
A trajetória do cartunista Rafael Corrêa com a esclerose múltipla chega às telas do cinema em Memórias de um Esclerosado, documentário que estreia no dia 8 de maio em Porto Alegre, com sessões na Sala Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mário Quintana e na Cinemateca Capitólio. O Sul21 conversou com os diretores da obra, Rafael e Thais Fernandes.
Diagnosticado em 2010, Rafael transformou a experiência com a esclerose múltipla, uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central, em quadrinhos autobiográficos. No processo de entender a doença, passou a compartilhar nas publicações as descobertas e as experiências com a enfermidade. A ideia do filme nasceu desse trabalho.
“Assim que comecei a publicar os quadrinhos, a Thais me mandou uma mensagem: ‘Vamos fazer um filme sobre isso’. E eu topei na hora”, lembra Rafael. A parceria, no entanto, se consolidaria ao longo de uma década de produção, marcada por desafios financeiros e criativos comuns do cinema brasileiro.
Thais, documentarista, e Rafael já haviam colaborado anteriormente em equipes de projetos, cada um atuando em sua área. Mas foi em 2015 que passaram a trabalhar, de fato, lado a lado. A cineasta destaca o tempo como um fator decisivo para o desenvolvimento da produção. “A gente foi fazendo muito aos poucos, a gente foi entendendo coisas que foram entrando no meio do caminho”, diz.
“Eu acho que essa demora de fazer cinema no Brasil tem uma vantagem que é ir amadurecendo o trabalho. Eu acho que se a gente fizesse lá em 2015, 2016, talvez ele não ficasse tão maduro, tão potente como ficou agora”, complementa Rafael.

Para Rafael, que além de dirigir também assina o roteiro e atua no filme, a adaptação de sua história pessoal dos quadrinhos para o cinema foi um dos principais desafios. “Quando eu faço o quadrinho, eu trabalho sozinho. O desenhista de quadrinho é o diretor. Já trabalhar no cinema é saber trabalhar no coletivo. Então, tem muitas coisas que foram mais difíceis para mim, exatamente por ter essa vivência do trabalho solitário”, relata.
Assim como nos quadrinhos de Rafael, o documentário aborda a relação com a doença mantendo um tom de humor. Para Thais, ainda existe uma certa barreira do pudor quando o cinema trata doenças com leveza, mas o documentário consegue rompê-la. “Nesse sentido, é muito legal o que o filme faz, porque ele permite enxergar que a pessoa não é a doença dela. A gente não é uma coisa só. E também, a pessoa se sente representada nesse lugar de poder rir de si, porque isso também é a vida”, diz.
Com uma linguagem que mistura diferentes formatos, o longa costura gravações originais do documentário com vídeos caseiros e animações, em um diálogo entre as visões dos dois diretores. “A ideia era fazer essa mistura de linguagem. Até porque a Thais é mais do documental e eu queria essa parte do desenho animado, da ficção”, explica Rafael.
Antes de chegar aos cinemas, a produção já percorreu festivais e coleciona prêmios. O documentário ganhou o prêmio de melhor longa-metragem pelo júri oficial e popular na 28ª edição do Cine PE. O filme também foi premiado com melhor roteiro, trilha sonora e ator coadjuvante, para Rafael Corrêa. Além disso, levou os prêmios de roteiro, montagem, desenho de som e trilha musical no 52º Festival de Cinema de Gramado.
A diretora Thais destaca a importância de ter o documentário selecionado para participar desses festivais. “A gente entende que essa questão de qualidade é muito subjetiva. Então, tem muita gente fazendo coisas boas que não entram em lugar nenhum. A gente ter conseguido estrear num festival super importante que é o Cine PE, ter espaço num festival de Gramado também, é muito massa. Então eu acho um super privilégio a gente ter conseguido entrar nesses lugares”, diz.
Ao avaliarem a recepção do público, os diretores afirmam sentir que cumpriram seu papel. “A cada sessão que a gente faz o pessoal lota as salas e tem uma recepção muito gostosa, assim, de dever cumprido, que a gente fez um bom trabalho”, conta Rafael.