
A rede social X, o antigo Twitter, anunciou neste sábado (17) o fechamento do seu escritório no Brasil e a demissão de toda a equipe. Aberta em 2012, a sede tinha atualmente em torno de 30 funcionário – o escritório no Brasil chegou a ter mais de 100 empregados. Em novembro de 2022, ao ser comprada por Elon Musk, houve a primeira leva de demissão, completada agora.
Em nota, o X colocou a responsabilidade pela demissão e o fechamento da representação no País no ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Segundo a empresa, nesta sexta-feira (16), o ministro “ameaçou nosso representante legal no Brasil com prisão se não cumprirmos suas ordens de censura”. Junto com a nota, o X publicou a decisão judicial de Moraes. A veracidade do despacho não foi confirmada pelo STF.
“Apesar de nossos inúmeros recursos ao Supremo Tribunal Federal não terem sido ouvidos, de o público brasileiro não ter sido informado sobre essas ordens e de nossa equipe brasileira não ter responsabilidade ou controle sobre o bloqueio de conteúdo em nossa plataforma, Moraes optou por ameaçar nossa equipe no Brasil em vez de respeitar a lei ou o devido processo legal”, argumenta a empresa.
De acordo com o documento publicado pela rede social, a X se negou a bloquear perfis e contas no contexto de um inquérito da Polícia Federal (PF) que apura obstrução de investigações de organização criminosa e incitação ao crime. O suposto despacho mostra que, ao não cumprir a decisão, Moraes determinou a intimação pessoal do representante da X no Brasil. Porém, o oficial de Justiça não conseguiu localizar os responsáveis pela rede social.
No suposto despacho divulgado, Moraes teria afirmado que a representante da empresa X Brasil agiu de má-fé, tentando evitar a intimação da decisão proferida nos autos. Como os representantes da empresa não foram localizados, Moraes teria determinado a prisão da representante legal da X por desobediência à determinação judicial e multa diária de R$ 20 mil contra a funcionária, ainda segundo o documento divulgado pela X.
Desde que foi comprada por Elon Musk, alçado a expoente da extrema direita mundial, o X tem travado uma disputa com a justiça brasileira devido as decisões de suspensão de perfis que propagam fake news contra o sistema eleitoral do Brasil e ameaçam a democracia.
Ao personalizar a decisão em Moraes, o anúncio deste sábado é mais um lance nesta disputa. “Estamos profundamente tristes por termos sido forçados a tomar essa decisão. A responsabilidade é exclusivamente de Alexandre de Moraes”, diz a nota do X.
Apesar da demissão da equipe e do fechamento do escritório, a empresa informou que a rede social continua ativa no Brasil.
A assessoria de imprensa do STF informou que a Corte não vai se manifestar sobre o tema.
Não é a primeira vez que o multibilionário Elon Musk desafia o Judiciário brasileiro. Em abril deste ano, Musk acusou Moras de “censura” contra conteúdos da plataforma. Analistas avaliam que essa pode ser uma estratégia da extrema-direita mundial para dificultar as investigações contra a suposta tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 no Brasil.
O dono da plataforma X e de diversas outras empresas, desde satélites a carros elétricos, tem se notabilizado pela militância política em diferentes países do mundo, desde Bolívia, Venezuela, Brasil e o próprio Estados Unidos, onde faz campanha abertamente para Donald Trump.
Musk também se envolveu na crise de violência do Reino Unido, onde grupos de extrema-feira atacaram imigrantes pelas ruas. Sobre o tema, Musk comentou que uma “guerra civil é inevitável” no país europeu. A rede X também tem sido acusada de impulsionar conteúdos anti-imigrantes na rede social.
Leia, abaixo, a íntegra da nota:
“Noite passada, Alexandre de Moraes ameaçou nosso representante legal no Brasil com prisão se não cumprirmos suas ordens de censura. Ele fez isso em uma ordem secreta, que compartilhamos aqui para expor suas ações.
Apesar de nossos inúmeros recursos ao Supremo Tribunal Federal não terem sido ouvidos, de o público brasileiro não ter sido informado sobre essas ordens e de nossa equipe brasileira não ter responsabilidade ou controle sobre o bloqueio de conteúdo em nossa plataforma, Moraes optou por ameaçar nossa equipe no Brasil em vez de respeitar a lei ou o devido processo legal.
Como resultado, para proteger a segurança de nossa equipe, tomamos a decisão de encerrar nossas operações no Brasil, com efeito imediato. O serviço X continua disponível para a população do Brasil.
Estamos profundamente tristes por termos sido forçados a tomar essa decisão. A responsabilidade é exclusivamente de Alexandre de Moraes.
Suas ações são incompatíveis com um governo democrático. O povo brasileiro tem uma escolha a fazer – democracia ou Alexandre de Moraes.”
- Com informações da Agência Brasil