
No momento em que os povos indígenas brasileiros sofrem um processo de violação massiva de direitos, de destruição de territórios e de violência física, a comunicação tornou-se, mais do que nunca, uma peça-chave na estratégia de defesa dos povos originários. Entre os dias 5 e 10 de junho, mais de 20 jovens indígenas da região Sul participaram, na Aldeia Pirá Rupá, em Palhoça (SC), do 1º Encontro de Jovens Comunicadoras e Comunicadores Indígenas, promovido pela Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul).
O encontro teve como tema geral “A comunicação indígena que temos e a comunicação indígena que queremos ter” e, durante cinco dias, reuniu jovens comunicadoras e comunicadores indígenas em um processo de imersão e formação continuada, além de promover um processo de intercâmbio de saberes tradicionais e técnicos. O evento teve apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

“A ideia de realizar esse encontro surgiu a partir da necessidade de termos nossos jovens cada vez mais empoderados, ocupando espaços de comunicação, especialmente a partir da pandemia. Ter jovens indígenas fazendo comunicação indígena tornou-se algo muito importante”, explica Yago Kaingang, coordenador de Comunicação da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul). Além de propiciar formação e fortalecer a atuação desses jovens como comunicadores, o encontro também teve por objetivo criar uma rede de comunicadores indígenas.
Participaram do encontro mais de 20 jovens dos povos Kaingang, Avá Guarani, Guarani Mbya, Guarani Nhandeva e Laklãnõ-Xokleng. Ao todo, foram cinco dias de atividades com uma série de oficinas sobre práticas como gerenciamento de redes sociais, produção de textos, fotografia, uso de tecnologias e de introdução à transmissão ao vivo. Também ocorreram rodas de conversas sobre temas como comunicação e política, comunicação para diversidades e pelas lutas sociais, a comunicação indígena que temos e a comunicação indígena que queremos ter (este último o tema geral do evento). Além da formação em comunicação, a juventude indígena também se envolveu em um processo de intercâmbio de saberes tradicionais.
A abertura do encontro teve um momento de acolhida com falas do cacique da aldeia Pirá Rupá, Karai Jekupe, do coordenador da Arpinsul, Marciano Rodrigues, e do coordenador de comunicação da organização, Yago Kaingang. Em suas falas, todos destacaram a importância estratégica da articulação da juventude indígena no atual contexto que o Brasil vive. A roda de conversa sobre “Comunicação e Política” debateu justamente o papel da comunicação nas lutas do movimento indígena diante da atual conjuntura de ataques aos povos indígenas em todo o país.

Em outra atividade, com a mediação de Cris Tupan, as jovens e os jovens indígenas debateram sobre o significado de uma Comunicação voltada à defesa das diversidades e das lutas sociais e conheceram uma vasta literatura sobre o movimento indígena. Na oficina “Introdução à transmissão em redes sociais”, Yago Kaingang tratou sobre os tipos de transmissão, equipamentos e recursos básicos e os programas usados para transmitir. Após a oficina, houve um momento prático em que os comunicadores e comunicadoras indígenas fizeram suas próprias transmissões em grupo.
Na oficina de “Criação de conteúdo e gestão de redes sociais” de tecnologias”, Ingrid Sateré Mawé falou sobre a importância de aprender e usar as plataformas digitais e como funcionam, abordando também as possibilidades e desafios de conexão com as redes sociais e a construção de uma comunidade digital. Na oficina “Fotografia e uso de tecnologias”, Cris Tupan conversou sobre os olhares e narrativas possíveis a partir da fotografia e, em um momento prático, as jovens e os jovens indígenas tiraram diversas fotos buscando diferentes luzes, pontos de vistas e perspectivas.
Para Yago Kaingang, um dos principais desafios que os jovens comunicadores indígenas têm pela frente é começar a se articular de fato dentro dessa rede que está sendo criada agora, buscando apoiadores e estruturando-a para que funcione, de fato, como uma rede.

Na avaliação do coordenador de comunicação da Arpinsul, a concretização desse objetivo é fundamental para e estratégica para todas as lutas dos povos indígenas que, além de não ganhar o espaço necessário na mídia tradicional, é objeto de muitas deturpações. “A mídia tradicional raramente retrata a causa e a luta indígena e quando retrata é de forma preconceituosa e equivocada. Justamente por isso precisamos assumir nosso próprio protagonismo, ninguém melhor que nós mesmos para contar nossas narrativas e levar ao mundo a luta dos nossos povos da aldeia para o mundo com o próprio olhar indígena”, diz Yago.