Geral
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6 de novembro de 2024
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18:22

Linha E378: Ônibus vazios levantam discussão sobre planejamento de nova rota elétrica

Por
Yasmmin Ferreira
yasmmin@sul21.com.br
 Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Em funcionamento há pouco mais de dois meses, as novas linhas de ônibus 100% elétricas de Porto Alegre apresentaram dados variados de adesão, conforme balanço divulgado pela Prefeitura. As três linhas que integram o “Programa Mais Transporte” têm como objetivo, segundo a  Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), reduzir a emissão de gases poluentes e melhorar a qualidade do serviço prestado aos usuários. No entanto, enquanto as linhas reestruturadas E178 e E703 transportaram, juntas, 170 mil passageiros nos primeiros 60 dias, a linha E378, recém-criada para atender o trajeto entre o Centro Histórico e a Azenha, registrou apenas 18 mil passageiros – em 4.843 viagens.

Dados da SMMU mostram que a linha E378 transporta, em média, 3,8 passageiros por viagem, enquanto as demais mantêm a faixa de 20 a 24 usuários. Relatos de passageiros também indicam que, em horários de pico, muitas vezes o ônibus circula quase (ou completamente) vazio, mesmo em uma região central. Esse cenário levanta questionamentos sobre o planejamento da linha e o entendimento da população quanto ao trajeto e frequência dos novos ônibus.

Especialistas em mobilidade urbana apontam que, para o sucesso de uma nova rota, é fundamental uma frequência regular e pontual, além de um período mais extenso de adaptação, que pode ser de seis meses a um ano. Além disso, alguns analistas sugerem que a linha E378 pode ser menos atrativa devido à ampla oferta de outros meios de transporte na região central, como bicicletas, patinetes e aplicativos, que oferecem flexibilidade e praticidade para curtos deslocamentos.

Para Júlio Celso Borello, doutor em Engenharia de Transportes e Professor de Planejamento Urbano e Mobilidade Urbana no Programa de Pós Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Propur/UFRGS), a principal causa para o desinteresse no transporte público é sua decadência geral. Segundo ele, muitas pessoas têm evitado utilizar ônibus, exceto para trajetos longos, como ir do centro para casa, o que prejudica principalmente as linhas utilizadas pela população de baixa renda, que depende desse meio para grandes deslocamentos diários. 

“Essa volta da integradora, aquela ‘voltinha’, né, no centro, na Redenção, tranquilamente pode ser substituída por caminhada, patinete, bicicleta ou Uber. Dificilmente alguém hoje em dia pega um ônibus para trocar por outro ônibus interurbano, dentro da cidade”, aponta o especialista. Adicionalmente, Júlio menciona a falta de dados consistentes para entender melhor o uso dessa linha, como uma pesquisa sobre transbordo nas paradas. Ele sugere que a Prefeitura deveria fornecer informações mais detalhadas sobre a proposta inicial da rota, suas avaliações sobre a baixa ocupação e possíveis causas.

Em conversa com o Sul21, Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), ressalta que a implantação de uma nova linha ou sistema exige tempo para ser compreendida e integrada ao cotidiano dos passageiros, como ocorreu com o sistema noturno em São Paulo, que demorou anos para ser incorporado. Em seu ponto de vista, é essencial que a Prefeitura faça uma comunicação clara para orientar a população sobre o uso da nova linha, “mesmo que haja um viés um pouco marqueteiro”.

De acordo com Calabria, “para uma linha ser atrativa, ela precisa ter uma frequência muito boa, especialmente para quem fará integração com ela, seja para outro trecho ao norte, ao sul – como na Praia de Belas – ou a leste da cidade. Com uma frequência alta, é mais provável que as pessoas optem por segui-la ou fazer uma integração. Se esse modelo de integração não tiver uma pontualidade boa, desestimula o uso, o que é péssimo para o passageiro”. Na Capital, ele sugere avaliar se essa rota “curta”, que vai da Ipiranga ao centro, realmente será útil para a população. 

Quando questionada, a SMMU informou que há projeções de que a demanda de passageiros aumentará gradualmente com a retomada da operação da Trensurb até a Estação Mercado, situada próximo ao terminal do Centro da linha E378. 

“Com pouco mais de dois meses de operação, ainda é cedo para uma análise aprofundada sobre a linha, que possui itinerário circular entre o Terminal Mercado – Borges de Medeiros e o Terminal Princesa Isabel, na Azenha. Esta é uma boa opção para quem gosta de viajar no ônibus confortavelmente sentado para deslocamentos do Centro até a Azenha, via Av. Osvaldo Aranha, Ramiro Barcelos e Ipiranga, com retorno pelas avenidas João Pessoa e Loureiro da Silva até o Centro Histórico”, diz a secretaria.

Nos primeiros 60 dias, a E378 – Integradora transportou 18.457 passageiros em 4.843 viagens com baixo ruído, ar-condicionado, wi-fi gratuito, acessibilidade universal, e ainda sem a emissão de gases poluentes resultantes da queima de combustíveis sólidos. 

Em complemento, o secretário de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior, afirmou que a SMMU está desenvolvendo um projeto mais abrangente para adquirir, nos próximos anos, mais ônibus elétricos, com um financiamento que já foi aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


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