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29 de janeiro de 2022
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11:40

Em fase de testes, Prefeitura libera circulação de táxis e lotações na Esquina Democrática

Por
Sul 21
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Avenida Borges de Medeiros terá trânsito de táxis e lotação no cruzamento com Rua dos Andradas. Foto: Cesar Lopes/PMPA
Avenida Borges de Medeiros terá trânsito de táxis e lotação no cruzamento com Rua dos Andradas. Foto: Cesar Lopes/PMPA

A Prefeitura de Porto Alegre anunciou que, a partir da próxima segunda-feira (31), entrará em teste a abertura ao tráfego da avenida Borges de Medeiros ao longo de todo o dia, no trecho que começa na avenida Salgado Filho, passa pelo cruzamento com a rua dos Andradas (Esquina Democrática) e vai até a rua José Montaury. Nesse período inicial, a permissão é somente para táxis e lotações.

O secretário municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer, afirma que a iniciativa é um teste, decorrente de reivindicações de entidades ligadas ao comércio e serviços. “Chegou até a Prefeitura o pedido de que as ruas do Centro Histórico voltem a permitir a convivência entre carros e pedestres, privilegiando os últimos, mas sem excluir os primeiros. Estamos fazendo, dessa forma, uma experiência dentro da concepção de tráfego compartilhado, em que o carro é o responsável pela segurança do pedestre”, afirma.

Em outubro de 2021 o Sul21 mostrou que a Prefeitura prepara um plano de mobilidade para o Centro, com propostas para a circulação de pedestres, bicicletas, transporte público e veículos no bairro. O plano de mobilidade do Centro faz parte do Plano de Mobilidade Urbana (PMU), que é um documento de planejamento do setor obrigatório para todas as cidades com mais de 20 mil habitantes. Pela legislação federal de 2012, que criou a obrigatoriedade, as prefeituras teriam três anos para implementar o seu PMU, mas este prazo foi prorrogado em diversas oportunidades, sendo abril de 2022 a data limite no momento. Por lei, os planos devem também garantir a priorização do transporte coletivo em detrimento do transporte individual.

Contratado no final da gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB) ao valor de R$ 1.086.320,00, o plano está sendo elaborado por uma consultoria privada, a Matricial Engenharia Consultiva, em parceria com a Secretario Municipal de Mobilidade Urbana. O Sul21 teve acesso aos objetivos e diretrizes trabalhados na época. O documento trazia dois objetivos gerais: definir uma estratégia para promover o equilíbrio da mobilidade, a valorização e sustentabilidade e integrar o centro à Orla, Cidade Baixa e 4º Distrito; e desenvolver programas específicos, com ações de curto, médio e longo prazo para direcionar e ordenar a circulação, melhorando as condições de mobilidade.

Paralelamente à questão da mobilidade, a Prefeitura vem investindo no que chama de Programa de Reabilitação do Centro Histórico, uma espécie de plano diretor do bairro que tem o objetivo de mudar as regras para a construção civil e atrair mais moradores para a região.

Na mesma reportagem, Júlio Celso Borello, doutor em Transportes e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou possíveis impactos preocupantes no programa de revitalização do Centro, especialmente a ideia de dobrar a população do bairro, e destaca justamente a questão da mobilidade. “A primeira impressão é de que tem uma tese aparentemente defensável, botar mais gente morando no Centro. Alguns estudos justificam essa tese como razoável, mas há uma ausência de estudos sobre o impacto na mobilidade, que, tirando a questão do saneamento, é onde a densidade mais se reflete. Movimento, estacionamentos, congestionamentos, ocupação das ruas, qualidade das ruas. Falta especificidade, está muito incipiente o papo sobre mobilidade no programa de revitalização”, diz o professor.

Borello explica que, quando se fala em mobilidade de bairros centrais, há quatro diretrizes que são consideradas como essenciais pelos especialistas: remover todo o tráfego de passagem (aquele que não tem o Centro como destino), reduzir o estacionamento de carros nas ruas, criar zonas em que o pedestre tenha prioridade e priorizar o transporte público em modos lentos.

“É muito simples a questão. É questão de ter coragem de enfrentar quem historicamente foi privilegiado, que é o carro”, diz, ressaltando que, por outro lado, seria precisa qualificar o transporte público. “Tu aperta o carro para o cara não usar, e oferece um sistema de qualidade”. Os testes que iniciam na próxima semana indicam que o caminho escolhido pela Prefeitura é outro.


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