Educação
|
25 de dezembro de 2024
|
10:29

Após mobilização da comunidade, Rosário do Sul conquista centro de referência do IFSul

Por
Bettina Gehm
bettinagehm@sul21.com.br
Anúncio do centro de referência foi feito na Câmara de Vereadores na última quarta-feira (18). Foto: Divulgação
Anúncio do centro de referência foi feito na Câmara de Vereadores na última quarta-feira (18). Foto: Divulgação

Quando o governo federal anunciou que o Rio Grande do Sul teria cinco novos campi de institutos federais, em março deste ano, a decepção foi grande em Rosário do Sul. Mesmo após uma grande mobilização da comunidade, o município não foi contemplado com um campus. A população logo começou a se articular para que a cidade fosse contemplada na próxima expansão do Ministério da Educação (MEC), mas Rosário do Sul vai ganhar um centro de referência do campus de Santana do Livramento ainda em 2025.

Eliézer Oliveira, docente de Filosofia no campus de Santana do Livramento, explica que um centro de referência é como se fosse uma extensão do campus. Mesmo que o centro ofereça cursos, atividades de ensino, pesquisa e extensão, não tem a autonomia de um campus, proporcionada por uma direção e um orçamento próprios. “É bastante comum, mas não é regra, que os campus comecem como centros de referência. Foi o que aconteceu em Santana do Livramento, que era uma extensão do campus de Bagé”, pontua.

Normalmente, o centro de referência é criado com recursos do próprio instituto, mas atualmente a instituição não tem esse dinheiro – o próprio MEC vai injetar recursos no centro de referência em Rosário do Sul. Além disso, a deputada federal Maria do Rosário (PT) vai destinar uma emenda parlamentar de R$ 1 milhão para o projeto.

“O centro de referência começará no ano que vem, assim que a emenda cair no cofre do IFSul”, comemora o professor Eliézer. “A comissão interna do IFSul está pensando o centro desde o início do processo. Estamos esperando o novo legislativo e executivo assumir para fazer uma nova equipe técnica em Rosário do Sul, que irá trabalhar junto com a equipe do IFSul para ver quais cursos oferecer. Em 2025 já teremos os cursos”.

Para o professor, o apoio do MEC à construção do centro de referência é o “reconhecimento de uma mobilização popular que não se dará por contente enquanto não conquistar o que almeja” – um campus autônomo em Rosário do Sul.

Prestes a completar 150 anos, Rosário do Sul nunca teve algum campus de instituições de ensino superior públicas ou privadas. Em 2022, um grupo de professores e alunos decididos a mudar essa realidade começou uma forte campanha para que a cidade ganhasse um campus do IFSul.

De acordo com Eliézer, esse grupo foi crescendo e ganhou o apoio da sociedade, do Instituto Federal, de membros do governo federal, das cidades vizinhas, de entidades, de artistas e de políticos. “Houve muitas reuniões com variados grupos e diversas temáticas ligadas à conquista do campus. Reuniões em Rosário, Livramento, Porto Alegre, Brasília, Pelotas. Plantamos árvore simbólica na praça central representando o campus do IF que cresce em nosso meio”, relata. “A cidade passou a respirar IF”.

Na última quarta-feira (18), foi realizada uma reunião pública na Câmara de Vereadores de Rosário do Sul para anunciar a criação do centro de referência. O tema foi a Rede Bioma Pampa, que congrega instituições do Brasil e do Uruguai e cuja proposta é aproveitar os professores, técnicos e a infraestrutura dos campi para transformar a realidade do Pampa.

Na ocasião, o coordenador da rede e professor da Universidade Tecnológica do Uruguai (Utec), Marcelo Ubal, reforçou: “faz falta um campus em Rosário do Sul”. O mapa da localização dos campi de instituições de ensino da Fronteira Oeste do RS mostra que o município é um vácuo em meio a diversas cidades com a presença de universidades.

Por isso a frustração quando a cidade deixou de ser contemplada na expansão dos institutos federais anunciada em março. Conforme Eliézer, isso aconteceu porque a definição dos locais não foi do MEC, que havia acompanhado todo o processo, mas sim da Casa Civil, que usou diferentes critérios.

A comunidade vê Rosário do Sul como um potencial polo acadêmico. Por um lado, porque já produziu vários talentos: “Oliveira Silveira, um dos criadores do Dia da Consciência Negra, é rosariense. Ele quase não conseguiu sair da cidade para estudar. Quantos Oliveira Silveira já perdemos, em termos de talento, que ficam confinados num município de 40 mil habitantes e que não têm como sair da cidade para estudar?”, questiona o professor. “A maior motivação é a necessidade da população”.

Por outro lado, o município também tem muito a oferecer por ser o que Eliézer chama de “entroncamento do Mercosul”: um ponto estratégico. “Toda via terrestre do Mercosul passa por Rosário. Não é à toa que portugueses e espanhóis sempre quiseram dominar este território; as empresas têm seus centros de distribuição aqui”.


Leia também