Cultura
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12 de outubro de 2024
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09:19

Festival gratuito exalta potência do cinema negro de 17 a 20 de outubro

Por
Bettina Gehm
bettinagehm@sul21.com.br
Curta-metragem
Curta-metragem "Deixa" participa da mostra. Foto: Divulgação

De 17 a 20 de outubro, a Casa de Cultura Mario Quintana sedia o Festival Cinema Negro em Ação. Realizada pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), a quinta edição do evento traz como novidades um laboratório de consultoria para cineastas negros e homenagens a personalidades importantes do cinema nacional, além das Mostras Especial e Competitiva. A abertura do festival terá um show do rapper Zudizilla. O evento é gratuito.

“Estar chegando ao quinto ano de festival é uma vitória coletiva. É importante demarcar que vai ser um festival duradouro, que vai ter outras edições”, comemora a curadora-geral do evento, Kaya Rodrigues. “Aqui no sul, a gente faz muitas coisas pela primeira vez, mas a continuidade é difícil, principalmente para grupos marginalizados. Temos dificuldade de perpetuar essas iniciativas, por não ter respaldo da estrutura social”, explica.

Por isso, uma das novidades em 2024 é o lançamento do Sopapo Lab: uma encubadora de projetos audiovisuais voltada para realizadores negros de todo o Brasil. “A ideia é que sempre tenha um tutor para fazer a consultoria desses projetos a fim de que eles possam entrar no mercado, para que os realizadores consigam entender como se inserir. Espera-se que o Sopapo Lab ocorra também fora do festival”, diz Kaya. 

A consultoria será ministrada pelo showrunner e roteirista Marton Olympio, que foi indicado ao Emmy Awards 2024 e que traz no currículo filmes e séries em parceria com plataformas como Paramount e Globoplay.

Marton também fará uma masterclass para o público em geral, na qual falará sobre a sua experiência na criação da série “Anderson Spider Silva” e de outras obras suas. Será no dia 18 de outubro, às 17h30, na Cinemateca Paulo Amorim, com entrada franca. Confira a programação completa ao final do texto.

A Mostra Especial do festival será composta por produções selecionadas pela curadoria do evento. O festival conta também com uma mostra competitiva que premiará projetos em diferentes categorias: longa-metragem, curta-metragem, videoclipe e videoarte. O material será exibido na Cinemateca Paulo Amorim, nos canais TVE-RS e Prime Box Brasil e na plataforma Todes Play. O processo de seleção teve como pré-requisito que as produções fossem realizadas por pessoas negras ou contassem com protagonismo negro em sua criação.

“Pela primeira vez, vamos construir uma exposição de videoartes”, adianta Kaya. A exposição será no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), situado na CCMQ. A abertura da instalação acontecerá em uma vernissage realizada em parceria com o evento Cultura no Antropoceno, que trará uma performance da artista contemporânea e produtora cultural Fayola Ferreira.

O evento terá ainda parceria com a festa Bronx, um dos principais eventos de cultura negra em Porto Alegre, que será realizada no Jardim Lutzenberger. Os videoclipes participantes da mostra serão exibidos durante a festa, que também é uma celebração pelos cinco anos de festival.

“D’Áfrika” concorre na categoria videoclipe. Foto: Reprodução/Youtube

A curadora explica a importância do destaque dado a essas produções: “Os videoclipes e videoartes acabam sendo um lugar de inserção das pessoas negras. Queremos aproximar essa trajetória plural da negritude e celebrar isso”.

De acordo com Kaya, os realizadores negros do cinema geralmente não passam por uma trajetória tradicional. “Não necessariamente eles vão fazer uma faculdade de cinema e adentrar o mercado. No Estado, existe apenas uma universidade pública com o curso de cinema. O restante são pagas e com mensalidade acima de R$ 3 mil. Isso dá um recorte de quem está produzindo cinema. Essa necessidade de fazer um caminho mais autodidata também traz riquezas”, afirma.

Desde a primeira edição, o Festival entrega premiações a cineastas da Mostra Competitiva e ao homenageado do ano. Neste ano o prêmio passa a se chamar Odilon Lopez, nome de um dos pioneiros do cinema negro no Brasil e no Rio Grande do Sul – apesar de ser mineiro, o cineasta constuiu sua carreira em solo gaúcho.

A obra de Odilon Lopez, agora digitalizada, também vai integrar a mostra do festival. A curadora explica que, pelo fato de as películas originais serem de um material muito delicado, os filmes ficaram quase impossibilitados de serem assistidos por muito tempo. “Foram anos para conseguir restaurar essa obra, que já era muito aclamada”, destaca Kaya.

A agraciada com a estatueta, criada pelo artista visual Augusto Alves Vargas, será a roteirista e diretora Renata Martins, premiada em âmbito nacional e internacional. Ela tem trajetória no cinema independente e produziu conteúdos para televisão, trabalhando atualmente como roteirista na Rede Globo e construindo narrativas fortes que se destacam pelo tom crítico e pela sensibilidade, mostrando retratos contemporâneos do povo brasileiro.

Cineasta Renata Martins será premiada no festival. Foto: Arquivo pessoal/Instagram

A trajetória de Renata também será celebrada com uma sessão de leitura dramática, na qual trechos de um de seus roteiros mais impactantes, “Levante”, serão interpretados por dois grupos de teatro negro do Rio Grande do Sul, Pretagô e Espiralar Encruza, contando com direção de Gaby Farias.

“Fazer cinema no Rio Grande do Sul, enquanto pessoa negra, é um desafio. Historicamente, é muito difícil as narrativas negras gaúchas passarem do Estado”, reforça Kaya.

