
A mãe de uma aluna da Escola Estadual de Ensino Fundamental Brasília procurou o Sul21 para contar sua versão sobre a denúncia, por parte da instituição de ensino, de que uma professora teria sido vítima de ação abusiva da Brigada Militar. A professora foi conduzida à delegacia na última quinta-feira (29), acusada de maus-tratos contra a aluna em questão, mas a direção da escola diz que houve abuso de poder por parte de polícia ao constranger a docente na frente dos alunos. O pai da aluna é policial militar. Segundo a mãe, a docente estaria humilhando não só sua filha, mas também outros alunos da instituição de ensino. Policiais que fazem parte da Patrulha Escolar teriam sugerido que a professora fosse encaminhada à delegacia após conversa dos pais da aluna com a coordenação da escola naquela quinta-feira.
“Minha filha começou a se mutilar em casa. Nós a levamos ao psicólogo e psiquiatra sem saber o motivo. Até que, na quarta-feira (28), vi uma conversa no celular dela e fiquei sabendo que a professora fazia com que ela ficasse olhando sempre para baixo, dizendo que ‘não ia com a cara’ dela”, relata a mãe.
A mãe compartilhou com a reportagem áudios de outros alunos comentando que a professora vinha tratando os estudantes com deboche. “Ela trata uns mal e outros bem”, afirma uma criança em uma das mensagens.
No dia do ocorrido, a família diz que o diretor da escola começou a realizar postagens em grupos alegando que a aluna estaria mentindo sobre os maus-tratos. Em um dos áudios encaminhados pela mãe, um aluno fala: “Hoje o diretor foi lá na sala e falou que ela estava mentindo, que a professora vai ficar de repouso em casa”. Segundo a direção da escola, a professora está afastada por 15 dias sem condições de trabalhar.
Segundo a mãe, o diretor estaria tentando reverter a situação ao enfatizar que levou a denúncia de abuso de poder por parte da BM à Secretaria da Educação, ao CPERS e à Comissão de Educação na Assembleia Legislativa.
O Sul21 conversou com a mãe de outra aluna, melhor amiga da menina que teria sido maltratada pela professora. “Minha filha presenciou os fatos, fiquei chocada com o assunto. Nos assusta a fúria da professora”, diz.
“Alguns [alunos] falam que ela às vezes se passa com os alunos, chama atenção gritando e com alguns xingamentos”, relata a segunda mãe.
A professora acusada de maus-tratos contra a aluna foi conduzida para a Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) em uma viatura policial, durante o recreio escolar, na frente dos estudantes. Ela foi acusada de estar maltratando uma aluna, filha de um policial militar que faz parte da Patrulha Escolar, mas os responsáveis pela menina não haviam feito reclamações na escola antes da última quinta-feira (29), quando o caso aconteceu.
O CPERS manifestou repúdio ao que considera uma ação abusiva da Brigada Militar. Conforme o sindicato, a professora “foi conduzida de maneira coercitiva, frente aos estudantes, em razão de uma denúncia infundada e sem a devida apuração dos fatos”. Segundo o diretor da escola, Nei Colombo, a professora está em licença saúde por 15 dias, sem condições de trabalhar. O Sul21 teve acesso aos boletins de ocorrência registrados pela professora e pelo pai da aluna.
“Acompanhada da vice-diretora da escola, fui levada ao carro da polícia, na frente de todos os alunos, causando um constrangimento para mim”, relata a professora no registro de ocorrência. “Ao chegar ao Deca, me pediram para esperar na sala de recepção, sem nenhuma outra orientação. Após uma hora de espera, os policiais vieram me avisar que iam me levar de volta para a escola, pois o delegado optou por não me ouvir. De volta à escola, tive que descer do carro, novamente na frente dos alunos, causando outro constrangimento maior”.
O pai da aluna registrou ocorrência informando que ele e a esposa tiveram uma reunião com a coordenação da escola na manhã daquela quinta-feira, sem que nada fosse resolvido – por isso o caso teria sido encaminhado à Deca. Ele alega que a professora trata mal a estudante na frente dos colegas, dizendo que a menina é a única que não entende o conteúdo, por exemplo.
“Dou aulas na escola desde 2021, e nunca tive problemas com alunos. Como é uma escola pequena, há um convívio harmônico. Sempre tive muita proximidade com os alunos e eles sempre se engajaram muito nas minhas propostas de sala de aula. Busco criar um ambiente em que eles se sintam seguros de acertar, de errar, de aprender e de perguntar”, disse a professora ao Sul21.
Procurada, a Seduc informou apenas que a pasta acompanha a situação. A corregedoria da BM não retornou contato da reportagem até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.