
Passada a eleição em que venceu a disputa obtendo 50,36% dos votos válidos contra 49,64% do seu adversário, Marciano Perondi (PL), uma diferença de cerca de 1.200 votos, Fernando Marroni (PT) se prepara para assumir a Prefeitura de Pelotas pela segunda vez a partir do dia 1º de janeiro de 2025. Eleito pela primeira vez em 2000, ele concorreu ao cargo de chefe do Executivo também em 1996, 2004, 2008 e 2012.
Faltando menos de dois meses para ser empossado, o processo de transição entre sua equipe e o governo da prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) está em curso. A vitória apertada é vista com naturalidade por Marroni, que elogia a união em torno de seu nome no segundo turno e o apoio dado por grupos historicamente opositores, como o da própria prefeita Paula e do governador Eduardo Leite (PSDB).
“Foi a vitória de uma coalizão, no segundo turno, dos democratas contra uma aventura de alguém que não tem nenhuma experiência administrativa, não tem nenhuma relação com o governo do estado e nem com o governo federal, e nenhum apreço pela democracia. Foi importante o apoio do governador, da prefeita, junto com o MDB, o PDT, e todos os partidos que se alinharam no segundo turno e nos deram a vitória”, afirma o prefeito eleito.
Os desafios, ele sabe, são muitos. Com recursos escassos para dar conta de toda a demanda social da população pelotense, Marroni confia na capacidade de buscar investimentos e de apresentar projetos ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para viabilizar algumas urgências debatidas durante a campanha eleitoral, como a construção de duas novas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e aliviar a fila por vagas na educação infantil, além da melhoria da zeladoria da cidade.
“Estamos trabalhando em conjunto e adiantando o processo que vamos enfrentar, a partir do dia 1º de janeiro, preparando para que a gente possa implementar o nosso programa, nosso compromisso com o povo de Pelotas que anunciamos durante toda a campanha e que são urgentes e precisam de um novo ritmo para a superação”, adiantou Marroni.
Confira a íntegra da entrevista exclusiva ao Sul21:
Sul21: Quais são as lições da sua vitória, da união de partidos em torno do seu nome, mesmo alguns sendo adversários históricos, no contexto de uma eleição pelo Brasil marcada por muitos candidatos de extrema direita que, ainda que não vitoriosos, tiveram boa votação?
Marroni: No segundo turno é normal que as eleições sejam mais justas, isso tem sido um fenômeno mundial, não é uma uma particularidade brasileira. O segundo turno é quase um plebiscito. Nas eleições nacionais houve uma predominância da centro- direita. A esquerda, nós do Partido dos Trabalhadores, estamos num processo de recuperação.
É bom lembrar que, em 2012, nós tivemos 630 prefeituras, depois em 2016 foram 258, em 2020 caímos para 183 e agora estamos retomando, com 253 prefeituras. É um processo de recuperação de um partido que passou pela Lava Jato, o golpe contra a presidenta Dilma, e depois praticamente o banimento do Partido dos Trabalhadores. A gente não podia sair na rua de vermelho ou exibir nossas preferências partidárias por conta de uma repressão que tava muito grande. Então o partido está cada vez mais ativo e num processo de recuperação e de alinhamento com o eleitor e com a sociedade brasileira. Penso que temos um bom futuro pela frente.
Sul21: É comum os governos eleitos fazerem um esforço nos primeiros meses, os tradicionais 100 primeiros dias. Têm algumas medidas que o senhor já planeja para o começo do governo?
Marroni: Não trabalho com esse determinismo dos 100 primeiros dias. A minha prioridade é o primeiro dia até o último dia do governo. Claro que temos questões emergenciais, como a questão da zeladoria da cidade, o acúmulo de lixo, a drenagem urbana da cidade está em péssimas condições… então o tema da zeladoria, das ruas não pavimentadas onde o ônibus não está nem conseguindo circular, essas são as nossas prioridades dos primeiros dias. Estamos já preparando, na transição, o reforço dos contratos e da prestação de serviços e, de imediato, começar um mutirão para que a gente possa colocar a cidade em dia, pelo menos na zeladoria.
