Cultura
|
23 de novembro de 2024
|
08:11

Festa da Raça mistura cultura, fé e samba na Vila Maria da Conceição

Por
Bettina Gehm
bettinagehm@sul21.com.br
Festa da Raça nos anos 1990. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Festa da Raça nos anos 1990. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Na Vila Maria da Conceição, zona leste de Porto Alegre, a comunidade se reúne neste sábado (23) para mais uma edição da Festa da Raça. O evento, celebrado desde os anos 1980, une música e celebrações católicas que se misturam às tradições religiosas de matriz africana. Entre 500 e 800 pessoas são esperadas no Campo do Vermelhão, onde a festa acontece a partir das 15h. O Sul21 teve acesso a fotos antigas de edições da festa que ocorreram na década de 1990.

O líder comunitário Paulo Francisco Silva, mais conhecido como Paulinho, explica que a Vila Maria da Conceição foi formada por negros retirados do centro da cidade nas décadas de 1950 e 1960. Na época, a região era chamada Morro do Hospício por causa do Hospital Psiquiátrico São Pedro; mais tarde, virou Morro da Maria Degolada. Por isso, as celebrações afro-religiosas sempre estiveram presentes entre os moradores. A mistura com o catolicismo, no entanto, já fica à mostra no nome da Vila, homenagem à padroeira da comunidade e santa da igreja católica.

“Aqui, a raiz do povo sempre foi da cultura afrodescendente. Estava presente o samba, a dança, e já havia alguns blocos de samba que depois passaram a ser escolas”, afirma. A Academia Samba Puro é um desses grupos. Mais recentemente, os grupos de pagode Tempero do Morro e Inovaí se projetam para fora da vila, “levando a cultura do morro para além da comunidade”, nas palavras de Paulinho.

 

Festa da Raça nos anos 1990. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Já as celebrações católicas são atribuídas à Pastoral da Criança, com grande influência na Vila. Paulinho relata que a interlocução com as religiões africanas se deu através do Frei Luis Carlos Susin. Ele coordena o Conselho Pastoral, um grupo formado por mulheres. Cada uma delas lidera uma das cinco capelas da igreja católica presentes na comunidade. “Quem participa dos centros de matriz africana também comparece às celebrações da Pastoral”, diz o líder comunitário.

Uma dessas capelas é a de Santa Bakhita, uma santa da igreja católica que nasceu no Sudão e foi escravizada ainda jovem. A religião celebra o dia da santa em 8 de fevereiro. Na Vila Maria da Conceição, entretanto, a data foi adiantada para 18 de novembro, dia da inauguração da capela. “Ficou dia 18 porque também é na semana da Consciência Negra. A festa é realizada na encruzilhada da João do Rio com a Barão do Amazonas”, afirma Paulinho.

 

Festa da Raça nos anos 1990. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

A Festa da Raça já teve patrocínio da Prefeitura. Paulinho conta que, nessa época, artistas como Zeca Pagodinho chegaram a se apresentar no evento. Na década de 2010, entretanto, o evento teve que deixar de ser realizado: “Havia problemas na comunidade em função da violência e do tráfico. A festa parou por alguns anos para não colocar a vida das pessoas em risco”, diz o líder comunitário. Depois, veio a pandemia.

Foi há três anos que a Pastoral da comunidade, com apoio do deputado Matheus Gomes (PSOL), retomou o evento. Agora, a música fica por conta de artistas que se apresentam de forma voluntária, como a rapper Negra Jaque, grupos de samba e de pagode da comunidade. Com o esforço dos líderes comunitários, a Festa da Raça resistiu durante os últimos anos e terá mais uma edição em 2024. grupos de samba e pagode da comunidade. fechava com a bateria da samba puro.

“Há novamente a possibilidade de a comunidade se encontrar no Campo do Vermelhão com mais segurança. Com mais paz e alegria, trazendo a raiz da comunidade, que é o samba e o encontro das famílias”, comemora Paulinho. “A importância da festa é a união, esse espaço de encontro comunitário e familiar”.

 

Festa da Raça nos anos 1990. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Leia também