Geral
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23 de setembro de 2024
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19:44

Moradores do Sarandi protestam em frente à Prefeitura por ‘120 dias de abandono’

Por
Yasmmin Ferreira
yasmmin@sul21.com.br
Protesto no Paço Municipal por melhorias no bairro Sarandi, severamente atingido pelas enchentes de maio. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Protesto no Paço Municipal por melhorias no bairro Sarandi, severamente atingido pelas enchentes de maio. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

“Não foi tragédia, foi negligência. O morador tá perdendo a paciência!” Na tarde desta segunda-feira (23), este era o som que ecoava em frente à Prefeitura de Porto Alegre em protesto moradores do bairro Sarandi que se reuniram para denunciar que estão há mais de 120 dias sofrendo as consequências das enchentes de maio. Entre os pontos mencionados, se destacam os frequentes saques de casas – as quais os moradores não conseguiram retornar – e a falta de apoio financeiro do governo federal para a elaboração dos laudos das moradias atingidas.

Para uma das organizadoras do ato — que preferiu não se identificar –, o município não tem sido “tão bom quanto algumas campanhas políticas fazem parecer”. “Nós não reconhecemos qual é a cidade que melhorou. Não sabemos que cidade é esta. […] Muitos sonhos foram perdidos, casas destruídas, famílias desfeitas, e tivemos pouco retorno. Isso é uma injustiça que queremos denunciar. Não é verdade que Porto Alegre melhorou. O bairro Sarandi e a Zona Norte estão abandonados. Se vocês forem andar por lá, verão a marca da água nas ruas e nas casas. Muitas casas não resistiram e caíram. Moradores ainda esperam seu cadastro para receber o auxílio financeiro a que têm direito do governo federal”, disse.

O auxílio em questão é o “Auxílio Reconstrução”, que destina R$ 5.100 para famílias afetadas pelas enchentes do estado. Mas, para que o benefício seja aprovado, é necessário preencher uma série de critérios. Luciana Souza, moradora do Asa Branca, afirma que essa quantia não está tão acessível quanto deveria. 

“Muitos (moradores) nem conseguiram pegar esse valor, pois estão usando critérios que considero errados. Todo mundo sofreu com isso, então não deveria haver critérios. Ninguém pediu para sua casa ser alagada. Acho que eles deveriam priorizar todos que foram afetados e que ainda não conseguiram voltar para casa. Tem gente que ainda está em abrigos, casas temporárias, ou na casa de parentes, porque não tem condições de pagar aluguel. Eu estou na Estadia Solidária, e, se não fosse por isso, eu não sei onde estaria agora”, relatou Luciana. 

A moradora ainda complementa que este dinheiro, apesar de importante, não é suficiente quando comparado aos estragos que os temporais deixaram. Além disso, menciona que vem se sentindo humilhada pelos órgãos oficiais. “A Defesa Civil está nos humilhando, porque dizem que estamos esperando o laudo para receber dinheiro. Eu não quero o laudo por causa de dinheiro. Eu quero o laudo para poder retornar para minha casa com segurança. Eles falam para eu contratar um pedreiro bom e reformar a casa, mas como vou fazer isso sem condições financeiras? Os R$ 5.100 não dão para nada. Ou você compra móveis, ou reforma a casa, mas não dá para fazer as duas coisas”, conta. 

 

Luciana Souza, moradora do Asa Branca | Foto: Isabelle Rieger/Sul21

No local do protesto, havia caixas de som e um microfone. Entre gritos políticos e demandas de urgência, habitantes do Sarandi narravam suas histórias. Há 33 anos vivendo no bairro, um dos manifestantes compartilhou seu relato. “ Sou proprietário de uma casa que foi destruída pela enchente. Perdemos tudo, só restaram um fogão a lenha e uma geladeira. Todos os colchões, móveis, roupas, fotos, tudo foi levado pela água”, disse. 

Rosa, que também estava presente no evento, descreveu com a voz trêmula o seu trabalho voluntário com animais, que foi interrompido em maio. Ela cuidava de “bichinhos de rua” e sua rotina envolvia encaminhá-los para a castração, organizar feiras de adoção e encaminhar casos específicos para tratamento veterinário. 

“Além de já ter enfrentado enchentes em 2013, 2015 e 2019, agora, além de perder minha casa, perdi também os bichos que tirei das ruas e cuidava. Quero saber onde está a Prefeitura para nos ajudar a recuperar nossos animais. Alguns estão perdidos, e outros foram recolhidos. Se não morreram afogados, foram levados e estão desaparecidos”, declarou. A moradora conta, ainda, que a Prefeitura não tem dado o devido apoio para “nada relacionado aos animais”. E termina dizendo que os bichos possuem necessidades, como os humanos: “eles são seres vivos, eles sentem”. 

Durante o protesto, também foram mencionados tópicos como: precarização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), falta de limpeza nos bueiros, desassoreamento dos arroios, manutenção nas bombas d’água e nos diques, e a necessidade de mais projetos habitacionais. 

 

Protesto no Paço Municipal por melhorias no bairro Sarandi, severamente atingido pelas enchentes de maio. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Protesto no Paço Municipal, no centro de Porto Alegre, por melhorias na infraestrutura do bairro Sarandi. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Protesto por melhorias no bairro Sarandi. Foto: Isabelle Rieger/SUl21

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