O intuito do festival que ocorre na CCMQ é fazer o inverso: trazer realizadores de todo o país para o estado. Também há uma categoria específica de premiação para cineastas gaúchos. “A ideia é trazer visibilidade pro cinema que está sendo feito aqui, valorizar os profissionais que são desvalorizados por estarem fora do eixo e por serem negros”, afirma a curadora.

17 de Outubro – Quinta-feira

Auditório Luís Cosme, 4o andar
9h Blackworking | atividade formativa presencial para realizadores negros
11h Workshop de Distribuição Audiovisual com Uilton Oliveira | Parceria com APAN 

Cinemateca Paulo Amorim – Sala Eduardo Hirtz
14h Mostra Competitiva Longa-Metragem: Menina Mulher de Pele Preta, de Renato Cândido de Lima e Bárbara Sabrina Silva Magalhanis | SP (140min)
18h30 Mostra Especial: Um É Pouco Dois É Bom de Odilon Lopez  (97min)

Travessa dos Cataventos 

20h Cerimônia de Abertura V Cinema Negro em Ação
20h30 Show com Zudizilla

18 de Outubro – Sexta-feir

Auditório Luís Cosme, 4o andar
9h Sopapo LAB: Consultoria com Marton Olympio

Cinemateca Paulo Amorim – Sala Eduardo Hirtz
10h30 Mostra Competitiva Curtas-Metragens:
Fabiana Moraes: Brilho e Combate, de Barretinho, DAFB | PE, RJ e SP (25min)
Caluim, de Marcos Alexandre | BA (11min)
Pedagogias Da Navalha: Se A Palavra É Um Feitiço, Minha Língua É Uma Encruzilhada, de Colle Christine, Alma Flora e Tiana Santos | RJ (15min)
Malunga, de Gal Souza | SP (17min)

14h Mostra Competitiva Longa-Metragem: Tranca Rua & Seus Caminhos – O Filme, de Luis Ferreirah | RS (100min)

15h35 Mostra Competitiva de Curtas-Metragens:
Meu Amigo Tião, de Elizeu Oliveira | BA (3min)
Deixa, de Mariana Jaspe | RJ (15min)

16h Mostra Especial: Porto dos Mortos de Davi de Oliveira Pinheiro (90min)

Auditório Luís Cosme, 4o andar
17h30 Masterclass com Marton Olympio: Anderson Spider Silva e outras obras 

Cinemateca Paulo Amorim – Sala Eduardo Hirtz
18h30 Mostra Especial: Othelo, O Grande (85 min)

Galeria Xico Stockinger | MACRS, 6o andar
20h Vernissage: Performance Fayola Ferreira | Parceria Antropoceno
21h Mostra Competitiva Videoartes:
Descarrego, de Joana Claude | RJ (10min)
Mar de Dentro, de Lia Letícia | PE e RJ (8min)
Aquele que Não Estava Lá, de Natan Monteiro | PR (4min)
Estrutura Popular Brasileira, de Luis Ferreirah | RS (3min) 

19 de Outubro – Sábado

Auditório Luís Cosme, 4o andar
9h Sopapo LAB: Consultoria com Marton Olympio

Cinemateca Paulo Amorim – Sala Eduardo Hirtz
14h Mostra Competitiva Longa-Metragem:
Crônicas de Uma Jovem Família Preta, de Davidson D. Candanda | RJ (75 min)
15h15 Mostra Competitiva Curtas-Metragens:
Samuel foi trabalhar, de Janderson Felipe e Lucas Litrento | AL (17min)
Monalisa, de Tainá Lima | MG (17min)
Maré Braba, Pâmela Peregrino | CE (7min)

16h Leitura Dramática: LEVANTE de Renata Martins, com Grupos Espiralar Encruza e Pretagô

18h30 Mostra Especial: Noites Alienígenas (91 min)

Jardim Lutzenberger, 5o andar 

20h Mostra Competitiva: Noite dos Videoclipes
Arquétipo, de Cocoa Mami, Hustla, Leonardo Talayer, Rafaela Giacomelli | RS
D’Áfrika, de Chico Rasta | PI
Sexo Frágil?!, de João Monteiro | RS
Luz na Luz, de Thiago das Mercês | PE
Flor de Mureré, de Marcos Corrêa e Priscila Cobra | SP
Cypher Front e Versa, de Muriel Xavier | MS
Tribunal dos Bichos, de Thamires Coimbra
Capital, de Fykyá Pankararu e Thiago Das Mercês | CE

20 de Outubro – Domingo

Auditório Luís Cosme, 4o andar
9h Sopapo LAB: Consultoria com Marton Olympio

Cinemateca Paulo Amorim – Sala Eduardo Hirtz
14h Mostra Competitiva Longa-Metragem:
Flores do Cerrado, de Cida Reis e Cristiane Lage | MG (60min)
15h Mostra Competitiva Curtas-Metragens:
Emerenciana, de Larissa Nepomuceno | PR (19min)
Te Desperto, de Cameron Venture | SC (11min)
Expresso Parador, de JV Santos | RJ (25min)

16h Mostra Especial: episódio Filhos da Liberdade, episódio Centro Liberdade e curta-metragem O Tempo

17h30 Debate com os diretores convidados Cleverton Borges, Davi Pinheiro, Ellen Rocha e Mariani Ferreira | Mediação: Melissa Arievo) 

Teatro Bruno Kiefer, 6o andar
19h Cerimônia de Premiação e homenagem aRenata Martins


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