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22 de novembro de 2024
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18:01

Com menos brinquedos e mais cachorros soltos, Praça da Matriz vira zona de disputa

Por
Yasmmin Ferreira
yasmmin@sul21.com.br
Praça da Matriz. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Praça da Matriz. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

A Praça da Matriz, no Centro Histórico de Porto Alegre, uma das mais importantes da capital gaúcha, tem se tornado também um espaço de disputa entre moradores da região. O episódio mais recente a acirrar ânimos de frequentadores foi a remoção dos balanços para crianças. De um lado, famílias pontuam que há cada vez menos opções para os pequenos, que já têm seu espaço de circulação restrito em função da presença cada vez maior de cachorros sem guia na praça. De outro, tutores manifestam o desejo de um cachorródromo na Matriz, para que os animais tenham um espaço exclusivo. O temor de mães e pais é que justamente a pequena área destinada às crianças ceda lugar para os pets, o que a Prefeitura nega estar nos planos.  

“A questão dos cachorros é bem complexa, né? Porque eu entendo que as pessoas têm que sair para passear com o cachorro, que eles têm que correr etc., mas aquela ali é uma praça que é praticamente toda calçada, e a parte que não é calçada tem as grades, né, que são os jardins. […] Mas, então, eu percebo que os cachorros também não têm um espaço adequado para eles. É frequente que os cachorros estejam na parte da areia, que é justamente a parte da ‘pracinha’. Então, eles abrem buracos, eles sobem em árvore, eles cavam… E eles avançam nas crianças lá e têm pessoas que se assustam”, conta Andressa Ferreira, mãe de um menino de quatro anos e moradora da região, em entrevista ao Sul21.

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Em relato, Andressa menciona situações relacionadas à falta de supervisão dos animais, como a vez em que seu filho teve um sanduíche “abocanhado” das mãos por um cachorro. “Foi um susto, e como é que fica tranquilo com teu filho brincando, se o cachorro vem e vai tirar o que ele está comendo da mão dele? Já vi cachorro roubando bola de criança, roubando brinquedo, e o cachorro é um animal. Eu entendo que a responsabilidade é do dono. E que eu saiba, também tem aquela lei que diz que os animais, em local público, têm que estar na guia, né?”, afirma a moradora, pontuando o quão comum é os cachorros estarem soltos, correndo, “subindo no colo das pessoas, atrapalhando a diversão das crianças e incomodando os idosos”. 

Matheus Cabral, tutor de um Border Collie (Buzz), reclama da falta de um espaço reservado para animais. Para ele, uma das praças mais importantes do município deveria contar com um cachorródromo. “Eu trago ele (o cachorro) aqui uma vez por semana, pelo menos, mas geralmente prefiro outros lugares. […] Sempre uso coleira e recolho os cocôs, não uso focinheira porque ele é bem dócil. Mas deveria ter um lugar só pra bichos aqui, porque tem muitos e é perigoso pra eles e pras crianças”, afirma. 

Além dos riscos para as crianças, frequentadores da praça narram episódios envolvendo animais de diferentes portes. Maiara Muniz, mãe de Arthur, de 2 anos, conta que, na tarde de quinta-feira (21), por volta das 17h, um cachorro de grande porte atacou um cão pequeno. A tutora do animal ferido afirmou que ele já havia sido agredido diversas vezes e precisou levar, ao todo, 8 pontos após brigas na Praça Matriz. 

Carla Siqueira, avó de uma menina de 8 anos, conta que também já presenciou inúmeros casos problemáticos no local. “Os cachorros brigam entre eles, mordem a gente e ficam rosnando. É um saco. Eu parei de trazer os meus netos aqui por um tempo até, porque não dá pra ficar se estressando com esses donos mal-educados. Eles deixam os cachorros defecarem na grama, na areia, em tudo, e não juntam. Ainda soltam os bichos e não cuidam. […] Um absurdo”, diz. A aposentada mostra a perna da neta, que foi mordida há dois anos por um Rottweiler. De acordo com ela, o cão usava coleira, mas estava sem focinheira no momento do ataque. Luiza, a neta, diz que agora tem “medo brincar perto de cachorros”. 

Para Maiara, a situação atual na praça é bastante complicada. “Estamos passando por situações chatas, porque alguns donos de pets levam seus cachorros ali onde é a ‘pracinha’. Aí eles fazem xixi e cocô, e as crianças brincam na área. Já teve crianças que pegaram virose, coceira, etc. Nós também temos pet, mas ele anda pela praça, que é enorme”, relata. Ela também menciona a remoção dos balanços: “Está fazendo muita falta para as crianças”. 

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Indagada sobre quais mudanças considera efetivas para melhorar o convívio na praça, Maiara sugere a criação de um cachorródromo que não substitua a área infantil, mas a complemente – oferecendo um espaço exclusivo e cercado para os animais, garantindo a segurança de todos. Ela também propõe a instalação de câmeras e placas informativas, e a aplicação de multas aos tutores que descumprirem as regras.

Já para Andressa, as mudanças deveriam englobar os brinquedos, que, segundo ela, precisam de uma revitalização. Ela acredita que a parte da “pracinha” poderia ser remodelada, com mais opções, novos balanços, além de um escorregador, que são algumas das coisas que “as crianças mais amam”. Também sugere a inclusão de uma caixa de areia ou “algo atrativo”, e propõe que a área infantil seja cercada para evitar que os cachorros entrem. Outra sugestão é a criação de um espaço exclusivo para os animais, onde os donos possam deixá-los soltos. Ela também ressalta que, do jeito que está, a situação se encontra cada vez mais difícil. “Percebo que os donos de cachorros estão cada vez mais confortáveis em usar toda a praça, enquanto as crianças estão cada vez menos seguras”, relata. 

Ao conversar com outras pessoas da região, Andressa diz que ouve comentários como: “Ah, eu não vou para o lado onde estão os cachorros”. “Entendo que as pessoas têm que levar o cachorro a algum lugar, mas as outras pessoas que não têm animais não estão usando a praça por causa dos cachorros”, finaliza.

Conforme a Secretaria de Serviços Urbanos (SMSUrb), a praça, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, passou por manutenção no último mês, incluindo a pintura dos bancos e reparo das lixeiras. Além disso, em nota, informou que não está sendo implementado nenhum cachorródromo. “Sobre o pergolado, por ser um local tombado, no momento não está sendo feita nenhuma intervenção, nem mesmo a construção de um cachorródromo. Sobre os balanços, já foi aberto um processo interno de consulta para a colocação de novos equipamentos, também, em razão da Praça da Matriz ser tombada”, comunica o órgão.  

 

Foto: Ana Ávila/Sul21

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