
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) apresentou na última segunda-feira (27) o espaço multiprofissional Casa Verônica, que terá o objetivo de efetivar ações da Política de Igualdade de Gênero da Universidade, como o atendimento a vítimas de violência de gênero.
A casa homenageia a ativista Verônica Oliveira, conhecida como Mãe Loira pelas comunidades trans e LGBT de Santa Maria. Verônica foi assassinada a facadas em dezembro de 2019. O espaço que leva o nome dela está sendo instalado na sala 204, aos fundos da Biblioteca Central da UFSM, e deve começar a operar em dois meses.
Integrante do Comitê de Igualdade de Gênero da UFSM, a servidora Bruna L. Denkin foi designada para administrar a Casa Verônica. Ela explica que o espaço multiprofissional foi criada no âmbito da Política Igualdade de Gênero da UFSM, que estabelece diretrizes para a promoção da igualdade de gênero dentro da universidade. Entre as ações pensadas para efetivação da política estão a criação do comitê de igualdade de gênero — com o objetivo de pensar, planejar e propor ações — e um espaço multiprofissional, que viria a ser a Casa Verônica.
A política de gênero da UFSM é estruturada em três eixos: educativo, responsabilização e assistência. Com relação ao primeiro eixo, o objetivo é que a Casa seja um espaço de realização de cursos, palestras, oficinais e de promoção de discussão relacionadas à temática de gênero.
No eixo da responsabilização, a proposta é que Casa auxilie as estruturas internas da UFSM, como a ouvidoria, a dar prosseguimento aos casos de denúncia de violência de gênero. “Não vai ser um setor de apuração, de investigação, de responsabilização, mas pode participar e trabalhar junto desses outros serviços da instituição, mais especificamente a ouvidoria, que hoje é a porta da entrada para processos em relação à violência do gênero”, explica a administradora da Casa.
Bruna avalia, contudo, que o principal papel da Casa é contribuir para o eixo de assistência. “É um espaço onde se pensou em oferecer um acolhimento, um apoio, orientação jurídica e psicossocial para pessoas em situação de violência de gênero. Mas não só isso, a gente sabe que as questões de gênero também envolvem a questão da saúde mental, muitas vezes nos colocam numa situação de vulnerabilidade, nem sempre estando relacionadas diretamente a um caso concreto de violência. Uma mulher ou uma pessoa que engravida, que se torna mãe ou que passa pelo período do puerpério, viver a academia a coloca numa situação que pode ser delicada. Então, a gente pensa que esse espaço possa oferecer ações de apoio e de suporte para essas pessoas”, diz.

Inicialmente, o nome proposto para o espaço era Casa Frida Kahlo, mas houve uma mobilização da comunidade para que uma personalidade brasileira fosse escolhida. A enquete aberta para escolha do nome recebeu mais de 1,5 mil votos, com 40% deles para que a homenageada fosse Mãe Verônica.
Mulher trans e ativista, Mãe Verônica era uma referência da comunidade LGBT de Santa Maria. Entre outras ações, ela mantinha uma pensão que funcionava como casa de passagem e acolhia pessoas LGBTs e mulheres em situação de vulnerabilidade. Além disso, também tinha projetos sociais com crianças de comunidades da cidade.

“Ela é uma referência aqui e teve um movimento para que o nome dela fosse escolhido. As pessoas que conviviam com ela se movimentaram, o que foi muito legal de ver. “É muito importante ver essa apropriação do espaço e essa ação para que o nome dela fosse reconhecido”, avalia Bruna. “A gente entende que o nome dela foi levado por tudo que ela fez em vida, então a nossa ideia é trabalhar com esses debates e com atividades de preservação da memória dela para que seja lembrada pela sua trajetória em vida”, complementa.
Além de dar nome ao espaço, Mãe Verônica também receberá um memorial fotográfico permanente na UFSM. Bruna conta que estão sendo arrecadadas imagens dela e, inclusive, solicita que pessoas que tenham fotografias com Verônica entrem em contato pelo e-mail casaveronica.pre@ufsm.br para enviar as imagens.
Bruna é a única servidora da UFSM que atuará na Casa Verônica, mas, devido a uma emenda parlamentar de autoria da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL), a instituição obteve recursos para contratar, por ao menos dois anos, três profissionais das áreas de Psicologia, Assistência Social e Direito.
Bruna explica que os profissionais ainda estão em fase de contratação via Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e que está sendo feito um trabalho de análise dos perfis. “Precisam ser pessoas qualificadas e com afinidade temática com as questões de gênero. A gente sabe que nas nossas formações tradicionais ainda pouco se vê as questões de gênero na faculdade, então a gente precisa investigar que esse profissional tenha um percurso teórico e prático para essas demandas”, diz.
A administradora da Casa Verônica destaca ainda que, para além das atividades que serão realizadas no âmbito da comunidade acadêmica, o espaço está aberto para parcerias e propostas de ações que possam torná-la um espaço de encontro, de fortalecimento e de resistência. “É onde a gente precisa se juntar com os nossos iguais para seguir adiante. A política é uma grande conquista da universidade e queremos que todos, todes e todas possam se apropriar dela”, diz.
