
Passados seis meses desde a enchente histórica de maio, a Estação Rodoviária de Porto Alegre ainda enfrenta problemas relacionados à infraestrutura e à reocupação. Entre áreas interditadas e queda no movimento, funcionários e comerciantes relatam algumas complicações na “volta à normalidade”. Além disso, o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens do Rio Grande do Sul (Daer-RS), órgão gestor do sistema estadual de transporte intermunicipal de passageiros, está desde 10 de outubro em busca de uma empresa para finalizar as obras de recuperação do local – até o momento, sem sucesso.
Os espaços danificados que precisam de modificações estruturais incluem o salão do setor interestadual, setor de venda de passagens intermunicipais, banheiros e fachada. Somando tudo, o custo estimado da reforma é de R$ 2,3 milhões.
No início do mês passado, o Daer-RS adotou um modelo simplificado, sem licitação e concorrência, convidando seis instituições especializadas em obras, que, no entanto, não responderam. Este fato, somado à urgência das demandas, levou o departamento a lançar um novo processo, ainda sem necessidade de licitação, mas com disputa entre as interessadas, com vitória para a proposta de menor valor.
Em nota, o Daer-RS informa que “fez uma tentativa de contratação através de dispensa de Licitação sem disputa, ou seja, encaminhando ofício a empresas do ramo para que manifestassem interesse na execução. Não houve resposta. Desta forma, está sendo elaborado edital para uma nova tentativa, agora na modalidade dispensa de Licitação com disputa, para escolha de empresa”. Ainda sem data definida para publicação, o edital em questão se encontra em processo de análise jurídica.
Operando desde junho, a Rodoviária conta com uma loja que permaneceu fechada pós-enchente. Fora isso, quatro outros estabelecimentos optaram por não reabrir, aguardando a rescisão de contrato para que seus pontos possam ser repassados.

Segundo Cristiano Severo, funcionário que trabalha na estação há 20 anos e nos últimos seis é responsável pelo guarda-volumes, desde 2018 vem ocorrendo uma diminuição na circulação de pessoas no local. “Parece que (o movimento) caiu bastante. Trabalho aqui desde 2018, e 2018 foi o último ano bom, depois disso caiu e teve enchente, né? Não foi tanto, mas diminuiu”, diz.
Ele explica que, nas primeiras semanas após a reabertura, o aeroporto precisou da rodoviária para levar pessoas até Santa Catarina, e isso ajudou a atrair passageiros.
Para Alceu, gerente do estabelecimento “KiLanches”, apesar da Rodoviária estar “ruim” há muito tempo, depois da enchente as coisas pioraram. “Já tava ruim, mas depois de maio caiu bastante. Tem menos gente, menos ônibus. Agora, a gente tá na esperança de novembro melhorar. Agora, os horários dependem de outras cidades do Estado também, e eu nem sei como tá essa história de reformar o restante das coisas aqui”, diz.
Rodrigo e Luciano, seguranças da estação, afirmam que, desde a pandemia, a queda vem sendo exponencial. “Em dias antes de feriado ou de jogo, até que aumenta a quantidade de gente. Mas, nos outros dias, tá bem fraco. Depende muito. Mas, desde a pandemia, vem caindo muito”, pontua Rodrigo.
Cláudia Patrício, proprietária do estabelecimento “Tio Patinhas”, também menciona essa diminuição constante de clientes: “Desde antes (da enchente), o movimento já tava péssimo. Aí, depois de maio não deu muita diferença, porque já tava ruim”.
Em todo o Estado, é possível notar que, ao longo dos últimos anos, tem havido um aumento crescente nos preços de passagens, redução de horários de ônibus e cortes em linhas “menos populares”. Os passageiros, agora, pagam mais caro e têm menos opções para viajar.
Além disso, pelo menos desde 2018, há um burburinho passeando pelos corredores da Rodoviária da Capital: a Prefeitura supostamente pretende mudar a estação de lugar para aliviar o trânsito na região. Esse assunto voltou a ser mencionado na coletiva pós-eleitoral do prefeito reeleito Sebastião Melo, que aconteceu no domingo (27). De acordo com ele, há interesse em um cenário no qual a atual estação abrigue ônibus que têm ponto final no centro da cidade, com a Rodoviária indo para outro lugar.
Alceu, em entrevista ao Sul21, falou sobre o medo da mudança acontecer sem que considerem a realidade dos comerciantes locais. “A gente já está com queda nas vendas há muito tempo, se isso acontecer pode piorar, e a gente nem sabe se eles vão nos deixar ficar aqui caso a Rodoviária mude de lugar”, menciona. Já Severo, que desde 2004 é funcionário da Rodoviária, não acredita que essa proposta “vá pra frente” tão logo. “Tenho trabalhado aqui por uns 20 anos, então falo com experiência. Não é fácil fazer isso acontecer, precisa de alguém que invista nisso, porque aqui já é de uma família muito antiga. É complicado, sabe? Para fazer, teria que ser algo como foi feito no aeroporto”, afirma.
Quando procurada, a Prefeitura esclareceu que essa “é uma proposta antiga do prefeito” e que “ele já se manifestou sobre isso em outras oportunidades, mas é embrionário”. O Daer-RS, por sua vez, respondeu que “não se manifestará neste momento, uma vez que não há um pronunciamento oficial da Prefeitura de Porto Alegre”.

