Geral
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4 de maio de 2024
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20:38

População monta força-tarefa na Orla para receber resgatados que chegam pelo Guaíba

Por
Bettina Gehm
bettinagehm@sul21.com.br
Voluntários organizam doações para famílias resgatadas. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Voluntários organizam doações para famílias resgatadas. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Um vai e vem de gente carregando roupas, produtos de higiene e comida cria pegadas no barro na Orla do Guaíba. Há dias, com a cheia do rio, o local deixou de ser espaço de esporte e lazer. Mas ontem (3), quando o rio atingiu 4,77 m e começou a superar a cheia de 1941, a orla deu lugar a uma força-tarefa para receber quem é resgatado das ilhas de Porto Alegre e da cidade de Eldorado do Sul.

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Os resgates estão sendo feitos pelo Corpo de Bombeiros e pelo Exército. Lanchas e jet skis chegam com doações de civis para auxiliar a trazer pessoas. Muitas famílias, porém, chegam incompletas, e quem desembarca primeiro do outro lado do Guaíba normalmente opta por esperar os familiares que ainda não foram resgatados. É aí que entram os voluntários: “Nosso atendimento primário é secar as pessoas, trocar a muda de roupa muitas vezes”, relata o arqueólogo Matheus Belle, um dos voluntários. “A Prefeitura se organizou para mandar todo mundo para o abrigo direto, esquecendo que muita gente espera os parentes aqui. Ou até gente que espera o ônibus [até o abrigo]”.

 

Enchente Porto Alegre Cheia Guaíba. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Foto: Isabelle Rieger/Sul21

A estrutura está instalada ao lado da Usina do Gasômetro e conta com algumas tendas, onde estão sendo organizadas as doações que não param de chegar. A luz que ilumina o trabalho é improvisada. Os voluntários estão identificados com coletes verde fluorescentes. A polícia civil está presente, assim como ambulâncias. Mais adiante, às margens do rio, embarcações partindo vazias e outras retornando com moradores de locais onde a água já chegou.

Muitos voluntários passaram a noite ali. Giulia de Souza, auxiliar de higienização hospitalar, chegou às 20h de ontem (3). “Não saio daqui até saber que a última pessoa saiu de lá”, afirma, apontando para o rio.

É impossível precisar quanta gente já passou pelo acolhimento dos voluntários. “Nós pensamos nos cadastros hoje, não foi algo profissional. Temos duas listas que estão rodando desde o início do dia”, afirma Matheus. “A ideia não é necessariamente ter os números, mas sim poder avisar as pessoas se algum familiar já passou por aqui. Para ninguém ficar esperando por alguém que já foi para o abrigo”, explica.

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Um ônibus da EPTC leva os resgatados para o CTG 35, no bairro Jardim Botânico. Lá, as pessoas passam por uma triagem para então serem destinadas a algum abrigo. Durante este sábado, vários locais de Porto Alegre abriram as portas para receber as famílias.

Na Orla, os voluntários não estão mais recebendo doações. “Sabemos, a partir da experiência de ontem, que já temos o suficiente para operar na madrugada. Os resgates diminuem em volume, estamos conectados com os Bombeiros”, afirma Matheus. O voluntário afirma que a mão-de-obra também já é suficiente no local. “Hoje à tarde, tivemos voluntários excedentes e outros simplesmente curiosos”

Foi da população o pontapé inicial de toda a estrutura que agora acolhe os resgatados. “Ontem à tarde tinha uma barraquinha servindo café e sanduíche. Pensei que fosse a Prefeitura, mas era o pessoal que está aqui até agora”, relembra Matheus. O voluntário conta que o primeiro banheiro químico foi mandado pela gestão municipal cerca de 20 horas após o primeiro pedido, que foi por volta das 21h de ontem (3). Mais tarde, chegaram alguns gazebos. “Algumas pessoas da Prefeitura passaram por aqui, sim. Mas infraestrutura, que precisava, não”, diz Matheus.

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Perto de onde estão chegando as famílias pelo Guaíba, na quadra de basquete da praça do Aeromóvel, os abrigados são os pets. “Esses animais estão vindo das ilhas, resgatados pela protetora Deise Falci”, explica a voluntária Venise Borges. O trabalho na quadra de basquete é alocar, catalogar e enviá-los para a clínica Vet Hug (R. São Luís, 316 – Santana). “As pessoas estão indo lá para fazer lar temporário e também buscar adoção, quem quiser” afirma Venise.

 

Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Animais são resgatados em abrigo na Praça do Aeromóvel. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

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