cheiro, sem gosto”, disse a delegada.
Por outro lado, pontuou que o caso de Torres “fugiu do controle dela”, uma vez que a expectativa de Deise seria de que apenas três pessoas iriam consumir o bolo, a sogra e outras duas familiares.
Além disso, a delegada destacou que as investigações apuraram que, após a morte do sogro, Deise tentou de diversas formas convencer a família a não investigar a causa da morte, seja pela cremação ou por desistência. “Toda investigação para nós foi uma surpresa, porque ela é uma pessoa extremamente manipuladora, extremamente calma, firme nas suas colocações, convincente”, disse.
Os delegados ainda apontaram que foram surpreendidos durante as investigações pela facilidade de acesso ao arsênio, que é um veneno incolor, insípido e inodoro — fácil de mascarar –, que pode ser comprado pela internet por qualquer pessoa e entregue pelos Correios, o que inclusive traz risco adicional para outras pessoas. O delegado Marcos disse que as investigações encontraram a nota fiscal e o registro de uma das compras feitas por Deise.
Diante deste “crime sem precedentes na história do Rio Grande do Sul”, o secretário estadual de Segurança Pública, Sandro Caron, informou na coletiva que vai procurar ajustar novos protocolos com a Secretaria de Saúde a respeito de mortes por intoxicação alimentar para facilitar investigações e impedir que esses crimes sejam omitidos. Também disse que vai manter um diálogo com autoridades federais sobre a facilidade de acesso a venenos, no intuito de dificultar o acesso.