
“A gente ia abrir na semana que começou a encher, no dia 3. Estava quase tudo pronto. Foi quando começaram os alertas”. O relato é de Lucas Marra, proprietário do Bar Cambucá, que agora espera uma nova data para ser inaugurado. Assim como ele, centenas de moradores e comerciantes da Cidade Baixa puderam retornar ao bairro após a água baixar nos últimos dias e encontraram os espaços cobertos por lama, com mobiliário e equipamentos transformados em entulho. Desde então, iniciaram a primeira etapa da recuperação, a limpeza.
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Na tarde desta segunda-feira (20), Lucas e um funcionário trabalhavam na limpeza das mesas, dos materiais e dos insumos do bar que sobreviveram à enchente. A limpeza mais pesada, com a retirada da lama de dentro do bar, começou no domingo (19).

“A primeira coisa foi um susto muito grande, porque a gente não achou que a água ia subir tão sinistramente como foi. A gente veio monitorando aqui os dias, na esperança de baixar, e só aumentava”, diz Lucas, contando que a água chegou a subir quase 1,5 m.
Ainda assim, estima que o prejuízo não foi muito grande, porque o bar tem um degrau alto. “Agora a esperança é que os eletrônicos voltem a funcionar, pelo menos aqui a gente teve pouco estrago. E é isso, agora voltar para a lida”.

Proprietário da assistência técnica Multitron Eletrônica, na Av. Aureliano Pinto de Figueiredo, Carlos Leonardo não teve a mesma sorte. “Não tem ainda uma avaliação, mas foi bastante prejuízo. Televisão, tem mais de 50 peças danificadas”, relata, explicando que são produtos de clientes que estavam para conserto.
Com a ajuda de funcionários, Carlos está desde sexta trabalhando na limpeza do comércio. “O cenário parecia um terremoto. Tudo revirado, sujo, com lama, fedor”, diz. “Á água entrou a uma altura de um metro, um metro e meio por aí. Revirou tudo, as bancadas, material de teste dos técnicos, mesa, cadeiras”.
Nesta segunda, um monte de entulho, formado por bancadas e equipamentos, se avolumava diante da loja. Situação semelhante se verificava em quase todos os comércios da sua quadra. “Agora estamos esperando vir o DMLU para remover esse lixo da frente, limpar um pouco a rua. Eles passaram com o carro de som avisando que era para deixar os produtos na frente que o caminhão ia passar”, diz Carlos.

Na João Alfredo, a equipe da casa noturna Nuvem também trabalha desde a última sexta, em mutirão das 9h às 17h, para deixar o negócio em ordem.
“A gente encontrou o material todo boiando, as lixeiras, as coisas assim. Estava tudo enlameado e um cheiro muito forte de enchente, que é um cheiro de peixe com barro, cheiro bem característico de Porto Alegre no momento”, diz Luiz Ferreira, funcionário da casa.

A ideia da equipe é que a Nuvem possa voltar a operar já nesta semana. “A gente precisa pagar o aluguel. As contas não pararam de bater”, explica.
O desafio, no momento, é verificar se o equipamento de som e outros eletrônicos estão funcionando e qual o nível de manutenção pela qual precisarão passar. “Estamos testando agora”, diz.

Uma quadra adiante da casa noturna, uma equipe de uniforme laranja trabalhava na limpeza do mobiliário, da pia e de outros equipamentos do bar La Comidita. Uma parte era formada por oito integrantes do Grupo de Operações Ambientais do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso.
“A gente chegou para ajudar no resgate, nas zonas quentes, só que agora já é um trabalho mais de recuperação, já é a segunda fase. Aí estamos dando apoio na limpeza também. Até a data que a gente ficar, vamos estar ajudando o comércio local”, diz o bombeiro David Miranda do Nascimento.
Junto com eles, estava uma equipe de socorristas da Brigada Internacional Los Topos, organização de origem mexicana que atua em momentos como terremotos e outros desastres naturais.

Nas últimas semanas, eles trabalharam com o resgate de pessoas, e mais recentemente de animais, nas cidades de São Leopoldo, Canoas, Novo Hamburgo e Porto Alegre. Junto com eles, estava o peruano Ly Brian Gill, cozinheiro profissional e proprietário do La Comidita. “A gente estava ajudando em vários lugares, só que agora eu tive que parar pra retomar”, diz Ly Brian.
Ele voltou para o bar no domingo, encontrando o local coberto pela lama. “É uma imagem muito desesperadora, porque é todo um trabalho que foi crescendo com o tempo. Eu estou aqui há três anos, na João Alfredo. Comecei no meio da pandemia vendendo marmitas e consegui esse espaço aqui aos poucos”.
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