Geral
|
18 de novembro de 2024
|
12:14

Placa que denuncia crimes da ditadura em frente ao Dopinha é retirada para restauro

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Placa estava situada na calçada, em frente ao imóvel da Rua Santo Antônio, nº 600. Foto: Arquivo pessoal
Placa estava situada na calçada, em frente ao imóvel da Rua Santo Antônio, nº 600. Foto: Arquivo pessoal

A placa que marca a existência do casarão que abrigou o Dopinha, um centro clandestino de repressão e tortura que funcionou em Porto Alegre entre 1964 e 1966, durante a ditadura civil-militar, foi retirada para restauração*. Imagens realizadas na noite deste domingo (17) e na manhã desta segunda-feira (19) chamaram a atenção de moradores da região ao mostrar a placa totalmente arrancada, já que em outubro de 2020, ela havia sido vandalizada e coberta por uma camada de cimento.

Dessa vez, segundo Jair Krischke, líder do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), a retirada da placa deve-se ao fato da escrita que consta na placa estar gasta, dificultando a leitura. A verba para a restauração foi obtida pelo Ministério Público Estadual (MPE) porque, de acordo com Krischke, a Prefeitura não demonstra interesse em cuidar da memória do local. “O Ministério Público tomou a iniciativa, forneceu os recursos e a Prefeitura vai tratar de restaurar a placa, que já não se conseguia ler”, explica.

Instalada no dia 12 de agosto de 2015 em frente ao casarão localizada na rua Santo Antonio, número 600, a placa foi uma iniciativa do projeto “Marcas da Memória”, criado por meio de uma parceria entre o Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) com a Prefeitura de Porto Alegre para identificar locais onde ocorreram violações de direitos humanos durante a ditadura.

Em 2020, dias após ser coberta com cimento, o Ministério Público Estadual determinou que a placa fosse restaurada com o mesmo tamanho e dizeres. Na ocasião, a proprietária do imóvel firmou um acordo com a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente para recolocar o objeto e argumentou que retirou a placa e cobriu de cimento porque ela “estaria avariada e colocando em risco a segurança de pedestres”.

A placa dizia:

“Primeiro centro clandestino de detenção do Cone Sul. No número 600 da Rua Santo Antônio, funcionou estrutura paramilitar para sequestro, interrogatório, tortura e extermínio de pessoas ordenados pelo regime militar de 1964. O major Luiz Carlos Menna Barreto comandou o terror praticado por 28 militares, policiais, agentes do DOPS e civis, até que apareceu no Guaíba, o corpo com as mãos amarradas de Manoel Raymundo Soares, que suportou 152 dias de tortura, inclusive no casarão. Em 1966, com paredes manchadas de sangue, o Dopinho foi desativado e os crimes ali cometidos ficaram impunes”.

O casarão que abrigou o Dopinha foi identificado como centro de tortura em junho de 2011. Em 2014, durante o governo Tarso Genro, os proprietários do imóvel concordaram em vender o local ao poder público e disponibilizá-lo para a concretização do Memorial Ico Lisbôa. O processo para a construção do Memorial parou a partir da eleição de José Ivo Sartori para o governo do Estado.

No dia 5 de maio de 2016, o então prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, firmou um compromisso com representantes do Comitê Carlos de Ré da Verdade e Justiça, deputados estaduais e vereadores de que a Prefeitura bancaria a desapropriação do prédio, o que acabou não acontecendo.

Em 2022, o imóvel chegou a ser oferecido numa plataforma de aluguel temporário. O anúncio dizia: “Aproveite sua estadia nesta casa de estilista, remodelada e serenamente jardinada em 1927. Nossa casa espaçosa, antiga, original e recentemente remodelada, proporciona uma estadia tranquila e segura para os hóspedes que pretendem ter uma estadia única no centro de Porto Alegre”. Dias depois, o anúncio saiu do ar.

*A informação foi corrigida às 14h25. Inicialmente constava que a placa havia sido apenas arrancada


Leia também