
A sexta-feira (11) foi de decepção para os estudantes indígenas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que reivindicam a construção de uma casa do estudante própria. A reunião que havia sido acordada com a vice-reitora da UFRGS, Patrícia Helena Pranke, e com o Procurador do Município de Porto Alegre, Roberto Silva da Rocha, acabou não ocorrendo e isso frustrou o grupo.
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Estudante de Direito, Viviane Belini diz que a UFRGS deveria ter organizado o encontro e não cumpriu o combinado no dia anterior com os indígenas. O objetivo da reunião era discutir as possibilidades de imóveis desocupados da Prefeitura e que poderiam abrigar a futura Casa do Estudante Indígena.
“A UFRGS não fez o possível. Fez esse ‘empurra’, não só ela, o Município também deu uma recuada”, afirma Viviane. Segundo a estudante do 7º semestre de Direito, a Prefeitura quer que a universidade tome a dianteira na articulação do tema.
Desde o último domingo (6), estudantes indígenas ocuparam um prédio abandonado próximo à universidade para chamar a atenção sobre as difíceis condições por eles enfrentada na atual Casa do Estudante Universitário, sofrendo com preconceitos e com a dificuldade de assimilação de sua cultura pelos outros alunos.
“As questões nossas são sempre tratadas com menor importância, sem comprometimento”, lamenta a estudante. Para ela, o episódio se alinha com o modo como os povos indígenas são tratados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e a UFRGS é reflexo desse cenário nacional.
A estudante de Direito ainda lembra do ato de racismo que houve essa semana na Casa do Estudante Universitário, quando uma indígena encontrou um cacho de banana pendurado na porta do seu quarto. “É muito ruim quando acontece isso e ainda mais num momento de luta nosso. Acaba sendo mais doloroso.”
Angélica Kaingang, estudante de mestrado em Política Social e Serviço Social, avalia que os dois lados, UFRGS e Prefeitura, estão se omitindo. Ela lembra que o governo municipal inicialmente se mostrou aberto ao diálogo e interessado em resolver o problema, inclusive mencionando a possibilidade de doação de algum imóvel fora de uso.
“Hoje íamos falar com o Procurador, que tinha se mostrado aberto, mas acabou recuando. A gente fica sem resposta, sem saber quem está mesmo recuando”, explicou.
Após a frustração da sexta-feira, os estudantes indígenas marcaram reunião para a próxima terça-feira (15) com o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública para que os órgãos possam intermediar o diálogo junto à UFRGS e ao governo municipal.
“Não vamos desistir da nossa luta”, enfatiza Viviane, reforçando que o grupo permanecerá os próximos dias no prédio ocupado. O imóvel pertence à Prefeitura de Porto Alegre e abrigou no passado a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de Porto Alegre. Posteriormente, foi cedido para a UFRGS para abrigar um polo de tecnologia, mantendo ainda em sua estrutura uma placa que diz “Rua da Inovação”.
Atualmente, está completamente degradado, sem portas, com as janelas quebradas, laterais pichadas e em condições insalubres. Ainda assim, logo após a ocupação, agentes da Polícia Federal e da Guarda Municipal estiveram no local para remover os estudantes. Após um acordo, o grupo conseguiu o direito de permanecer ocupando um espaço no primeiro andar do imóvel.
O Sul21 ainda não conseguiu o posicionamento da universidade e da Prefeitura sobre o tema e, assim que obtiver uma resposta, será incluída na reportagem.