Educação
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21 de julho de 2021
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17:23

Servidores denunciam desmonte em secretaria de relações internacionais da UFRGS

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

No último dia 7 de julho, a equipe da Secretaria de Relações Internacionais (Relinter) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) divulgou um relatório (confira a íntegra ao final) em que denuncia o “desmonte” do setor, que passou a fazer parte da Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais (Proir) com a reforma administrativa promovida pela Reitoria que assumiu a direção da universidade em setembro passado.

Tamyres Filgueira, coordenadora geral do Sindicato dos Técnicos-Administrativos da UFRGS (Assufrgs-Sindicato) e integrante do Conselho Universitário da instituição (Consun), afirma que a entidade iniciou uma campanha de denúncia sobre o desmonte. “Foi de uma forma totalmente autoritária, onde não teve nenhuma diálogo com o setor por parte da gestão. E pior ainda, essa secretaria agora passou a ser um setor dentro da Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais (Proir), que foi criada naquele ato de reforma administrativa que não foi autorizado ou debatido pelo Consun. Ou seja, essa pró-reitoria não deveria nem existir, foi mais uma medida autoritária dessa gestão”, diz.

O documento afirma que, em 21 de setembro de 2020, dia da posse do reitor Carlos André Bulhões, o então secretário de Relações Internacionais da UFRGS, Nicolas Bruno Maillard, foi exonerado junto com a sua vice, Emilse Maria Agostini Martini. Acrescenta que, no dia seguinte, antes que os substitutos fossem nomeados, a equipe recebeu notificação por Whatsapp informando que deveria liberar imediatamente as duas salas que ocupava no sexto andar da Reitoria para dar lugar à recém-criada Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais (Proir).

“Um dos servidores da RELINTER foi convocado por telefone a ir presencialmente à Reitoria para encaixotar às pressas o que estava nos armários, incluindo arquivos da RELINTER, documentos oficiais e objetos pessoais das três servidoras que trabalhavam nas salas, uma delas em licença-maternidade. A PROIR apenas ordenou que a sala fosse desocupada e não providenciou um local para a reinstalação dos móveis (mesas, cadeiras, armários), computadores, material de expediente, arquivos e documentos, assim como não deu tempo para providenciarmos caixas para a mudança, que acabaram sendo trazidas de casa por outra servidora. Enquanto um servidor da Relinter encaixotava o material, um assessor e o Pró-reitor da PROIR pressionavam a todo momento, solicitando agilidade na desocupação da sala”, diz o documento.

O relatório aponta que, até o início de julho nove meses após as mudanças administrativas, a questão do espaço físico ainda não foi solucionada. “Os servidores da RELINTER continuam sem sala e sem mesa, enquanto os servidores que têm suas mesas no DEMOB [Departamento de Mobilidade] tiveram que empilhar os móveis e materiais excedentes do jeito que foi possível”, diz o documento.

Tamyres questiona a falta de diálogo com os servidores sobre as mudanças na Relinter e diz que, inclusive, muitos ficaram sabendo da mudança por meio do Diário Oficial. Ela pontua que o servidor que ocupava a chefia da Relinter não foi informado da extinção da secretaria e da sua exoneração do cargo, tendo tomado conhecimento apenas pelo Diário Oficial. “A Reitoria não faz questão nenhuma de manter o diálogo com os servidores”, afirma.

Para ela, a mudança é prejudicial pois representa uma perda de autonomia, não apenas para o setor, mas para a universidade. “A Relinter toca vários projetos em relações internacionais com as universidades e tem certa autonomia em relação a isso. A partir do momento em que entra nessa pró-reitoria de Inovação e Relações Institucionais, sempre vai estar subordinada à Proir. Nesse sentido, é ruim, é uma pró-reitoria que nem deveria existir e agora mudou o seu status de fluxo de trabalho dentro da universidade. E pela forma também como feita toda essa mudança, sem um diálogo para acontecer”, diz.

Segundo o relatório, desde a mudança, os servidores ainda esperam receber instruções para a manutenção ou alteração de políticas internacionais adotadas pela universidade. “Apesar da indiferença com que a RELINTER vem sendo tratada, enquanto técnicos administrativos e ‘arquivo permanente’ das atividades do setor, temos tentado manter um mínimo de normalidade, prezando pela manutenção das redes e programas que estavam funcionando até setembro de 2020”, diz o documento, que acrescenta ainda que, apesar do alerta por parte dos servidores, a universidade estava com o pagamento atrasado de associações para a cooperação internacional.

Tamyres afirma ainda que vai levar a pauta para o próximo encontro do Consun, que deve se reunir no próximo dia 30 de julho, bem como mobilizar setores da universidade contra o alegado desmonte. “Se o reitor não voltar atrás, nós vamos tomar outras providências, como mobilizar a comunidade universitária para que tenha uma pressão sobre a Reitoria”, diz.

Pró-Reitor de Inovação e Relações Institucionais da UFRGS, o professor Geraldo Pereira Jotz afirma que a Relinter não foi extinta, mas reposicionada junto à Proir para “dar maior infraestrutura, agilidade, apoio e transparência nas questões institucionais e internacionais”.

“A atual secretária de Relações Internacionais é a professora Carla Andréa Delatorre, da Faculdade de Agronomia da UFRGS. Tanto com ela quanto com a sua equipe, a Reitoria tem mantido diálogo aberto com atenção total aos temas internacionais. Qualquer adequação administrativa ou mudanças em cargos de chefia são da competência legal do reitor, sempre dentro das regras estabelecidas pela Universidade”, diz.

Jotz afirma que a atual Reitoria reconhece a importância da Relinter e por isso manteve 50% dos seus servidores com funções gratificadas. Ele destaca ainda que o compromisso da gestão da universidade com as questões internacionais também pode ser comprovado pelo salto de cinco posições da UFRGS no ranking latinoamericano da edição de 2021 do Times Higher Education (THE) — da 13ª para a 8ª posição.

“Cabe ressaltar que as ‘perspectivas internacionais’ fazem parte dos critérios avaliados, incluindo ainda o ensino, as pesquisas, as citações e a renda gerada com a transferência de tecnologia produzida dentro da universidade”, afirma Jotz.

A respeito dos equipamentos, Jotz diz que o espaço para as atividades da Relinter foi ampliado recentemente. “Não recebemos nenhuma demanda sobre computadores sem uso. Todas as demandas que são trazidas à Reitoria são avaliadas para que seja dado andamento”, diz.

O pró-reitor afirma ainda que a Reitoria segue aberta para o diálogo a respeito de todos os temas importantes para a Universidade.


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