E também apresentar ao governo federal nossos programas e projetos, como no sistema de saúde, a questão de ter mais duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que é um compromisso de campanha, buscar os recursos para que a gente possa vencer as filas de cirurgias e especialidades. Pelotas é uma cidade que tem uma boa estrutura de saúde, de formação de mão de obra, duas faculdades de medicina, três de enfermagem, várias clínicas e hospitais, então não se justifica que nosso povo esteja sofrendo tanto com o tema da saúde.
Tem ainda a questão da matrícula para janeiro, temos hoje mil crianças que procuraram a pré-escola e não conseguiram vagas. Esses são os temas mais imediatos, da zeladoria, saúde e educação.

Sul21: As novas UPAs foram um dos temas mais discutidos na campanha, o que falta para destravar e viabilizar essas construções?
Marroni: Falta apresentar o projeto e reivindicar as duas UPAS, que são programas do governo federal que estão à disposição. A Prefeitura optou por outro caminho, mas nós precisamos do pronto atendimento no posto de saúde. É importante que a gente tenha médicos, medicamentos, tenha toda a atenção básica. O pronto atendimento é para quando a pessoa tem um problema, a qualquer hora do dia e da noite e tem ali uma porta aberta e, além do pronto atendimento, tem os exames de sangue, o raio-x… a pessoa sai dali bem encaminhada.
Se não tiver isso, acaba que a pessoa chega no Pronto Socorro, não é caso de emergência, volta para casa, a situação se agrava, tem que esperar o médico… O pronto atendimento é uma questão imediata que vamos encaminhar o projeto e queremos tratar de construir essas UPAS e botar em funcionamento.
Sul21: E como resolver a questão da falta de vagas na educação infantil?
Marroni: As duas escolas de educação infantil estão destinadas para nossa cidade. Então é fazer a licitação e arregaçar as mangas. Enquanto isso vamos ter que procurar vagas nas escolas privadas. O certo é que as crianças não podem esperar e não podem ficar sem matrícula.
Sul21: Como está a situação financeira da Prefeitura de Pelotas que o senhor vai encontrar?
Marroni: É uma situação difícil porque a economia da cidade não vem crescendo. O orçamento, evidentemente, não dá conta das demandas sociais e nós vamos procurar compensar isso com recursos do governo federal.
Sul21: No contexto dos eventos climáticos extremos, como o senhor planeja reforçar o sistema de proteção contra enchente de Pelotas, considerando que a cidade também foi bastante atingida pelo evento que afetou o Rio Grande do Sul em maio?
Marroni: É uma questão urgente e que está em andamento porque a Prefeitura já cadastrou alguns projetos, mas vamos precisar de um novo projeto porque esse sistema que temos aqui foi construído na década de 1970 junto com o sistema de proteção de Porto Alegre e hoje a ciência está nos dizendo que os novos eventos climáticos e as novas cotas de inundação serão de até 5 metros. Nosso sistema de proteção hoje é de três metros. Nessa última enchente passou dos três metros e se não fosse a providência dos empresários que se mobilizaram e levantaram a cota, nós teríamos tido uma tragédia muito grande. Não se sabe quando vai acontecer um novo evento climático e nós precisamos estar preparados e ter um novo sistema de proteção.
Nesse tema da proteção, temos outros dois problemas. Um é a Lagoa Mirim, que passa no Canal de São Gonçalo, então a cheia e a chuva que acontece em toda a bacia da Lagoa Mirim, que vem desde o Uruguai até Pelotas, nós não temos nenhum sistema de proteção. E o outro é o Arroio Santa Bárbara, que tem uma barragem de captação de água que fica numa cota acima do bairro Fragata. Essa barragem já foi superada em 2004, quando eu era prefeito, e é um problema que temos que rever e ter um novo sistema de proteção ali. Então não são só os eventos e as cheias que vêm de Porto Alegre, temos aqui duas outras áreas que são bacias grandes e que acabam chegando na nossa cidade.